Quando Hollywood parodia a si própria sem o providencial senso crítico, o resultado costuma ser, mais do que sem graça, constrangedor. A investida que se vê em É o Fim surpreende pela ousadia com que celebra uma literal brincadeira entre amigos que ralaram juntos e, agora ricos e famosos, preservam o espírito de confraria.

Em cartaz a partir desta sexta, É o Fim marca a estreia como diretor do roteirista e ator Seth Rogen, um dos integrantes da turma de comediantes que despontou no começos dos anos 2000 no seriado Freaks & Geeks, sob a mãos do produtor e cineasta Judd Apatow. Esse clube do Bolinha viria a fazer filmes como O Virgem de 40 anos, Superbad – É Hoje e Ligeiramente Grávidos.

Rogen divide a direção de É o Fim com o chapa Evan Goldberg, que escreveu com ele o roteiro de Superbad. E Rogen vive ele próprio nessa bizarra versão do apocalipse, assim como Jonah Hill, James Franco, Michael Cera, Paul Rudd, Jay Baruchel, Jason Segel e outros figuraças.

Eis que o mundo começa a se tornar um bola de fogo, com bestas vindas do inferno para devorar os humanos durante uma festa de arromba na mansão de James Franco – com Black Sabbath na trilha. A ficha demora a cair em meio à esbórnia, e logo um grupo de sobreviventes começa a ser caçado pelas feras nas ruas.

É o Fim tem seus melhores momentos antes dessa gincana frenética e pirotécnica. E eles surgem nas muitas autorreferências, depreciativas até, que os atores fazem sobre eles mesmos e alguns filmes que estrelaram. Uma das piadas é sobre o fato de esses atores, vivendo eles mesmos, pouco se diferenciarem dos personagens que costumam interpretar – o que pode ser entendido tanto como autenticidade quanto limitação dramatúrgica. Nessa linha, a ponta Michael Cera é impagável, pelo exagero de mostrar o ator com cara de sonso como um drogadão e compulsivo sexual. Outro momento inspirado é o de Jonah Hill possuído pelo demo sendo enfrentado pelos demais com falas de O Exorcista.

Tem ainda uma interessante sátira religiosa: a possibilidade de escapar da chama eterna se acena com a imediata ascensão ao Céu dos bons e puros – não é à toa que Lúcifer começa o fim do mundo por Hollywood. Os rapazes buscam garantir a passagem por meio de uma derradeira atitude redentora. Quem sabe dê para seguir com a festança no Paraíso.

É o fim (This Is the End)

De Evan Goldberg e Seth Rogen.
Com James Franco, Seth Rogen e Jonah Hill.
Comédia, EUA, 2013. Duração: 107minutos. Classificação: 16 anos.
Em cartaz a partir de sexta-feira.
Cotação: 3 estrelas (de 5)