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Itapema FM  | 07/11/2013 14h18min

Artistas e pesquisadores escolhem suas obras preferidas na Bienal

Mostra se encerra no domingo, em Porto Alegre

Atualizada em 08/11/2013 às 19h23min Luiza Piffero *  |  luiza.piffero@zerohora.com.br

Mais uma vez, os ventos da Bienal do Mercosul atravessaram Porto Alegre. As cem obras da mostra, em cartaz até domingo, foram pensadas como perturbações atmosféricas, destinadas a impactar as mais de 400 mil pessoas que foram vê-las.

Com orçamento de R$ 12,53 milhões, esta edição trouxe mais de 60 artistas de 26 nacionalidades, sendo 15 deles brasileiros. Quando começou, em setembro, o tema "Se o clima for favorável" sugeria o caráter experimental da proposta curatorial: uma provocação para que os visitantes pensassem as relações entre natureza e cultura, arte e tecnologia. A ênfase recaiu sobre os processos artísticos e as maneiras como os artistas lidam com o imprevisível e os fenômenos naturais.

Partindo do princípio de que uma obra de arte precisa de um "clima favorável" para ganhar visibilidade em determinado momento histórico, a mostra resgatou visionários de outras épocas, como Robert Rauschenberg e Tony Smith, e encomendou obras inéditas a artistas contemporâneos.

– É uma oportunidade para que, principalmente os jovens artistas, tenham um campo de experimentação para comunicar de maneira sofisticada as ideias que investigam – diz a diretora artística e curadora, Sofía Hernández Chong Cuy.

Essa proposta foi impulsionada por projetos como o Máquinas da Imaginação, que uniu artistas, empresas, centros de pesquisa e instituições dispostas a subsidiar processos criativos, e o Island Sessions, que convidou artistas a produzir textos e imagens durante viagens à Ilha das Pedras Brancas, no Guaíba. Essa produção só pode ser encontrada no site do evento (9bienalmercosul.art.br), que se propõe a ser um portal com textos reflexivos e obras.

Sem o Cais do Porto, as mostras se concentraram no Margs, no Memorial do Rio Grande do Sul, no Santander Cultural e na Usina do Gasômetro. Muito se discutiu o número reduzido de obras em relação às outras edições. Mas a curadora defende sua decisão:

– Não foi uma consequência de nada. Foi uma decisão de incluir obras que necessitam de muita reflexão e o encontro com elas demanda muito tempo, pensamento, discussão, concentração.

A exposição, entretanto, é apenas uma parte da Bienal, que inclui ainda um amplo projeto pedagógico. Uma das ações educativas resultou no Rap da Bienal, composto por alunos do EJA da Escola Grande Oriente.

Ouça a música:


Pensando em quem ainda precisa percorrer a 9ª Bienal do Mercosul, o Segundo Caderno convidou artistas e pesquisadores para apontar uma obra imperdível neste último final de semana. Confira:

Circulação

"Ver de pertinho e poder caminhar na instalação de Hans Haacke, Circulação, foi uma das experiências mais emocionantes de que me recordo de ter vivido em exposições. É impossível não se embebedar daquele desenho derramado no chão da Usina!... Penso que mesmo os que não estão familiarizados com a arte contemporânea e com a importância (já histórica) de Haacke se rendem a essa obra que cala o discurso e infla o centro do peito com uma emoção que raramente nos acomete em exposições: a emoção de uma dúzia de linhas majestosas, animadas por um líquido qualquer, bombeado por uma maquineta franciscana. É indiscutivelmente o ponto alto desta Bienal!"
Maria Helena Bernardes, artista,
professora e sócia-diretora da Arena Cursos

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Viajante Engolido pelo espaço

"Destaco a instalação Viajante Engolido pelo Espaço, da artista mineira Cinthia Marcelle, pela ação do acaso que faz pensar um trabalho para além dele mesmo. O grande tapete de ferrugem, exposto no Memorial do RS, pode ser visto como uma pintura monocromática que adere ao chão através de um campo magnético e reage à passagem previsível do tempo que modifica sua tonalidade. Mas o trabalho, durante as noites, é invadido por toda a sorte de insetos e até passarinhos que marcam percursos imprevisíveis de rara beleza sobre a superfície lisa da ferrugem criando um desenho involuntário. O tempo atua novamente como coadjuvante."
Teresa Poester, artista, pesquisadora
e professora do Instituto de Artes

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Musa de lama

"A obra que mais me chamou a atenção nesta edição da Bienal do Mercosul foi Musa de Lama, de Robert Rauschenberg, no Santander Cultural. Esse estado de reação da matéria, expondo sua condição de lama num lamento, como um mantra. Imagino a criação e a instalação de um mecanismo similar no lugar onde o Riacho Ipiranga encontra o Guaíba."
Eduardo Haesbaert, artista

Assista vídeo da obra:

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Crime Perfeito

"Para reforçar o caráter protagonista da arte latino-americana e a ligação com nossa cidade que deve ter a Bienal do Mercosul, considero a obra Crime Perfeito, do equatoriano Anthony Arrobo, uma das mais interessantes. Em exposição no Memorial do RS, trata-se de uma "réplica", modelada e copiada em resina translúcida, de uma pedra que o artista escolheu e que teria sido jogada no Guaíba. Nesse sentido, o trabalho está irreversivelmente relacionado ao contexto porto-alegrense, pois passa a existir somente em função da cidade. Portanto, seria importante que pudesse ficar em Porto Alegre, no acervo da Coleção de Arte Estrangeira do Margs."
José Francisco Alves, doutor em
História da Arte e curador independente

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Bivar – Em busca de um animal que nunca existiu

"Esta edição da Bienal foi a mais complexa e cerebral e, estranhamente, a menos polêmica. Mas Bienal, em meu entender, é isto: polêmica antes de tudo. A arte contemporânea leva o espectador a... pensar, refletir. Mas esta é uma das leituras possíveis do que é dado conhecer, ver. Houve um descuido pela parte dita histórica, e, nesta medida, a grande descoberta é a participação de Fernando Duval exibindo uma particularidade de seu universo artístico no Santander, o Wasthavastahunn. Duval é o artista com mais idade (76 anos) entre os nacionais, e a exibição de sua fábula Bivar conta uma história, uma alegoria com muita profundidade. O público via, lia, admirava, contornava a obra e, em síntese, ela se cumpria: comunicava."
Renato Rosa, marchand e pesquisador

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Tradução da Resina

"Creio que um dos componentes mais interessantes do amplo quadro de atividades propostas pela 9ª Bienal do Mercosul é o programa denominado Máquinas da Imaginação, em que artistas foram convidados a desenvolver projetos em colaboração com empresas e centros de pesquisa. Dentro deste programa, destacaria o trabalho intitulado Tradução da Resina da artista britânica Lucy Skaer. Trabalhando em colaboração com a Celulose Irani, a artista propôs uma intervenção poética na linha de produção da fábrica e transformou em obra de arte parte da resina que a empresa comercializa, por atacado, para diferentes produtores. Transformando sua instalação na mostra em um indício residual da inversão das noções de produto comercial e de objeto artístico, Skaer produziu esculturas em resina de 25 quilogramas destinadas a seguir – e, com isso, também modificar radicalmente – o fluxo habitual de comercialização deste material."
André Severo, 
artista e curador independente9ª Bienal do Mercosul


Foto: Camila Cunha / divulgação indicefoto


> Visitação até domingo, com entrada franca.
> Memorial do Rio Grande do Sul (Rua Sete de Setembro, 1.020). Terça a domingo, das 9h às 19h
> Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (Praça da Alfândega, s/nº). Terça a domingo, das 9h às 19h
> Santander Cultural (Rua Sete de Setembro, 1.028). Terça a domingo, das 9h às 19h; quinta, das 9h às 21h
> Usina do Gasômetro (Av. Presidente João Goulart, 551). Terça a domingo, das 9h às 21h
> Programação completa no site: 9bienalmercosul.art.br

* Fotos: Ronaldo Bernardi/Agência RBS (exceto a última imagem).

SEGUNDO CADERNO
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