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Itapema FM  | 11/09/2013 16h51min

Cinebiografia de atriz pornô, "Lovelace" estreia nesta sexta-feira

Filme traz Amanda Seyfried em ótima performance como a garota que estrelou "Garganta Profunda" e depois sofreu abusos do próprio marido

Daniel Feix  |  daniel.feix@zerohora.com.br

De início, parece um filme sobre os bastidores da indústria pornô a partir de uma de suas estrelas históricas. Só depois é que fica claro que Lovelace, que estreia nesta sexta-feira nos cinemas, é um filme sobre outro tema tabu: a violência contra a mulher.

As duas coisas se encontram na trajetória de Linda Lovelace (1949 – 2002), garota de família conservadora que topou estrelar o clássico erótico Garganta Profunda (1972) um tanto coagida pelo marido cafetão, segundo escreveria na autobiografia Ordeal (1980). Lovelace, o filme, tem a estrutura dramática das cinebiografias mais clássicas, que narram cronologicamente todos os episódios significativos da vida de seus protagonistas. A expressão "clássica", no entanto, não lhe cai bem, especialmente por conta de um truque formal muito bem explorado pelos diretores Rob Epstein e Jeffrey Friedman: a reapresentação de sequências vistas anteriormente sob outro ponto de vista, representativo daquilo que Linda só descobriria anos mais tarde.

É o melhor do filme, juntamente com a boa performance de Amanda Seyfried (de Mamma Mia), que para encarnar o papel-título ficou morena, teve ressaltadas as suas sardas e, lá pelas tantas, usa um permanente de fazer inveja aos ícones oitentistas do estilo. Considerando que Uivo (2009), que a dupla dirigiu sobre Allen Ginsberg, é na verdade um filme ensaístico, trata-se de sua primeira ficção "pura" – juntos, Epstein e Jeffrey venceram dois Oscar de melhor documentário (por Times of Harvey Milk, em 1985, e Caminhos Cruzados, em 1990). Não parece, tamanha habilidade de ambos na construção narrativa.

A ótima reconstrução de época leva o espectador aos anos 1970, década da ascensão e queda de Linda. Foi tudo bem rápido: o marido Chuck (Peter Sarsgaard) fez um filme caseiro para demonstrar seu "talento" para o sexo oral, imediatamente reconhecido pelos homens da indústria. Garganta Profunda triunfou (foram US$ 600 milhões arrecadados, um recorde em se tratando de pornografia) por conta de Linda e da trama divertida (absolutamente nonsense) sobre uma garota com o clitóris na garganta. Logo ela estava íntima de Hugh Hefner, o magnata da Playboy (interpretado por James Franco), vivendo entre o glamour e os abusos mais diversos – além de embolsar seus cachês, Chuck a prostituía explorando o desejo coletivo despertado pelo célebre longa.

Quanto mais triste Lovelace fica, mais ele cresce. Seu maior problema é não contestar o discurso de Linda, para quem o vilão era não apenas o marido, mas toda a indústria pornô. Até pode ser – a indústria setentista é bem diferente da atual –, mas o que não se deixa evidenciar ao longo dos 93 minutos de filme é a diferença entre os dois tabus citados na abertura deste texto. Fossem menos genéricos, Epstein e Friedman teriam feito um trabalho ainda melhor.

Lovelace
De Rob Epstein e Jeffrey Friedman. Com Amanda Seyfried, James Franco, Peter Sarsgaard, Sharon Stone, Juno Temple e Adam Brody.
Drama, EUA, 2013. Duração: 92 minutos. Classificação: 16 anos.
Estreia nesta sexta-feira no circuito de cinemas.
Cotação: 3 (de 5) estrelas.

SEGUNDO CADERNO
Paris Filmes / Divulgação

Amanda Seyfried e Adam Brody no filme de Rob Epstein e Jeffrey Friedman
Foto:  Paris Filmes  /  Divulgação


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