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Itapema FM  | 01/10/2013 18h33min

Bernardo Carvalho satiriza os preconceitos do brasileiro médio em "Reprodução"

Romance é o 11º da carreira do autor, um dos escritores contemporâneos com melhor recepção crítica no país

Carlos André Moreira  |  carlos.moreira@zerohora.com.br

A ampla liberdade de discurso do mundo contemporâneo e a capacidade infinita de acesso à informação podem estar criando uma esfera pública que, em vez de opinião, é pródiga em reproduções. É essa, desde o título, a linha de questionamento que o novo romance de Bernardo Carvalho, Reprodução, pretende abrir.

O romance é o mais recente trabalho de um dos nomes mais bem considerados na atual ficção contemporânea. Desde sua estreia, em 1993, com a coletânea de contos Aberração, Carvalho, também jornalista, publicou outros 10 livros, entre os quais obras premiadas e elogiadas como Mongólia e Nove Noites. Diferentemente dos livros anteriores, Reprodução aposta em um humor mais cáustico.

>>> Em entrevista, Bernardo Carvalho discute os principais temas de seu novo romance, "Reprodução"

O protagonista é um homem de meia-idade identificado apenas como “o estudante de chinês”. Certo dia, ele encontra, na fila de embarque de um aeroporto, uma chinesa que lhe deu aulas na escola de idiomas e sumiu sem mais explicações. A mulher agora puxa uma criança pela mão e arrasta pesadas malas. Ao abordá-la, o estudante vê um homem se aproximar e levar a professora e a criança. Na sequência, um segundo homem que se identifica como delegado da Polícia Federal aparece e prende o estudante para interrogatório – há uma denúncia de que a professora, com quem ele foi visto falando, está servindo de mula para o tráfico de drogas.

Toda essa confusão é narrada em poucas páginas no início do livro, e em seguida a estrutura é organizada em três monólogos – ou antes, em três diálogos nos quais o leitor só tem acesso a uma das partes. No primeiro, o homem conversa com o delegado em uma diatribe exaltada que, por trás de um discurso acelerado e tributário do que leu nos melhores “colunistas e formadores de opinião”, revela arraigados preconceitos, como racismo, homofobia, discriminação de classe e antissemitismo. O resultado é a caricatura de um comentarista de internet: “Já disse,não tenho nada contra preto e judeu, que em sua maioria são brancos”, diz, a certa altura.

É nas etapas seguintes que o livro vai ganhando meios-tons. Na segunda, o estudante de chinês ouve, por trás de uma divisória, as declarações de outra delegada que discute com o primeiro e revela alguns detalhes da trama em que o estudante se viu enrolado. Na terceira, o estudante volta a falar, em um capítulo que põe algumas coisas em dúvida no conjunto da obra – que podem ser fruto de imaginação e paranoia do homem, um ex-operador do mercado financeiro com a vida em frangalhos.

– Esse personagem não é uma caricatura do malufismo, por exemplo. Tudo bem, ele é uma excrescência, é homofóbico, racista mas, ao mesmo tempo, diz coisas com as quais às vezes se pode concordar. O que me interessa neste momento é menos o  fascista declarado e caricato e mais a possibilidade de você não perceber em um discurso libertário o nascimento de um novo fascismo – diz o escritor.

Francesco Gattoni / Divulgação,Companhia das Letras

O escritor Bernardo Carvalho.
Foto:  Francesco Gattoni  /  Divulgação,Companhia das Letras


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