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Itapema FM  | 27/11/2013 05h04min

Repórter especial da Globo lança seu primeiro livro nesta quarta em Joinville

Marcelo Canellas fará o lançamento e bate-papo com os leitores às 19 horas no piso térreo do Shopping Mueller

Ele saiu do interior do Rio Grande do Sul para contar histórias pelo Brasil afora. Protagonizou a cena do repórter que teve o rosto e a câmera pintados de verde e amarelo por uma manifestante na cobertura do impeachment de Fernando Collor, em 1992.

Domador exímio das palavras, sobretudo na linguagem literária e sensível diante de realidades amargas, o repórter especial da Globo Marcelo Canellas chega nesta quarta a Joinville para o lançamento de seu primeiro livro, Províncias - Crônicas da Alma Interiorana. O evento será às 19 horas, na praça de eventos do Shopping Mueller.

Com mais de 25 anos de carreira como repórter televisivo, Marcelo escreve há 11 anos para o jornal Diário de Santa Maria, onde publicou mais de 600 crônicas e, somente agora, concede aos leitores sua primeira obra concreta — um compilado de 70 textos sobre as arestas de suas reportagens pelo interior do País.

Se você também questionou o por quê da demora na publicação desta obra jornalística, Canellas esclarece:

— Porque um livro, como representação simbólica da criatividade e do conhecimento, sempre me pareceu um objeto sagrado. E sempre me reconheci, evidentemente, muito mais como repórter do que como escritor.

Canellas nasceu em Passo Fundo (RS), mas foi em Santa Maria (RS) que deu os primeiros passos e construiu a carreira de jornalista. Isso justifica a escolha da primeira crônica do livro — O Janeiro em que o Brasil me perdeu — que aborda o incêndio da boate Kiss e é a que mais lhe emociona, escrita na manhã do fatídico 27 de janeiro. A convivência urbana, a solidariedade e o retrato do interior em confronto com o individualismo, cenários das andanças feitas por Marcelo em 25 anos de peregrinação são revelados de uma maneira diferente em cada página.

A inclusão de Joinville no roteiro de lançamento do jornalista foi uma escolha pontual. Apesar de ter lançado nos grandes centros — como São Paulo, Recife, Ribeirão Preto e Brasília — Marcelo acredita que, embora o livro retrate cenários do Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste, do ponto de vista cultural, há uma identidade com o interior do sul.

— Usei de minha percepção de cronista para alargar o significado de algum fato que está no contexto da notícia, mas não é notícia. Algo que eu vi durante uma de minhas viagens para fazer uma reportagem, mas que não tem interesse jornalístico, embora tenha interesse literário. Isso é muito comum. Aliás, um não assunto pode ser um excelente assunto para crônica.

E esse parece ser apenas o início da dupla jornada de Marcelo. Enquanto ainda não há o tilintar dos dedos para uma nova edição literária, Canellas não esconde sua vocação para o jornalismo quando afirma que nunca abandonou o desejo de mudar o mundo - vontade clássica de quem deseja ingressar nessa profissão tão antiga quanto encantadora.

::Serviço::

O quê: lançamento do livro Províncias - Crônicas da Alma Interiorana.
Quando: nesta quarta, às 19 horas.
Onde: praça de eventos, no piso térreo do Shopping Mueller.

Assista ao vídeo de lançamento do livro:




Confira a entrevista com o jornalista Marcelo Canellas:

Anexo - Províncias - crônicas da alma interiorana retrata somente histórias de sua terra natal? Qual a essência dos textos interioranos?
Marcelo - Províncias fala muito de Santa Maria, claro, mas também do interior do Brasil em geral. Eu nasci em Passo Fundo, mas fui para Santa Maria quando ainda era bebê de colo. Passei toda a infância e a adolescência lá, me formei em jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria, lá moram meus pais, uma irmã, sobrinhos e amigos muito queridos. Então minha ligação com a cidade é muito forte. Eu tive certeza de que devia publicar um livro com essa temática depois do incêndio da boate Kiss. A crônica que abre o livro fala, justamente, sobre a tragédia. Mas o interior que aparece no livro também é aquele da relação ancestral que todos temos com a ideia de que é possível conviver em comunidade. O grande geógrafo Milton Santos diz que "a cidade é o espaço do acontecer solidário". É essa ambiência urbana que permite a partilha, a solidariedade e a convivência que encontrei nos mais variados lugares que visitei ao longo de 25 anos de andanças pelo interior do Brasil. Esse interiorzão das cadeiras na calçada, em que se pode deixar a porta de casa aberta à noite, convive com um novo interior que reproduz um pouco do individualismo da urbanização. Essas contradições estão em muitas das crônicas do meu livro.

Anexo - As viagens e coberturas pelo Brasil e pelo mundo acentuaram sua ligação com Santa Maria , com o interior?
Marcelo - Sim, talvez o fato de eu viajar tanto, estando cada semana em um lugar diferente, tenha aprofundado o meu desejo de pertencimento e de enraizamento. Sinto como se Santa Maria continuasse sendo a minha cidade, mesmo morando fora de lá já há 26 anos.

Existe alguma diferença para você, conhecido nacionalmente pelo jornalismo televisivo assumir uma linguagem um pouco mais informal - e até íntima - com o leitor, por meio da crônica?
Marcelo - Claro. O consumidor de notícia é totalmente diferente do leitor de crônica. Pode até ser a mesma pessoa, mas na hora que lê uma crônica, o sujeito quer se emocionar, ou sorrir, ou refletir, ou se identificar com alguma tirada literária. O desafio de cronista é seduzi-lo com uma carpintaria narrativa que aguce a sua subjetividade e o sensibilize de alguma forma.

Anexo - Suas crônicas foram feitas em paralelo ao seu trabalho na TV . Elas eram - e são - uma maneira de oxigenar ou revelar os bastidores da sua profissão?
Marcelo - Creio que algumas das crônicas do livro são, sim, derivações de reportagens. Ou seja, usei de minha percepção de cronista para alargar o significado de algum fato que está no contexto da notícia, mas não é notícia. Algo que eu vi durante uma de minhas viagens para fazer uma reportagem, mas que não tem interesse jornalístico, embora tenha interesse literário. Isso é muito comum.Aliás, um não assunto pode ser um excelente assunto para crônica.

Anexo - Joinville tem uma instituição de ensino que oferece há 15 anos o curso de Comunicação Social - Jornalismo e certamente muitos alunos estarão no evento para prestigiá-lo. Aproveitando a oportunidade, o que você acredita que é essencial na carreira de um jovem jornalista, especialmente na denominada "era digital"?
Marcelo - Os jovens jornalistas têm um impressionante arsenal tecnológico à disposição como ferramenta de trabalho. Mas o grande desafio de qualquer era, mesmo o da era digital, é saber contar bem uma história. Minha ideia, inclusive, é a de discutir as diferenças e aproximações narrativas entre o jornalismo e a literatura, entre a crônica e a reportagem. Terei enorme prazer em discutir esses temas durante o lançamento do meu livro, com aqueles que se interessarem por esse fascinante debate.

Anexo - Além do reconhecimento massivo que você conquistou por ser um repórter global, é também uma referência para muitos repórteres por utilizar a linguagem literária. Você tem consciência disso?
Marcelo - Eu nunca refleti seriamente sobre isso até ser procurado por integrantes da academia, professores e estudantes de pós-graduação, que classificam como jornalismo literário o tipo de reportagem que faço na TV. É claro que fico tremendamente lisonjeado. É muito bom poder usar, no jornalismo, as boas ferramentas da literatura. Mas também é bom ter cautela, e saber que jornalismo e literatura são formas de conhecimento e apreensão da realidade totalmente distintas. Cada uma tem as suas leis, que devem ser respeitadas.

Anexo - Dizem que o jornalista é um eterno contador de histórias. Alguns, inclusive, conseguem promover na sociedade o reflexo de mudanças na realidade. Você concorda? Ou se enquadra nesse título?
Marcelo - Eu nunca abandonei o desejo de mudar o mundo. Foi o que me fez querer ser repórter. Mas também aprendi que o repórter deve ter humildade intelectual para saber que o jornalismo pode ajudar, mas quem muda mesmo o mundo é a sociedade politicamente organizada. O nosso papel é mostrar aquilo que é injusto, desigual e inaceitável para que uma realidade perversa possa, de fato, mudar.

A NOTÍCIA
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