Razões não faltariam para torcer o nariz a um filme chamado Uma Aventura Lego: o nome de uma grande empresa no título, como se fosse propaganda, e a desconfiança quanto ao potencial cinematográfico do popular brinquedo de pecinhas são apenas duas delas. A boa notícia é que a animação dribla as próprias limitações na base da brincadeira esperta, estimulando pequenos e grandes a apostarem na imaginação.

Dirigido por Phil Lord e Christopher Miller, Uma Aventura Lego entra em cartaz nesta sexta-feira em cópias 3D e convencionais – mas prefira assistir ao filme em terceira dimensão, porque os efeitos tornam os personagens de plástico mais reais. Infelizmente, o desenho só está passando em Porto Alegre na versão falada em português, sem as vozes dos dubladores originais – que incluem astros hollywoodianos como Will Ferrell, Liam Neeson, Morgan Freeman, Elizabeth Banks, Channing Tatum e Jonah Hill.

A história começa mostrando a cidade ordenada e feliz de pecinhas encaixadas onde mora Emmet, um operário de construção absolutamente comum e conformado. Nessa espécie de versão colorida do 1984 de George Orwell, todo mundo vive de acordo com as regras impostas pelo Presidente Negócios, que tem o controle de todos os aspectos do cotidiano dos cidadãos-pecinhas. Emmet, porém, descobre acidentalmente um objeto que pode acabar com o domínio do ditador, passando a ser visto por um grupo clandestino de rebeldes como o libertador profetizado pelo sábio Vitruvius. Liderando uma eclética turma de bonecos – que inclui o Batman, um pirata-robô, o Super-Homem, o Gandalf de O Senhor dos Anéis, o Dumbledore de Harry Potter, o presidente Lincoln, Shakespeare e uma garota com habilidades ninja –, o herói por acaso tentará invadir a fortaleza do vilão e salvar o universo Lego da destruição. Para isso, ele terá que deixar de lado os manuais de instrução e investir na criatividade e no improviso.

O primeiro acerto de Uma Aventura Lego é reproduzir em computação gráfica a textura de plástico das pecinhas – inclusive com os arranhões e os desgastes de manuseio – e as restrições dos movimentos meio robóticos. No entanto, o grande mérito do filme é mesmo o roteiro inteligente, recheado de piadas com referências à cultura pop – lembrando os títulos da série Toy Story – e com uma surpresa narrativa no final, que reforça a mensagem de incentivo à fantasia e à interação entre pais e filhos.

Claro, Uma Aventura Lego ajuda a marca a vender mais produtos – entretanto, o recado desse comercial de longa-metragem vai muito além do mero incentivo ao consumo.