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Itapema FM  | 25/09/2013 16h17min

Parcerias entre artistas, indústrias e centros de pesquisa se destacam nas exposições da 9ª Bienal do Mercosul

Pelo programa "Máquinas da Imaginação", seis artistas foram levados a produzir obras em cooperação com técnicos, engenheiros e cientistas

Francisco Dalcol  |  francisco.dalcol@zerohora.com.br

Esta obra foi produzida em colaboração com a empresa...

O visitante da 9ª Bienal do Mercosul | Porto Alegre que se dedicar a ler os textos sobre as obras em exposição perceberá a frequência com que aparecem nomes de indústrias e centros de pesquisa.

Envolver marcas institucionais e divulgá-las na mostra foi um dos modos de atrair patrocinadores no momento em que a Bienal buscava recursos (o orçamento é de R$ 12,53 milhões). A estratégia econômica acabou sendo apropriada de forma conceitual pela curadora, a mexicana Sofía Hernández Chong Cuy. Em seu projeto, ela elegeu como um dos pilares o programa Máquinas da Imaginação, em que artistas foram levados a centros de pesquisa e indústrias de tecnologia avançada. Assim, seis convidados desenvolveram trabalhos em colaboração com engenheiros, técnicos e cientistas.

– São produções artísticas que envolvem várias mentes. No começo, discutíamos se as colaborações seriam em dinheiro ou com materiais. Concluímos que deveria ser uma participação, que o importante era compartilhar conhecimentos, ferramentas, ideias e estratégias. A mobilização de pessoas é um dos aspectos filosóficos propostos para o projeto, uma dinâmica que faz pensar como as mobilizações são importantes para as transformações sociais – diz Sofía.

>> Em página especial, confira outras reportagens sobre a 9ª Bienal do Mercosul

A inspiração veio de experiências de décadas passadas que aproximaram artistas da tecnologia científica ou industrial. Em especial, o programa Art and Technology, realizado entre os anos 1960 e 1970 pelo Los Angeles County Museum of Art (Lacma), nos EUA. Por isso, além de apresentar novos trabalhos dos seis artistas convidados, a Bienal selecionou obras históricas comissionadas. Entre elas, estão a monumental escultura Caverna de Morcego, de Tony Smith, reeditada no Margs, e a instalação Musa de Lama, de Robert Rauschenberg, no Santander.

Luiz Roque

Um dos 10 artistas gaúchos convidados a participar da Bienal do Mercosul, Luiz Roque circulou ao longo de um mês por unidades de pesquisa da PUCRS. No Centro de Engenharia Mecatrônica, encontrou recursos materiais para ambientar seu projeto, um filme de ficção científica. Em parceria com pesquisadores, desenvolveu um de seus personagens como uma espécie de robô.

Criando seu trabalho ao mesmo tempo em que as ruas eram tomadas pelas manifestações de junho, o artista se inspirou no clima político para filmar uma história que projeta o ano de 2030 e envolve questões sobre mudança de sexo. Durante sua pesquisa, Roque também contou com o Programa de Transtorno de Identidade de Gênero da UFRGS. Chamado Ano Branco e com duração de 10 minutos, o filme está sendo exibido em uma sala no térreo do Margs.

Foto: Camila Cunha/Indicefoto 

Cinthia Marcelle

A mineira percorreu áreas de mineração e usinas siderúrgicas da Gerdau ao lado de engenheiros, geólogos e operadores. Envolvida pelo ambiente e pelo processo de fabricação do aço, a artista desenvolveu um trabalho condicionado às ações do tempo e do ar sofridas pelo metal, especialmente a oxidação. Assim, inspirada pela força de um fenômeno natural, criou, com terra, areia e pó de metal, um grande "tapete enferrujado", cujas aparência e textura estão sujeitas a mudanças. A obra, chamada Viajante Engolido pelo Espaço, está no térreo do Memorial do Rio Grande do Sul. Depois que alguns visitantes pisaram e colocaram as mãos no trabalho, o local ganhou um pequeno cercado à altura da canela.


Foto: Andréa Graiz


Lucy Skaer

A britânica foi levada à Celulose Irani. Ao intervir na linha de produção da fábrica em Pinhal, ela se apropriou do breu, um sólido transparente de cor caramelo, produzido a partir do pinho. O material é usado em colas, adesivos, sabões, esmaltes e ceras. Lucy fez com que os blocos de resina fossem lapidados – ou esculpidos. O resultado foi a obra Tradução da Resina, em que os blocos são retirados de suas embalagens de transporte como protótipos de grandes pedras preciosas pesando 25 quilos cada. A proposta da artista é que exemplares sejam colocados em circulação pela Celulose Irani. O trabalho está no térreo do Santander.

Daniel Steegmann Mangrané

O espanhol radicado no Brasil foi ao polo naval de Rio Grande para uma pesquisa sobre o fundo do mar. Comissionado pela Petrobras, ele se dedicou a investigar o cotidiano nos estaleiros onde são montadas as plataformas para extração de petróleo. Com base nessas experiências, Daniel Steegmann Mangrané criou Quebreira, uma instalação sonora com estruturas geométricas e fibras de carbono. O som, que parece uma flauta e é reproduzido ininterruptamente, é baseado no apito ouvido pelos trabalhadores. A obra está exposta no segundo andar da Usina do Gasômetro.

Bik Van der Pol

A dupla de artistas da Holanda investigou as discussões e as práticas que envolvem os Orçamentos Participativos de Porto Alegre e Pelotas. O objetivo foi usar a ferramenta de gestão pública para imaginar um modelo democrático de ocupação da lua. Durante a pesquisa, a dupla também consultou juristas, projetando questões sociais e políticas. Com uma produção marcada pela colaboração coletiva, Bik Van der Pol vem apresentando, desde o começo da Bienal, a performance E Se a Lua Estivesse Apenas a um Salto de Distância?. A encenação conta com cinco atores locais. No sábado, às 15h, eles apresentarão o trabalho na Praça da Alfândega. E no dia seguinte, na Usina, no mesmo horário.

Audrey Cottin

A artista francesa circulou por ambientes de pesquisa da PUCRS, como o Centro de Microgravidade, e pela Celulose Irani, que mantém no Estado unidades em Pinhal e São José do Norte. Interessou a ela o ciclone extratropical que atingiu a Irani e as reações da comunidade diante do fenômeno da natureza. Em sua pesquisa, a artista também teve colaboração do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul, que se dedica a pesquisas sobre dislexia e multitask (termo inglês para multitarefa).

Ela desenvolveu, em parceria com técnicos e pesquisadores, reformulações dos conceitos sobre medicina à distância e sobre demonstrações públicas de procedimentos cirúrgicos. Audrey compartilhará suas experiências com uma série de performances. Serão três atos, transmitidos às 20h, nos dias 24 e 31 de outubro e 7 de novembro, via streaming, da PUCRS para o átrio do Santander Cultural, em colaboração com a Faculdade de Comunicação Social (Famecos).

 

Comissões históricas

A Bienal apresenta outras obras criadas em projetos colaborativos

> Musa de Lama (1968 – 1971), de Robert Rauschenberg: instalação desenvolvida também pelo programa do Lacma, em parceria com a empresa de tecnologia aeroespacial Teledyne. Térreo do Santander

> Simultaneidade em Simultaneidade (1965), de Martha Minujín: performance internacional e simultânea realizada a partir do programa do Torcuato di Tella Institute, da Argentina. A Bienal apresenta ampla documentação do trabalho no segundo andar do Memorial

> Pedaços de Mar que Caem pelas Estrelas (1974 – 1976), de George Levantis: instalação resultante do programa Artist Placement Group, da Inglaterra, em colaboração com a companhia de transporte marítimo Ocean Fleets. Segundo andar da Usina

> Labirinto Invisível (1971), de Luis F. Benedit: instalação realizada pelo programa do Centro de Arte e Comunicación (Cayc), da Argentina. Exposta no segundo andar do Margs, a obra está em manutenção

> O Evento: Relâmpago Petrificado na Flórida Central (1997 – 1998), de Allan McCollum: instalação realizada em colaboração com o Centro Internacional de Pesquisa e Teste de Raios da Universidade da Flórida, EUA. Ocupa uma galeria lateral do térreo do Santander

> O que Você Está Fazendo Aqui (2005 – 2006), de Cao Fei: instalação e filme realizados pelo programa de comissões da empresa Siemens, na China. Térreo do Memorial (abaixo)

Foto: Eduardo Seidl/Indicefoto

> Caverna de Morcego (1969 – 1971), de Tony Smith: projeto do programa Art and Technology do Los Angeles County Museum of Art (Lacma), nos EUA, em colaboração com a empresa American Container Corporation. Na Bienal, a monumental escultura de papelão foi reeditada em colaboração com a Celulose Irani. Térreo do Margs

Foto: Fernando Gomes

 

9ª Bienal do Mercosul | Porto Alegre

Até 10 de novembro
> Memorial do Rio Grande do Sul (Rua Sete de Setembro, 1.020). Terça a domingo, das 9h às 19h
> Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (Praça da Alfândega, s/nº). Terça a domingo, das 9h às 19h
> Santander Cultural (Rua Sete de Setembro, 1.028). Terça a domingo, das 9h às 19h; quinta, das 9h às 21h
> Usina do Gasômetro (Av. Presidente João Goulart, 551). Terça a domingo, das 9h às 21h

Programação completa no site: 9bienalmercosul.art.br

Agendamento de grupos: fone (51) 3212-7007 ou e-mail agendamento@bienalmercosul.art.br

SEGUNDO CADERNO
Fernando Gomes / Agencia RBS

Lucy Skaer transformou blocos de resina em protótipos de pedras preciosas. Obra está no Santander
Foto:  Fernando Gomes  /  Agencia RBS


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