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Itapema FM  | 01/11/2013 15h58min

Relembre as diversas faces de Lou Reed

Confira a seguir as várias facetas do homem de Nova York e as homenagens que lhe foram rendidas

Gustavo Brigatti e Marcelo Perrone

Lewis Allan Reed, o Lou, morreu no último dia 27, em sua casa, em Nova York, onde construiu uma das carreiras mais importantes da história da música. Primeiro com o Velvet Underground, depois como artista solo, Lou Reed especializou-se em dissecar o lado sombrio de sua cidade natal, dando vida a personagens que, de outra forma, o mundo jamais conheceria. Mas, para além de letrista dos desafortunados, Reed experimentou o que pôde dentro da música, influenciando o surgimento de subgêneros musicais e adiantando cenas. Confira a seguir as várias facetas do homem de Nova York e as homenagens que lhe foram rendidas.

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O cronista do submundo

Na segunda metade dos anos 1960, enquanto a era hippie atingia seu auge com o Verão do Amor e pedia por flores nos cabelos em São Francisco, Lou Reed escancarava os subterrâneos de Nova York. Inspiradas na própria vivência e na de amigos, que perambulavam por ruas e becos da maior metrópole do mundo, suas histórias eram um convite para conhecer um universo perigoso e sombrio, bem diferente daquele celebrado pela ripongagem dos compatriotas Byrds e Jimi Hendrix e do rock multicolorido dos ingleses Beatles e Pink Floyd. Reed falava sobre viagens com drogas sintéticas (Heroin), sadomasoquismo (Venus in Furs), viciados (Run Run Run), perda (Pale Blue Eyes), traficantes (I'm Waiting for the Man), prostitutas (Femme Fatale), depressão (Perfect Day) e escrevia a crônica definitiva dos personagens do submundo em Walk on the Wild Side.

Experimental

O experimentalismo musical sempre interessou a Lou Reed, mas foi com o enigmático Metal Machine Music (1975) que a curiosidade virou disco. MMM é composto de apenas quatro faixas que anteciparam subgêneros como o noise e o drone metal, mas é impraticável para a maioria dos ouvintes, incluindo os próprios fãs. Em 2003, Reed decide explorar o poema O Corvo, de Edgar Allan Poe, e lança o álbum temático The Raven. Como que decidido a abandonar a música convencional, grava em 2007 outro álbum instrumental, Hudson River Wind Meditations, que traz, como o próprio nome diz, temas voltados para meditação. No ano seguinte, forma um trio de avant jazz com Laurie Anderson e John Zorn e lança The Stone: Issue Three. Em 2011, reúne-se com os integrantes do Metallica para Lulu, disco conceitual baseado na peça de mesmo nome do alemão Frank Wedekind. Fracasso de crítica e público, foi o último trabalho de Reed.

Figura inspiradora

O músico e produtor Brian Eno lembrou uma famosa máxima ao saber da morte de Lou Reed: "O primeiro disco do Velvet Underground vendeu apenas 10 mil cópias, mas todos que o compraram formaram uma banda". A influência do grupo nos dos dois lados do Oceano Atlântico foi enorme, assim como a de Lou Reed em sua carreira solo. Seu disco Transformer (1972), coproduzido por David Bowie, fez germinar em Nova York um cenário de transgressão que revelaria nomes como New York Dolls, banda expoente do glam rock, Patti Smith, Blondie, Talking Heads e Ramones. Reed era um agregador de talentos. Se sua identificação com Bowie é notória, vale lembrar que foi ele quem abriu as portas nos EUA para o Genesis, grupo progressivo britânico. Reed encantou-se com a figura performática de Peter Gabriel, outro artista que, como ele, fez som e imagem se complementarem para criar uma nova percepção sensorial.

No cinema

Lou Reed mostrou-se pouco em frente às câmeras, fazendo não mais que meia dúzia de aparições no cinema e emprestando sua voz para animações. Talvez o papel de maior destaque tenha sido como o esquisitão sem nome e dado a conselhos espirituosos de Sem Fôlego (1995). Já suas músicas tiveram papel de destaque em centenas de produções desde o final dos anos 1970. A variedade é impressionante, indo de séries clássicas, como Miami Vice, a desenhos animados (Beavis and Butt-Head e Os Simpsons), de filmes de culto (As Idades de Lulu, Trainspotting e Últimos Dias) a bobagens esquecíveis (A Família da Noiva, Legalmente Loira 2 e O Pentelho), de blockbusters (V de Vingança, Rock'n'Rolla e Homens de Preto 3) a indies (Juno e Palermo Shooting). Sem contar as produções voltadas para o universo musical, como Velvet Goldmine, The Doors, Hedwig e Quase Famosos.

Música e arte

No Velvet Underground e na carreira solo, Lou Reed amalgamou seus múltiplos interesses e talentos artísticos em áreas como jornalismo, música, cinema, literatura e artes visuais. Experimentar de tudo para ver no que dá, na vida, no sexo e no processo criativo era seu combustível. Quando o Velvet Underground cruzou com Andy Warhol, Reed sentiu-se plenamente em casa no ambiente fervilhante da Factory, o grande templo da celebração artística e hedonista erguido por Warhol em Nova York em meados dos anos 1960. A icônica capa "da banana" criada pelo guru da pop art para ilustrar o primeiro disco do Velvet simbolizou a famosa parceria. Mas é um equívoco apontar Warhol como "criador" do Velvet. O que ele fez foi apimentar e dar visibilidade a um caldeirão que já fervia e que tinha Reed como seu mais inquieto e criativo alquimista.

Homenagens

As homenagens a Lou Reed tiveram início ainda no domingo, dia de sua morte, em diferentes palcos. Neil Young, Elvis Costello e a banda My Morning Jacket, entre outros, que participavam de um espetáculo beneficente na Califórnia, tocaram Oh! Sweet Nuthin', do Velvet Underground. No mesmo dia, o Pearl Jam fez seu tributo em uma apresentação em Baltimore, com I'm Waiting for the Man, enquanto The Killers, em Las Vegas, mandou ver Pale Blue Eyes, ambas também do Velvet. Na segunda-feira, em Liverpool, o Arctic Monkeys tocou Walk on the Wild Side. No mesmo dia, em plena turnê de divulgação de seu novo disco, Reflektor, o Arcade Fire tocou Satellite of Love e Perfect Day durante apresentação em uma emissora norte-americana. Já os britânicos do Blur homenagearam Reed cantando a mesma Satellite of Love em um show no Chile, na última terça-feira.

SEGUNDO CADERNO
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