Itapema FM | 20/11/2013 18h22min
Ao contrário do que se via nos anos 1980, quando os Yuppies queriam enriquecer, os jovens da Geração Y mesclam uma dose de objetivos materiais com valores bem mais tradicionais. Querem viajar, sim, mas também formar uma família. Entendem que conforto e dinheiro caminham de mãos dadas, mas não sacrificariam o bem-estar em busca de um porquinho mais cheio. Demoram mais a sair de casa, são mais dependentes do que foram seus pais, mas nada disso é problema, principalmente se eles puderem compartilhar tudo que pensam, fazem e conquistam.
Tudo isso foi percebido na pesquisa “O Perfil do Jovem Brasileiro”, realizada pelo Núcleo de Tendências e Pesquisa do Espaço Experiência da Famecos, da PUC-RS, com 1350 jovens entre 18 e 34 anos, em 16 áreas metropolitanas das cinco regiões do Brasil, entre maio e julho deste ano. A origem do estudo foi outra pesquisa, feita no início de 2013, com jovens de Porto Alegre e região. Os dois trabalhos tiveram a coordenação do professor da PUC Ilton Teitelbaum.
> Confira aqui a pesquisa O Perfil do Jovem Brasileiro
– O resultado desta foi a confirmação do que já era observado, mas agora em âmbito nacional: a chamada Geração Y não quer dinheiro, mas sim gostar do que faz. O seu patrimônio são as experiências, e sua demonstração de riqueza talvez seja compartilhar isso – observa ele.
A análise dos dados fez com que Teitelbaum desse um novo nome aos jovens dessa faixa etária: a Geração Compartilhamento.
– Antes, existia de maneira muito forte o conceito de ‘o que eu tenho você não tem’ e ‘o que eu sei, você que lute para saber’. E, agora, a gente tem um conceito muito diferente, que é ‘o que eu tenho você também pode ter’ e ‘tá aqui a barbada’ – exemplifica o professor.
JOVEM POR MAIS TEMPO
Em algum momento as gerações se encontram. A diferença de idade de uma criança de oito anos para um adolescente de 13 ainda é grande, mas os mesmos cinco anos que separam um jovem de 23 para um adulto de 28 anos já não parecem uma fronteira intransponível.
– Ao passar de certa idade, todo mundo é meio parecido. Talvez agora a gente fique jovem durante mais tempo. O mundo perdoa um pouco mais a inconsequência, que antes era aos 20, depois aos 25, e hoje é aos 35 anos – opina Ilton Teitelbaum.
Segundo a pesquisa encabeçada por ele, seis em cada 10 jovens ainda moram com os pais ou responsáveis. Sair de casa realmente não parece ser uma preocupação, assim como se sustentar sozinho: a maioria se considera totalmente dependente financeiramente.
Vinda do interior, e morando sozinha – com o irmão mais novo –, Ana Carolina Lopes, 18 anos, estuda na PUC-RS e conta com a ajuda dos pais para bancar as despesas.
– Sempre rola uma conversa antes de algum gasto extra, que esteja além do normal. E a maior parte do dinheiro acaba indo em alimentação mesmo – garante ela, confirmando o resultado da pesquisa: produtos para encher a barriga ocupam a maior parte do orçamento mensal dos jovens.
Assim como Ana Carolina, a maioria dos entrevistados trabalha e estuda ao mesmo tempo. E um dos principais objetivos é ser feliz no trabalho. A diferença com relação às outras gerações é que, agora, nada é para sempre.
– Ninguém quer mais fazer carreira em um lugar apenas e, por isso, troca de emprego sem grandes medos, na busca por algo que goste mais – explica Teitelbaum.
Mas, é claro, a grana também tem seu valor. Um terço deles quer ganhar entre R$ 8 mil e R$ 15 mil na vida adulta. E pelo menos um a cada quatro quer mais de R$ 20 mil na conta bancária todo mês. E tudo isso em no máximo 10 anos. O valor, segundo os próprios jovens, é o bastante para garantir o conforto.
BUSCANDO INDICAÇÃO
Todos sabem – e a pesquisa confirma – que a internet é a grande fonte de informação da gurizada. Afinal, mais de 95% dos entrevistados se conectam diariamente. E é através dela que 92% deles ficam sabendo novidades, como o lançamento de um novo produto. Mas, antes de comprar, os jovens buscam saber um pouco mais sobre ele, com indicações de conhecidos que já tenham usado o produto ou serviço.
– Essa é mesmo a grande referência hoje: o compartilhamento. Alguém que eu conheço pode dar as informações que eu preciso sobre determinado produto ou lugar – explica Teitelbaum.
E a prática significa mais do que economizar dinheiro. A ideia é economizar tempo. Isso porque, para a maioria dos jovens, existe a noção do tempo comprimido, em que tudo tem que ser rápido e aproveitado ao máximo. O novo jovem tem pressa e pouca paciência, principalmente se desconectado.
– Não existe espaço para ficar parado. Quaisquer cinco minutos são usados para compartilhar, para jogar, para atualizar o status na rede.
E, até por isso, há um aumento visível no uso de dispositivos móveis. A maioria dos jovens entrevistados ainda acessa a internet pelo computador de casa ou notebook, mas já são 30% os que utilizam, também, tablets e smartphones.
PAPAI, MAMÃE, TITIA
Mesmo que não entenda a referência à música dos Titãs (aquela banda que fazia sucesso antes de você nascer), a pesquisa mostra um lado surpreendente dos jovens: quase 40% responderam que formar uma família está entre os sonhos futuros. Desejo que só perde para a vontade de viajar e conhecer o mundo e de ser feliz no trabalho.
– O grande desafio, hoje, talvez seja entender o que é a família para esse grupo de pessoas. Segundo algumas pesquisas que temos feito, existem 18 ou 19 tipos de famílias catalogadas pelo IBGE – diz o professor.
Teitelbaum, que orienta projetos especiais de pesquisa no curso de Publicidade e Propaganda da PUC-RS, tem dois trabalhos sobre o assunto “família” sendo finalizados neste semestre. Eles podem ser o embrião de algo maior, que ajude a explicar e compreender esse desejo dos jovens por algo que, na teoria, está relacionado a uma relação duradoura e estável – características opostas ao que a mesma pesquisa mostra.
Talvez seja mesmo este o estilo do jovem, independente da geração. Uma metamorfose ambulante como cantava Raul Seixas. Ou, para deixar mais próximo da galera, uma walking contradiction, como canta Billie Joe com o Green Day.
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