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Itapema FM  | 05/02/2014 09h51min

Com famosos no elenco, filmes como "Quando Eu Era Vivo" e "Isolados" dão visibilidade ao cinema fantástico nacional

Gênero pouco valorizado no Brasil abriga realizadores apaixonados que trabalham à margem de leis de incentivo e patrocínios

Marcelo Perrone  |  marcelo.perrone@zerohora.com.br

O cinema fantástico sobrevive no Brasil do esforço de realizadores abnegados e raramente sai das sombras para ocupar o circuito comercial.

Quando Eu Era Vivo, thriller psicológico estrelado por Antonio Fagundes e pela cantora Sandy, conseguiu esta visibilidade com o aval da crítica. Mas ainda parece ser longo o caminho para que os filmes nacionais de terror, ficção científica e fantasia de qualidade não sejam casos isolados a cada temporada, e sim exemplos de uma cinematografia diversificada.

Com direção de Marco Dutra (do premiado Trabalhar Cansa), Quando Eu Era Vivo estreou na sexta-feira passada nas principais capitais do país.

— É um filme que pode abrir espaço e surpreender o mercado – diz Rodrigo Teixeira, produtor do longa. – Assim como amadurecemos na produção de filmes de ação, nas biografias e nas comédias, pode ocorrer também com o horror.

Teixeira produziu filmes como O Abismo Prateado, Heleno e o americano Frances Ha. Apontando o aclamado O Som ao Redor (2012), de Kleber Mendonça Filho, como marco zero de uma nova onda de valorização do gênero no país, o produtor identifica um interesse maior de diretores e atores pelos filmes de suspense e horror.

— Nomes famosos no elenco ajudam — afirma Teixeira. – Os bons atores querem fugir da mesmice, têm interesse por boas histórias. O Marco Dutra é exemplo de um bom diretor apaixonado pelo gênero.

Com estreia prevista para 15 de agosto, Isolados, de Tomas Portella, mostra Bruno Gagliasso e Regiane Alves como um casal em retiro bucólico que se vê cercado por serial killers. Entre outros projetos anunciados e em andamento, estão dois ligados a Teixeira: a produção do próximo longa de Marco Dutra, explorando o universo dos lobisomens (o diretor também planeja um com vampiros), e, como coprodutor, A Sombra do Pai, de Gabriela Amaral, sobre menina que usa poderes paranormais para ressuscitar sua mãe morta.

Trilhando o caminho da total independência, sabedor de que filmes de terror no Brasil assustam patrocinadores e costumam ser ignorados pelos editais das leis de incentivo, o cineasta capixaba Rodrigo Aragão é apontado pelos aficionados como o grande expoente do gênero no país hoje, ao lado do veterano José Mojica Marins, o eterno Zé do Caixão.

Autor de filmes que circulam por festivais no Brasil e no Exterior, Aragão conseguiu levar seu mais recente longa, Mar Negro, aos cinemas de cidades como Vitória, Belo Horizonte e Goiânia. Em breve, chega ao Rio e a São Paulo e, mais adiante, a Porto Alegre, cidade onde a violenta produção que combina zumbis com criaturas medonhas teve sua primeira sessão pública, no Fantaspoa 2013, referencial evento dedicado ao cinema fantástico.

— Terror é um gênero difícil de se fazer, precisa saber como manipular as emoções da plateia – destaca Aragão. – O mercado é promissor, mas falta muita coisa. O público ainda vê o gênero com desconfiança. Encarnação do Demônio (2008), do Mojica, é um grande filme que pouca gente viu. Sem nenhum patrocínio e nem lei de incentivo, eu consegui chegar aos cinemas. É um circuito pequeno, mas é bom ver o filme projetado na tela grande, com som 5.1.

Aragão tem como característica explorar temas do folclore nacional.

— O Brasil tem de aproveitar os elementos fantásticos de sua cultura popular, que são muito fortes na tradição oral. Por influência do Monteiro Lobato, esses elementos ficaram associados ao universo infantil. Mas a imagem de um saci correndo pela mata pode ser bem assustadora. As pessoas no Exterior ficam curiosas. É o tipo de filme que só nós podemos fazer, sem copiar o que os outros fazem.

O mercado do horror

A presença de atores conhecidos pode ajudar a dar visibilidade ao cinema fantástico no Brasil. Mas, como destaca o crítico de cinema e especialista no gênero Cristian Verardi, isso não basta se a obra não tiver consistência:

– Quanto mais esse tipo de produção for realizada no país, gradualmente maior será a aceitação. O gênero horror é uma lacuna no mercado brasileiro que exibidores e distribuidores ainda não aprenderam como preencher.

Verardi destaca o potencial mercadológico do trabalho do paranaense Paulo Biscaia Filho:

– Me surpreende o fato de seu excelente longa Nervo Craniano Zero não ter chegado às salas comerciais.

Ele chama a atenção também para os paulistas Kapel Furman, Raphael Borghi e Armando Fonseca, do filme de zumbis Desalmados – O Vírus, em processo de captação de recursos.

– Pena que o descaso com o gênero faça com que talentos como Dennison Ramalho (Amor Só de Mãe, Ninjas), precisem investir no mercado estrangeiro. Aos poucos, o gênero vai se fortalecendo. Ainda teremos uma cena nacional bem interessante dedicada ao horror – diz Verardi, lembrando que o premiado Kleber Mendonça Filho, de O Som ao Redor, investirá no horror em seu próximo filme, Bacurau.

Diretor de Porto dos Mortos, filme apocalíptico rodado em Porto Alegre que circulou por dezenas de festivais no Brasil e no Exterior, Davi de Oliveira Pinheiro prepara dois projetos de ficção científica: o curta Tudo que Resta, já filmado, e o longa Vista para o Mar. Na opinião dele, a exibição nos cinemas para filmes pequenos é um luxo, cabendo ao realizado buscar janelas em novas plataformas — Porto dos Mortos foi lançado no circuito apenas na Capital.

— O filme foi adquirido pelo Netflix para exibição na América Latina e nos EUA. Financeiramente, foi mais compensador do que a exibição nos cinemas – afirma Pinheiro, selecionado para participar da Berlinale Talents 2014, evento do Festival de Berlim voltado à capacitação de jovens realizadores.


Rodado na Capital, Porto dos Mortos foi adquirido pelo Netflix

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