Roger Lerina  |  roger.lerina@zerohora.com.br

Uma dúvida angustiava o mundo em 1979: em qual lugar do planeta vai cair o Skylab?

A expectativa pela queda da estação espacial norte-americana serve de moldura histórica para que a atriz, roteirista e diretora Julie Delpy relembre a própria infância com nostalgia, em um filme repleto de astros do cinema francês.

Em O Verão do Skylab (2011), Julie novamente coloca a família no centro da trama – da mesma forma que fez em 2 Dias em Paris (2007) e Dois Dias em Nova York (2012). No entanto, diferentemente desses longas que tentam emular o estilo de comédia intelectual e neurótica de Woody Allen, a referência de O Verão do Skylab são as histórias familiares agridoces de diretores como a francesa Danièle Thompson – de Aconteceu em Saint-Tropez. O resultado desse relato de corte autobiográfico é um filme divertido e terno – e muito superior dramaticamente aos equivocados títulos do díptico Dois Dias...

O filme começa na atualidade, mostrando Albertine (Karin Viard) embarcando em um trem com o marido e os filhos. A viagem desperta na personagem a lembrança do verão em que, aos 11 anos, acompanhou os pais em um encontro familiar em Saint-Malo, no litoral da Bretanha francesa, para comemorar o aniversário da avó. A reunião de tios, tias, primos, primas e avós em uma casa de campo realiza-se no dia 11 de julho de 1979 – data em que o Skylab desintegrou-se na atmosfera da Terra, provocando apreensão em lugares como a França, um dos territórios onde se cogitava que os destroços do artefato da Nasa poderiam cair.

Prêmio Especial do Júri no Festival de San Sebastián, O Verão do Skylab é estrelado por grandes atores franceses: o elenco inclui desde as veteranas Bernadette Lafont (atriz do clássico A Mãe a Puta, de Jean Eustache) e Emmanuelle Riva (estrela de Hiroshima, Meu Amor, de Alain Resnais, e indicada neste ano ao Oscar por Amor, de Michael Haneke) até novos nomes como a bela Aure Atika (de Mademoiselle Chambon) e Éric Elmosnino (protagonista da cinebiografia Gainsbourg – O Homem que Amava as Mulheres). A jovem Albertine foi inspirada na própria Julie Delpy quando criança – no filme, a atriz interpreta a personagem que corresponde a sua mãe na vida real, enquanto o ator Albert Delpy, pai da realizadora, encarna na tela o senil tio Hubert.

Sentimental evocação de um passado recente, O Verão do Skylab registra com candor as barulhentas refeições familiares, as discussões sobre política, cultura e feminismo, o bate-bola depois do almoço, a farofada na praia, a reunião dançante da garotada – retratos de um tempo mais inocente, cujo maior temor era de que o céu caísse sobre as nossas cabeças.

O VERÃO DO SKYLAB (Le Skylab)
De e com Julie Delpy. Com Bernadette Lafont, Emmanuelle Riva, Éric Elmosnino e Noémie Lvovsky.
Comédia, França, 2011. Duração: 113 minutos.
Classificação: 14 anos.
Cotação: 3 estrelas (de 5)

SEGUNDO CADERNO