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Itapema FM  | 10/09/2013 10h44min

Manoel de Barros é um dos nomes sugeridos pelo Brasil para o Prêmio Nobel de Literatura

Ivo Müller fala sobre o poeta, que lhe despertou na Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis

Ivo Müller  |  variedades@diario.com.br

Penso em escrever sobre Manoel de Barros desde a Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, onde minha filha assistiu ao primeiro longa-metragem de sua vida. O poeta foi o homenageado do evento, que aconteceu justamente na minha última visita à Ilha, e fez o fim de semana se encher de cinema e poesia. Isso foi em julho, e a vinheta da Mostra, com crianças falando versos do poeta, não me sai da cabeça.

Manoel de Barros é um dos nomes sugeridos pelo Brasil para o Prêmio Nobel de Literatura deste ano. O país nunca levou um Nobel e o caminho entre a lista de escritores brasileiros, que inclui Ferreira Gullar e Nélida Piñon, até a lista de indicados da Academia Sueca é muito distante. E prêmios têm mais a ver com circunstâncias do momento ou articulações em torno de um nome, de um país.

O poeta completa 97 anos em dezembro e já recebeu inúmeras honrarias literárias. Um Nobel a essas alturas talvez fosse apenas mais uma. Pelo menos para ele, avesso a câmeras, holofotes e discursos de cerimônia de entrega.

Manoel de Barros tem em sua poesia a metafísica do gênio, do iluminado, daquele que conversa com os anjos, se é que não é um deles. Como Picasso, que pintou "uma vida inteira para aprender a pintar como criança", como Rainer Maria Rilke, que descobriu que "não há maior sabedoria que ser um iniciante em tudo", Manoel de Barros, como criança que pratica o "delírio do verbo", diz: "eu escuto a cor dos passarinhos".

Pode-se dizer que foi descoberto há pouco tempo, nos anos 1980, quando o escritor Millôr Fernandes publicou seus versos vindos do Pantanal nas revistas Veja e Isto É.

Manoel vive em sua fazenda no Mato Grosso do Sul, escreve pelas manhãs e recebe visitas à tarde. É bom de prosa, carismático e fascinante, o que pode se ver no documentário Só Dez por Cento É Mentira, de Pedro Cezar. O documentarista, aliás, teve um trabalho danado para convencer o poeta a deixar-se gravar. Teve a ideia negada diversas vezes e só conseguiu fazer o filme porque insistiu muito. Usou um argumento-chave, disse que aquele era um dos seus sonhos. Manoel de Barros então autorizou o que chama de "desbiografia".

Mas voltando ao Nobel, vale lembrar que nossos vizinhos sul-americanos já ganharam com Pablo Neruda e Gabriela Mistral (Chile), Gabriel García Márquez (Colômbia) e Mário Vargas Llosa (Peru).

Nelson Rodrigues, um dos grandes escritores brasileiros, diria que a comparação só reforça nosso "complexo de vira-latas". O Brasil pode até não ser um país de leitores, mas temos o próprio Nelson, Mário Quintana, Guimarães Rosa, Machado de Assis e alguns outros grandes escritores. Manoel de Barros talvez respondesse a provocação com versos: "Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação...".

A gente sabe que um Nobel levaria a poesia de Manoel de Barros para muitos cantos onde ele ainda não foi traduzido. O sol, que "tira a roupa da manhã e acende o mar", visto de outros pontos do planeta.

Então, para terminar, combinamos aqui uma brincadeira de imaginação. A gente imagina um mundo que tem mais uma guerra para começar. Mas dessa vez as bombas soltam poemas de Manoel de Barros.

A intervenção humanitária chega em forma de versos contagiantes, simples e profundos. Os soldados, que pedem licença para entrar nas casas, os recitam com voz de criança. E a gente descobre que a ideia de mandar os versos partiu da Casa Branca. O Prêmio Nobel da Paz que corria o risco de ir para a lixeira foi socorrido pela literatura.

DIÁRIO CATARINENSE
Renata Caldas / Reprodução

Manoel de Barros, como criança que pratica o "delírio do verbo", diz: "eu escuto a cor dos passarinhos"
Foto:  Renata Caldas  /  Reprodução


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