Itapema FM | 02/10/2013 10h20min
O filme Gravidade, do mexicano Alfonso Cuarón e no qual Sandra Bullock e George Clooney demonstram o terror de ficar à deriva no espaço, superou um enorme desafio técnico para transmitir a perda e recuperação da gravidade por uma mulher afetada pela adversidade tanto física quanto emocional.
No filme, o descontraído astronauta Matt Kowalski (Clooney) faz seu último voo espacial, durante o qual testa um novo equipamento que permite a ele flutuar no espaço. Ele é acompanhado por Ryan Stone (Bullock), uma engenheira em sua primeira missão em órbita e que carrega um peso na consciência. Ambos serão os únicos sobreviventes de um terrível acidente, que os deixa à deriva no espaço.
Com roteiro de Cuarón e de seu filho Jonás, de 31 anos, o thriller estreia nesta sexta-feira nos Estados Unidos e na próxima semana no Brasil.
Com prolongadas sequências de apenas uma tomada, câmeras em primeira pessoa do ponto de vista de Bullock e uma bela coreografia, na qual o pânico na voz e no olhar contrasta com os lentos movimentos corporais da gravidade zero, o filme em 3D é uma experiência cinematográfica inédita para o espectador.
— Este foi o maior desafio — disse o diretor de 51 anos em uma recente entrevista coletiva em Beverly Hills. — Quando elaboramos a coreografia, nossos cérebros pensavam do ponto de vista da gravidade, em termos de peso e de horizonte. Tivemos que aprender tudo de novo porque era totalmente contra-intuitivo.
Cuarón conseguiu o resultado desejado com a mistura de ação real e efeitos de computação gráfica, incluindo os trajes espaciais.
Mas, para dar a sensação de que os atores se movimentavam em um ambiente de gravidade zero, os produtores elaboraram uma plataforma a partir da qual especialistas titereiros faziam a atriz "flutuar".
O diretor de fotografia, o mexicano Emmanuel Lubezki, criou ainda uma "caixa de luz", cujas paredes internas foram cobertas de milhares de diminutas luzes LED que simulavam estrelas. Com estas e outras ferramentas, Cuarón fez girar o universo ao redor dos atores.
— Reprogramar as reações era o mais difícil. Era necessário voltar a treinar o corpo do pescoço para baixo — disse Bullock aos jornalistas. — Passei por um treinamento e semanas de repetição e sincronização com a câmera de Alfonso.
— E, depois, tinha que separar tudo aquilo das expressões faciais, para poder contar a história emocional — acrescentou a atriz de 49 anos, vencedora do Oscar em 2010 por Um Sonho Possível e que já é apontada como uma das indicadas para a próxima premiação da Academia.
Esqueça o espaço
Produzido pelo britânico David Heyman - que trabalhou com Cuarón em Harry Potter e o prisioneuro de Azkaban (2004) -, o filme da Warner Bros é a metáfora de uma viagem emocional: o da reconciliação da doutora Ryan Stone com sua vida na Terra.
— O filme é sobre uma mulher. Esqueça o espaço. É uma mulher à deriva no vazio, vítima de sua própria inércia — disse Cuarón.
— Ela é confrontada com todas estas adversidades que a afastam cada vez mais de qualquer conexão humana e do sentido da vida — disse o diretor de E sua mãe também (2001) e Filhos da Esperança (2006).
— Todos os outros elementos são vozes que integram sua psique, que representam o surgimento da vida. Porque apesar dela estar desesperada e do cérebro dizer 'me rendo', há algo que nos faz seguir adiante. A vida segue adiante.
Gravidade é o 'queridinho' da crítica desde sua estreia mundial em agosto no Festival de Veneza. Com citações de Stanley Kubrick, que fez história com 2001: Uma Odisseia do Espaço (1968), e do diretor alemão Max Ophüls, famoso pelos profundos retratos de mulheres, o crítico de cinema Justin Chang foi só elogios na revista Variety.
— Imagino que, em algum lugar, os espíritos de Stanley Kubrick e Max Ophüls estão assistindo com admiração — concluiu.
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