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Itapema FM  | 05/01/2014 15h42min

Documentário "Mazzaropi" joga luz sobre trajetória do fenômeno caipira

Filme de Celso Sabadin chega ao DVD sem passar pelo circuito de cinemas

Daniel Feix  |  daniel.feix@zerohora.com.br

Fenômeno histórico do cinema nacional, Amácio Mazzaropi (1912 – 1981) é, em parte, um mistério. A popularidade do comediante era proporcional a sua discrição pessoal: até hoje, pouco se sabe sobre sua intimidade, da homossexualidade à fortuna que acumulou ao longo de quase 40 anos de carreira no cinema.

Ainda que se concentre mais em seu trabalho do que em questões de foro íntimo, o documentário Mazzaropi ajuda a desvendar o homem que, segundo pesquisadores, pode ter vendido 200 milhões de ingressos nos cinemas – em uma época em que o Brasil não tinha 100 milhões de habitantes. Trata-se do primeiro longa dirigido pelo crítico paulista Celso Sabadin. Realizado em 2012, ano do centenário do Jeca, o filme percorreu festivais em 2013 e, por opção da distribuidora Imagem Filmes, acaba de chegar ao mercado de home vídeo sem passar pelo circuito de cinemas.

> Leia mais: "Mazzaropi foi o caipira certo na hora certa", diz diretor

Mazzaropi tem a narrativa estruturada a partir dos depoimentos de quem trabalhou com o comediante, de seu filho adotivo Péricles e de fãs célebres como o apresentador Ratinho e o cantor e compositor Renato Teixeira. Uma enquete nas ruas de São Paulo evidencia a distância entre o artista popular e as novas gerações – "Mazzaropi era coisa dos meus avós", diz uma entrevistada. E há, além disso, pensadores comentando desde a construção antropológica do personagem Jeca, referenciado em Monteiro Lobato, até o muito bem sucedido sistema de produção de filmes que ele concebeu.

Os cineastas Gustavo Dahl e Pio Zamuner e a cantora e apresentadora Hebe Camargo morreram depois de conversar com Sabadin. Hebe, que fez turnê pelo interior com Mazzaropi – ele com show de humor e ela com uma performance musical, tudo transmitido ao vivo pelo rádio (nas Emissoras Reunidas) –, é responsável por um dos melhores depoimentos do filme, ao relatar que o comediante "inventou que estava apaixonado" por ela. Outro causo interessante é contado pelo produtor e biógrafo Paulo Duarte, autor de Mazzaropi – Uma Antologia de Risos (Coleção Aplauso/Imprensa Oficial, 2009). Ele atribui ao astro caipira "um dos testes de câmera mais engraçados já vistos" – quando Mazzaropi foi cooptado pela produtora Vera Cruz a levar suas piadas pela primeira vez ao cinema, no filme Sai da Frente, de 1952.

– Todo o mundo ria sem parar no estúdio – conta Duarte, no filme.

Natural da Grande São Paulo, mas criado em Taubaté, Mazzaropi fez shows humorísticos no circo e em teatros mambembes de variedades antes de estrear na Rádio Tupi, em 1946. Chegou a fazer televisão no início da década de 1950, mas foi com o cinema, nos anos seguintes, que ele cativou multidões.

– Era a época do crescimento industrial da capital paulista, que absorvia milhões de empregados vindos do campo, e que tinham nos seus filmes uma oportunidade de expiar as saudades do universo caipira – comenta Sabadin a ZH, lembrando que o ingresso era barato, o que tornava o cinema uma das principais opções de lazer popular.

De 1952 a 1980, Mazzaropi fez 32 longas. Os primeiros, da Vera Cruz, escritos e produzidos por outros, mas, a partir de Jeca Tatu (1959), totalmente gerenciados por ele próprio, do roteiro à distribuição, o que lhe permitia lucrar mais e, melhor ainda, evitar os desvios de arrecadação tão comuns até então – que inclusive impedem estudos precisos sobre as bilheterias dos filmes no país antes, pelo menos, da década de 1980.

A experiência industrial de produção, vale comparar, foi repetida em menor escala por Teixeirinha no Rio Grande do Sul. Até os relatos de invasões de espectadores aos milhares às salas de cinema são semelhantes – com a diferença de que, no caso de Mazzaropi, o fenômeno se multiplicava, espalhando-se pelo Brasil inteiro.

Seu personagem era sempre o mesmo: um caboclo indolente, conformado e desengonçado, com os dentes cariados e a camisa xadrez fechada até o pescoço. Ao homem por trás dele, no entanto, apesar do preconceito dos bem-nascidos, não faltava astúcia e uma ampla e perspicaz visão de mercado.

MAZZAROPI
De Celso Sabadin
Documentário, Brasil, 2012.
Duração: 97 minutos. Classificação etária: livre.
Disponível apenas em DVD, para locação e venda.

ZERO HORA
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