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Itapema FM  | 09/10/2013 14h19min

Mustaine sobre vinda a Porto Alegre: "Nós amamos nossos fãs brasileiros"

Megadeth se apresenta antes do Black Sabbath nesta quarta-feira

Gustavo Foster  |  gustavo.foster@zerohora.com.br

Não é só por conta do Black Sabbath que a noite de hoje é especial para Porto Alegre. Antes de Ozzy Osbourne e sua banda subirem ao palco do estacionamento da Fiergs, uma das grandes bandas de metal da história faz o show de abertura: Megadeth. Com um repertório que deve mesclar músicas do novo álbum, Super Collider, e sucessos de clássicos como Countdown to Extinction e Youthanasia, a banda liderada por Dave Mustaine deve empolgar quem chegar ao local da apresentação um pouquinho mais cedo — o show do Megadeth deve começar às 20h30. Antes, a Hibria faz o show nacional, às 19h30.

Conversamos com o vocalista sobre os bastidores da turnê com o Sabbath, a recepção do novo disco, o repertório da apresentação e as singularidades do público brasileiro. Mustaine diz que o Brasil é um dos países mais apaixonados por música que ele conhece. Confira a entrevista na íntegra:

Zero Hora - Vocês estão vindo para o Brasil com o Black Sabbath, e acabaram de fazer turnê com o Iron Maiden. Como você se sente tocando com duas de suas maiores influências?

Dave Mustaine - Me sinto honrado, estamos orgulhosos. Nós somos da geração seguinte à do Iron Maiden e Black Sabbath, e fico orgulhoso de representar essa geração tão bem a ponto de poder tocar com essas duas bandas. Estou ansioso para sair em turnê e ter bandas jovens tocando conosco, ter essa mesma postura de lendas profissionais. Às vezes, headliners podem ser bastante injustos com as bandas que abrem shows pra elas, tratam como lixo. Nós tentamos abrir nossos eventos de maneira legal, e foi ótimo o tempo que passamos com o Iron Maiden. Foi fantástico!

ZH - Quando fazem turnês com essas bandas, vocês conseguem conversar sobre música e trocar ideias?

Mustaine - Um pouco. Você tem que entender que quando você está nesse nível, a última coisa que você quer fazer é ficar esperando horas num camarim. Estrelas desse nível normalmente vivem suas vidas o máximo que podem a cada dia e, quando é hora de tocar, elas vão e tocam. Nós ficamos bastante tempo com Nicko (McBrain, baterista do Iron Maiden) e com Adrian (Smith, guitarrista da banda). Eu vi Steve (Harris, baixista) um pouco, Bruce (Dickinson, líder do grupo) um pouco, mas foi uma turnê de apenas uma semana, e quando você tem uma turnê tão pequena como essa, é como se fossem apresentações de uma só noite.

ZH - Mas vocês também são gigantes do rock, têm muitos fãs no Brasil. O que esses fãs podem esperar da apresentação em Porto Alegre?

Mustaine - O mesmo show que você veria se o Megadeth fosse headliner. Sem muito distração, o máximo de heavy metal que der para fazer em 55 minutos. E acho que os fãs brasileiros conhecem o Megadeth há anos, nós temos muitas músicas diferentes, podemos mudar o setlist para encaixar com qualquer banda com quem estamos tocando. Temos um excelente setlist planejado para a turnê com o Sabbath.

ZH - Você consegue notar alguma diferença no público brasileiro?

Mustaine - Minha experiência diz que o público brasileiro é muito apaixonado. Muita gente, quando pensa em países, tem sua própria ideia. Quando eu penso no Brasil, naturalmente penso em Carnaval, no Pão de Açúcar, em todos os lutadores de jiu jitsu brasileiros e tudo isso. Mas outra coisa que com certeza vem à minha mente são os rostos dos fãs nos shows, alguns dos sorrisos mais impressionantes que já vi e pessoas curtindo o momento, porque amam a música. E nós amamos nossos fãs brasileiros. Quando estivemos no Brasil no ano passado, tocamos num festival em São Luis e o festival simplesmente desmoronou (o Megadeth era uma das atrações do festival Metal Open Air, que foi cancelado antes do último dia de programação, por desentendimentos entre os organizadores. Grande parte dos shows programados não aconteu, mas algumas bandas — entre elas, o Megadeth — fizeram seus shows, mesmo sem grande parte da estrutura).Eu não sei o que aconteceu, mas a estrutura ficou em ruínas, e nós podíamos ter ido embora. Eles disseram "vocês não precisam tocar, podem ir para casa", e nós dissemos "não, nós não faremos isso, nós queremos tocar". No dia seguinte, estávamos no aeroporto e todo mundo tinha desistido. Mas nós fizemos o que era certo e tocamos o que deu para tocar para os fãs.

ZH - E como está sendo a recepção do novo disco do Megadeth, Super Collider?

Mustaine - O que você vê na internet é só um pequeno reflexo do que o público realmente nos diz, e isso é evidente quando se vê as vendas etc. Ver Super Collider estrear em sexto nos EUA é ótimo. Há gente que gosta de nós e igualmente há gente que não gosta. Se alguém vai à internet e fala algo ruim de um disco ou de uma pessoa, eu tento prestar atenção ao que os fãs dizem, coisas construtivas, questionamentos. Quando pessoas tentam detonar outras bandas, eu tento ver se essas bandas vendem discos, se vendem ingressos. E isso acontece muito com a Gigantour (turnê organizada por Dave Mustaine), porque é bom que pessoas tenham opiniões diferentes, positivas ou negativas. Algumas pessoas vão dizer coisas muito boas e outras pessoas vão dizer coisas igualmente ruins sobre as bandas que eu pesquiso para Gigantour, e você tem que olhar para a música que eles tocam, e que tipo de música que você quer. E acreditar nos números.

ZH - E essa recepção, positiva ou negativa, te afeta?

Mustaine - Não me afeta negativamente, de maneira alguma. Eu tenho minha própria gravadora (Tradecraft, ligada à Universal), eu entendo que há coisas que você tem que aprender. Mesmo que eu não tivesse minha própria gravadora, vendo a posição que está Super Collider saberei que essa é a prova de que muita gente gosta. Algumas pessoas vão dizer que é o melhor disco da história, alguém vai dizer que é o pior. Qual é a prova disso tudo? Nós estamos empolgados. Estamos empolgados de ir aí tocar. Nossos shows estão todos com ingressos esgotados.

ZH - Countdown to Extinction está comemorando 20 anos. Você acha que o disco continua atual?

Mustaine - Nós comemoramos o aniversário de Countdown to Extinction com um DVD (recém lançado pela Universal, custando em média R$ 35,90). A mágica daquela gravação, naquele lugar da história... Se você lembra, em 1992, tinha muita coisa acontecendo depois da Guerra Fria, da queda do muro e tudo, o mundo estava com novas fronteiras. Mesmo com as coisas mais loucas que acontecem hoje, aquela época era empolgante. E muito dos tópicos daquele disco têm coisas legais e excitantes. Falávamos sobre viagens espaciais, viver na lua, coisas assim. Agora, pensamos "sim, e daí?", porque isso já está consolidado.

ZH - Hoje, há tópicos interessantes para se cantar?

Mustaine - Só canto sobre algo que eu achar interessante. Se eu escrever sobre algo que não me interesso, eu seria um impostor. Seria um risco desnecessário. Já vimos o que acontece quando bandas fazem coisas como essa. E eu gosto de escrever sobre coisas que me interessam e que me despertam a curiosidade. Coisas que me aconteceram, ou que vão acontecer, ou que poderiam ter acontecido comigo. Por exemplo, em Youthanasia — que comemora 20 anos no ano que vem —, uma das composições fala sobre incesto. Nunca aconteceu comigo, mas acho que já aconteceu com muitos de nossos fãs. Ter alguém cantando sobre isso e apenas botando luz sobre isso faz com que seja mais OK. Saber que alguém entende ajuda muito. Parte do problema quando pessoas carregam dores como essas é que eles acham que ninguém sabe o que elas estão passando. E Youthanasia foi um período em que a banda ainda estava passando por muito aconselhamento. Naquela época, estavam querendo fazer com que todo mundo do rock 'n' roll celebrasse a vida, não sei se você se lembra, Aerosmith e todos esses caras. Estava muito em voga. Mas nós estávamos passando por essa terapia, e isso é refletido em nossas músicas.

ZH - Quando você está compondo, pensa na música como forma de mudar a vida das pessoas?

Mustaine - Eu penso nisso. Eu penso que ainda estou vivo, alcancei sucesso, tenho fãs, posso viver do jeito que gosto. E não penso por um minuto que mereço isso. Claro que trabalhei duro para isso, mas é uma parceria com os fãs. Eu amo meu trabalho, é ótimo. E acho que chega um ponto em que você quer dar algo de volta — e nós temos feito isso bastante, com caridade. Não é exatamente caridade se você fala sobre isso, deve continuar anônimo. Mas há coisas que eu faço, sinto orgulho e ninguém nunca vai ficar sabendo.

ZH - Mas mesmo sua música serve como uma forma de ajudar as pessoas, não?

Mustaine - Eu definitivamente penso nisso. Acho que há tantas bandas boas de metal por aí e acho que somos muito sortudos de sermos considerados uma das grandes. Mas há tantas que são melhores que nós. Nem todo mundo tem a chance de ter sua mensagem ouvida. Eu tive um ótimo começo. Não tenho todas as respostas para isso, mas acho que muita coisa boa acontece se você pode influenciar gente para o bem. Mas eu também gosto de coisas pesadas. Acho Go to Hell superdivertida. Eu não a escrevi porque queria, escrevi porque a gravadora me pediu. Então eu escrevi, e o cara me disse "você tem que torná-la mais má", e eu respondi "sério?". Voltei e... "my only friend is a goat, with 666 between his horns" (Mustaine canta parte da letra, com voz exageradamente sombria). E eu fiquei tipo "como isso pode ficar MAIS pesado?". Eu sou capaz de escrever coisas assim, mas não é o que eu acredito, cara. Eu gosto de me divertir. Não posso esperar para ir tocar para vocês, estou realmente ansioso.

ZH - Muita gente diz que esse é o melhor disco do Megadeth. Você concorda? Você ouve o disco e gosta dele tanto assim?

Mustaine - Eu ouço, quando estamos pensando no nosso setlist. Mas é engraçado você falar isso, porque o pessoal já está escrevendo coisas para o novo disco. Tão felizes quanto estávamos com esse disco, começamos a pensar em como poderíamos ser melhores no próximo. E eu vou fazer um concerto no ano que vem com a Orquestra Sinfônica de San Diego. Estou trabalhando com material clássico. Música clássica influencia muito meu trabalho. Bem no começo, era punk, jazz e música clássica que ditavam nossas reviravoltas musicais estranhas. E, agora, minha mente já está "cara, não posso esperar para começar a escrever coisas novas!".

SEGUNDO CADERNO
Dulce Helfer / Agencia RBS

Show do Megadeth no Pepsi on Stage em 2010
Foto:  Dulce Helfer  /  Agencia RBS


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