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Itapema FM  | 06/12/2013 16h01min

Rubem Fonseca marca 50 anos de carreira com novo livro

Autor de 88 anos lança "Amálgama", coletânea de 34 narrativas curtas

Carlos André Moreira  |  carlos.moreira@zerohora.com.br

Há anos que Rubem Fonseca deixou de ser o profeta do apocalipse social brasileiro. Agora, o autor de 88 anos prefere ser o comentarista sarcástico da desagregação nacional, como se vê nos 34 contos de Amálgama, seu novo livro.

Apesar de o título sugerir um material físsil tornado uma massa homogênea, Amálgama na verdade se aproxima muito de um exercício literário cubista que lança mão de variações temáticas e formais de obsessões antigas do autor. O Filho, o primeiro conto, narra o conflito entre uma mãe e sua filha grávida, ambas interessadas em vender o bebê recém-nascido. A última narrativa, intitulada singelamente Foda-se, versa sobre um homem impotente que tenta redescobrir sua virilidade exercendo o desapego. Entre um e outra, as histórias, a maioria muito breves, desfilam situações que se repetem: crianças nascidas com deformidades; rejeições paternas e maternas; seduções grotescas; vinganças que parecem um pastiche sarcástico de histórias de folhetim. E, claro, anões e mulheres deslumbrantes “de corpo perfeito”, como mais de uma delas é descrita pelos protagonistas masculinos do autor – muitos deles também variações de uma mesma voz a percorrer o livro.

Rubem Fonseca foi um artista profético ao longo de uma carreira que completou meio século neste ano (seu primeiro livro, Os Prisioneiros, é de 1963). Suas obras trouxeram para a literatura brasileira não apenas a temática urbana expressa em uma linguagem urgente, mas flagraram a ascensão de uma violência disseminada e impessoal, consequência do crescimento das cidades em um país como o Brasil. Em um processo que talvez fosse inevitável, a profecia perdeu força depois de realizada. A violência e a crueldade que Fonseca elaborou como ficção nos anos 1960 e 1970 – motivo de choque e censura – hoje são o cenário contemporâneo no qual vivemos, o que talvez ajude a explicar a irregularidade de muitas de suas obras recentes, embora o autor não tenha propriamente se desviado de seus temas.

Amálgama consegue ser um conjunto mais coeso do que muitas das coletâneas de contos publicadas por Fonseca neste breve século 21, como Ela e Outras Mulheres (2006) e Axilas e Outras Histórias Indecorosas (2011). Em Amálgama, ainda estão lá a brutalidade nas relações e a violência de ares cada vez mais grotescos, mas o que parece ser a tônica do novo trabalho é justamente uma indistinção de seus motivos e de uma alternativa. Se contos clássicos como Passeio Noturno e O Cobrador traziam embutidos em si uma dimensão de denúncia social, a obra mais recente de Fonseca põe a denúncia em segundo plano: não há o que denunciar quando o pior já aconteceu. Ele exercita, então, o riso amargo e o sarcasmo ao contemplar o bem e o mal – a amalgamados ambos.

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