Após três anos sem uma grande montagem na cidade, a Cia. Ópera de Santa Catarina apresenta Carmen, do francês Georges Bizet. A montagem é tradicional e funciona muito bem para quem nunca assistiu ao gênero, mas o ponto alto é sem dúvida a escolha dos solistas.

Cantores profissionais, de reconhecida capacidade vocal e cênica elevam a qualidade do trabalho, inspiram e trazem a medida na qual se espelhar, tão importante em tempos onde a pressa de chegar atropela o percurso.

Apreciar ópera é apreciar um gênero que homenageia o tempo: leva-se anos no estudo do canto, anos para dominar um instrumento de orquestra, sem mencionar a composição, que requer um músico capaz de escrever com maestria para tão complexo conjunto (coro, solistas, orquestra).

Repete-se um repertório de tempos passados, em instrumentos e vozes sem auxílio de tecnologia, sem amplificação, onde a beleza do som é trabalhada e lapidada em horas diárias de entrega ao estudo, à paciência, à busca do seu melhor.

Tal qual um esportista de alto desempenho se prepara para um grande momento, cantores líricos e instrumentistas se preparam para aqueles minutos onde todo o seu suor faz sentido.

Carmen é uma ópera que opõe a ordem, o dever (o oficial Don José) à liberdade (a sedutora cigana Carmen), em um enredo de amor desesperado, de entrega, de perda, temas clássicos que falam em qualquer idioma, tempo e lugar.

Uma boa ópera é feita de um bom argumento, mas especialmente, de música. Aquela música capaz de conectar-se com o ouvinte sem precisar explicar-se, capaz de levar-nos a outros lugares se assim desejar, ou descrever o amor e a morte numa arcada de violoncelo, como Bizet.

Por isso é possível ouvir Carmen desde 1875, sua estreia em Paris, até hoje, numa ilha dos mares do sul. Por isso, a ópera, e as artes em geral, falam a todas as pessoas, abrem os sentidos, tornando nossa experiência mais rica e nosso horizonte mais amplo.

Bravo à Cia. de Ópera de Santa Catarina, em seus esforços de manter esse gênero na ilha da magia, onde as artes precisam uma dose de mágica para acontecer. Do seu teatro maior até uma lona de circo, é possível sonhar com uma cidade melhor.

Agende-se
O quê: ópera Carmen
Quando: sexta e sábado às 20h; domingo às 19h
Onde: Teatro Ademir Rosa no Centro Integrado de Cultura (Avenida Governador Irineu Bornhausen, 5600, Agronômica, Florianópolis)
Quanto: R$ 50 e R$ 25 (meia) – últimos ingressos à venda na bilheterias do CIC.