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Itapema FM  | 16/12/2013 09h36min

Albert Camus, autor de "O Estrangeiro", se faz atual após centenário

Escritor francês, ganhador do Prêmio Nobel, usou a palavra como arma no combate a todas as formas de opressão

"A verdade é misteriosa e fugidia, e deve ser continuamente conquistada. A liberdade é perigosa e dura de ser vivida, ao mesmo tempo em que é inebriante. Precisamos caminhar ao encontro destes dois alvos, trabalhosamente, mas sem parar, sabendo de antemão que poderemos ser derrotados durante o longo caminho."

Palavras do escritor francês, nascido na Argélia, Albert Camus (1913-1960) em seu discurso de aceitação do Prêmio Nobel de Literatura de 1957. A França celebrou, em novembro, o centenário de nascimento deste vigoroso autor, que usou a palavra como arma no combate a todas as formas de opressão.

O pai de Camus morreu na batalha do Marne, em 1914, durante a 1ª Guerra Mundial. Sua mãe, então, voltou a Argel, cidade que foi cenário da infância e da juventude do escritor, na casa da avó materna.

Tempos duros e de extrema pobreza, que quase o levaram a abandonar os estudos. Mas, com o apoio de um professor, Jean Grenier, a quem, posteriormente, dedicaria uma de suas obras mais conhecidas – O Homem Revoltado (1951) –, ele conseguiu graduar-se em Filosofia. O neoplatonismo foi o tema da dissertação de mestrado, e Santo Agostinho, o da tese de doutorado.

A tuberculose que contraiu logo depois de formado, o impediu de ser professor, como desejara, e também o fez meditar sobre a fragilidade humana e a ideia da morte, dois temas recorrentes em sua obra filosófica e literária, que é marcante. Jornalista, ele foi um dos fundadores do jornal Alger Républicain, em 1938, e escreveu também para os jornais Combat, durante a 2ª Guerra Mundial, e Paris Soir. Camus voltou à França em 1939, pouco antes da ocupação nazista, e participou da resistência aos invasores.

Em 1942, o reconhecimento com a publicação do romance O Estrangeiro, seu livro mais lido, traduzido e considerado por muitos críticos uma obra-prima. No mesmo ano, lança O Mito de Sísifo, um ensaio sobre o absurdo. Romances, ensaios, contos, peças teatrais. Mais de 30 livros. A fragilidade e o absurdo da condição humana são temas que perpassam quase todas as suas páginas. Desde O Avesso e o Direito (1937) até O Primeiro Homem, romance inacabado, publicado postumamente em 1994.

Um registro interessante: em 1949, Camus visitou o Brasil, onde conheceu e conviveu por alguns dias com Oswald de Andrade. O escritor morreu em 1960 em um acidente de carro. O discurso de aceitação do Prêmio Nobel, em 1957, curto e certeiro, é uma pequena obra-prima, que sintetiza a sua visão do mundo. Vale outra citação para encerrar:

"Sem dúvida, toda geração acredita estar destinada a reformar o mundo. A minha, porém, sabe que não poderá fazê-lo. É possível que sua tarefa seja maior ainda. Esta tarefa é a de impedir que o mundo desmorone.

Herdeira de uma história corrupta de revoluções falidas, de tecnologias loucas, de deuses mortos e de ideologias enfraquecidas, em que poderes medíocres têm a possibilidade de destruir tudo, mas não conseguem mais convencer ninguém, em que a inteligência se aviltou ao ponto de servir ao ódio e à opressão, esta geração teve que restaurar, dentro e em volta dela mesma, e a partir de suas próprias negações, um pouco daquilo que constitui a dignidade de viver e de morrer.

Frente a um mundo ameaçado de desintegração, em que nossos grandes inquisidores poderiam implantar os reinos da morte, ela sabe que precisaria, numa louca corrida contra o tempo, restaurar entre as nações uma paz que não seja a da servidão, reconciliando mais uma vez o trabalho e a cultura, e reconstruir com todos os homens uma nova arca da aliança". Pensemos nisso.

DIÁRIO CATARINENSE
divulgação / Divulgação

Camus deixou uma herança de mais de 30 livros, entre eles, "O Estrangeiro"
Foto:  divulgação  /  Divulgação


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