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Itapema FM  | 07/01/2014 15h

A Vida Secreta de Walter Mitty

Filme dirigido e estrelado por Ben Stiller divide opiniões de público e crítica

Daniel Feix

Título controverso do cinema na virada de ano, A Vida Secreta de Walter Mitty ganhou fãs e detratores na mesma proporção. Foi incensado e desprezado na imprensa especializada norte-americana e nas crônicas de jornais (o crítico da Empire adorou; Kyle Smith, do New York Post, detestou). O que nem sempre, é preciso dizer, constitui uma contradição. Depende da forma como se olha para o filme. É que o longa dirigido e protagonizado por Ben Stiller sofre de um transtorno semelhante à personalidade borderline: está no limite do excesso de emoções, para um lado ou para o outro.

Força um tipo de sensibilidade, o que aos olhos de uns pode soar como artificial. Ao mesmo tempo, traz aquela boa sensação de fuga da realidade no que esta tem de mais limitado e frustrante. Não deixa de ser algo infantil - mas em um sentido oposto à infantilização em voga no cinema adulto de Hollywood. Mitty (Stiller) é um célebre personagem da ficção criado por James Thurber num conto de 1939, antes adaptado por Norman McLeod em O Homem de 8 Vidas (1947).

No novo filme, ele assume a função de chefe do arquivo fotográfico das revistas Time e Life. Corre risco de demissão, já que as versões em papel de ambas as publicações estão em vias de extinção. Não que ele precise de motivos para viver no mundo da Lua (houve uma época em que Walter Mitty era sinônimo de gente avoada nos EUA), mas a tensão natural resultante deste momento, somada à atração que passa a sentir por uma colega (Kristen Wiig) e à necessidade de ir atrás de um fotógrafo que viaja pelo mundo (Sean Penn) para buscar um negativo servem de impulso aos seus delírios escapistas.

Talvez, diferentemente do que pensou parte da crítica, associando esta aventura fantástica ao trabalho de Charlie Kaufman (Adaptação, Quero Ser John Malkovich), faça mais sentido pensar em sua jornada como algo entre Forrest Gump (1994) e Amélie Poulain (2001). Quem torceu o nariz vai dizer que a pretensão derruba as boas intenções de Stiller, mas há uma diferença radical entre o cinismo dos primeiros exemplos e uma espécie de exaltação da pureza no caso destes dois últimos.

Talvez seus defeitos sejam ressaltados pela - permitam-me o neologismo - hipsterização da figura de Mitty, que vira quase um super-herói flanando ao som de Arcade Fire e é associado mais de uma vez ao astronauta Major Tom das canções de David Bowie. Pior do que isso é a construção narrativa do filme, cujas viradas e demais movimentos parecem seguir sem qualquer constrangimento os manuais mais básicos de roteiro cinematográfico. Da outra vez que dirigiu um longa de pegada dramática (Caindo na Real, de 1994), Stiller também ficou preso em clichês que evidenciam suas limitações como autor.

Mesmo assim, seu filme se tornou um ícone geracional, tornando-se representante de sentimentos comuns a muitos espectadores. É a história se repetindo quase 20 anos depois. Sem Winona Ryder, mas com uma trilha sonora e um visual ainda mais espetaculares.

Fox / Divulgação

Ben Stiller como Walter Mitty: hipsterização da figura
Foto:  Fox  /  Divulgação


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