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Itapema FM  | 05/11/2013 20h57min

"O Anjo Esmeralda" traz coletânea de contos do americano Don DeLillo

Textos escritos entre 1979 e 2011 mostram outro lado do celebrado romancista

Luiza Piffero  |  luiza.piffero@zerohora.com.br

Os personagens de Don DeLillo não fazem muito mais do que contemplar o que acontece ao seu redor, como se assistissem à vida se desenrolar ao largo deles. Quando encontram alguma coisa ou alguém para se agarrar, o fazem de maneira obsessiva.

Embora os nove contos da coletânea O Anjo Esmeralda cubram mais de três décadas na carreira de Don DeLillo – mais conhecido por romances como Ruído Branco e Submundo – e seus personagens habitem mundos tão diversos quanto o espaço sideral e uma ilha caribenha, eles mantêm esse forte traço em comum. O autor escolhe protagonistas que não estão presos no fluxo cotidiano da cidade e não precisam orientar seus dias pelo relógio: um viajante, um astronauta, um presidiário, um desempregado que passa as suas horas frequentando cinemas.

Desde seus primeiros contos, fica claro que DeLillo, um dos autores norte-americanos mais festejados da atualidade, não estava interessado em histórias com início, meio e fim, mas na fabricação de personagens complexos e narrativas imbuídas de um mistério que cativa sem causar sobressaltos. Por esse motivo, ele presta especial atenção aos diálogos e jamais desperdiça palavras em descrições longas. Prefere a concisão.

Ler um conto seu é desacelerar e sentir a sensação de viver fora da urgência das cidades. Seus personagens têm tempo de sobra para refletir sobre si mesmos ou o que se passa diante deles. Por isso, acabam formulando pensamentos delicados, coisas secretas que um dia todos pensamos sem dar maior importância e, na sua mão, viram um trampolim para questionamentos profundos. Obcecados por essas impressões, distanciam-se da realidade.

Esse desacelerar não quer dizer correr o risco de pegar no sono. O texto de DeLillo alcança um ritmo e é arquitetado de uma forma tal que o leitor é deixado sempre em estado de alerta. Esse traço o rendeu o apelido de "xamã da escola paranoica da ficção americana" e alguns críticos apontam nele o talento para absorver a atmosfera de medo e insegurança que se instalou nos Estados Unidos pós-11 de setembro.

O cuidado com as estruturas dos textos, muito mais dinâmicas do que as histórias, aparece bem em O Corredor. Nesse conto, DeLillo descreve a ação de maneira a colocar o leitor a correr junto do protagonista, que se exercita em um parque, arfando e respirando o mesmo ar, assistindo à paisagem mudar a cada passo. As sensações do personagem são revezadas com as visões fragmentárias do espaço e de um episódio insólito que ele testemunha.

Os personagens de DeLillo passam tanto tempo contemplando o mundo, excluídos, que, tal como escritores, passam a inventar suas próprias versões dele. Nas entrelinhas de cada conto, DeLillo parece sussurrar que, quando o mundo não faz mais sentido, a ficção é a única saída.

Confira trecho do conto "Foice e Martelo":

Quando eu estava no início da adolescência, encontrei a palavra 'fantasmático'. Uma palavra incrível, pensei, e decidi que queria ser fantasmático, uma pessoa que entra e sai de fininho da realidade física. Agora estou aqui, um delírio de febre flutuante, mas cadê o resto, as cercanias densas, a coisa dotada de massa e peso?"

O Anjo Esmeralda, de Don DeLillo
Tradução Paulo Henriques Brito.
Editora Cia. das Letras, 224 páginas, R$ 44.

SEGUNDO CADERNO
Joyce Ravid / Divulgação Cia. das Letras

Mais conhecido pelos romances, DeLillo é um dos mais festejados autores americanos contemporâneos
Foto:  Joyce Ravid  /  Divulgação Cia. das Letras


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