Os Rolling Stones há muito tempo sacaram que não é preciso gravar um novo disco para sair em turnê tocando seus antigos sucessos: uma coletânea com duas músicas inéditas basta. Previsto para ser lançado nesta terça-feira, Lightning Bolt mostra que o Pearl Jam não pensa assim. Infelizmente.

Sucessor do político e bem recebido Backspacer (2009), Lightning Bolt abre com uma trinca de prender a respiração: Getaway, Mind Your Manners e My Father’s Son. Três grandes canções de rock, feitas para levantar os estádios que a banda se acostumou a lotar pelo mundo. Mas aí vem Sirens, uma balada digna de integrar qualquer disco de James Blunt, e a coisa desanda. Desanda não: desacelera.

Trocando as guitarras por violões, o Pearl Jam engata um folk rock atrás do outro – que não são ruins, mas estão longe de figurar entre os petardos que se espera do grupo. Swallowed Whole, Sleeping by Myself e Future Days, por exemplo, têm o peso tão diluído que são quase country. Dá para imaginar que Eddie Vedder trocou sua casa de praia no Havaí por um rancho no Texas e decidiu dar outro significado para sua camisa xadrez.

O que resta pende para o experimental, campo em que o Pearl Jam não é necessariamente bem-sucedido ao longo de sua carreira. Mas eles tentam: Pendulum é um experimento gótico, com cordas viajandonas, um corpo estranhíssimo dentro do próprio disco, enquanto Let the Records Play aposta em notas mais escuras, palminhas e batida industrial. Faixa mais pop de Lightning Bolt, Infallible tem as guitarras mais transparentes da história da banda.

Ao final, fica a impressão de que Lightning Bolt é um disco que não aponta para lugar algum – não revisita o passado, não busca elementos para o futuro, não é conservador nem ousado. É só mais um álbum para fãs acrescentarem à sua discografia – e botar o Pearl Jam para fazer o que sabe melhor: shows ao vivo. Tomara que voltem para cá.

LIGHTNING BOLT
Pearl Jam
Monkeywrench, 12 faixas, US$ 10,99 (via iTunes)
Cotação: 2 estrelas (de 5)