Gustavo Brigatti e Marcelo Gonzatto  |  gustavo.brigatti@zerohora.com.br e marcelo.gonzatto@zerohora.com.br

O sonho de ver seu ídolo da música em um dos maiores festivais do mundo parece ter virado um pesadelo. Desde pelo menos abril deste ano, a empresa TicketMais Brasil vende ingressos para o Rock in Rio sem, até o momento, entregá-los.

E quem efetuou a compra, agora lamenta não apenas o prejuízo financeiro, mas a frustração iminente.

É o caso do médico gaúcho Cristiano Machado de Oliveira. Quando as vendas para o Rock in Rio abriram, em abril passado, ele conseguiu comprar bilhetes para a noite do dia 19 de setembro. Porém, sua vontade era assistir ao Iron Maiden, no dia 22, cujos ingressos já estavam esgotados – como informa o site oficial do evento, que vai de 13 a 22 de setembro no Rio de Janeiro. Decidido a ver sua banda do coração, começou a pesquisar alternativas pela internet – e acabou no endereço www.rockinrioingresso.com.br.

– Na hora me pareceu idôneo, então confiei. Comprei três ingressos, gastando R$ 1.350 – explica.

Oliveira relata que, nas semanas seguintes, conversou com funcionários da empresa pelo chat do site e recebeu comunicados informando o status do envio de seus ingressos – incluindo um número de rastreio para ser acompanhado no site dos Correios. No entanto, na semana passada, quando foi checar a quantas andava o envio da encomenda, notou que seus ingressos haviam sido enviados para Belém, no Pará.

– Tentei falar com eles pelo chat e não consegui mais. O número de telefone cai direto numa mensagem. Daí entendi que tinha sido engando e que teria que arcar com os prejuízos – lamenta.

Pela internet, Oliveira descobriu que não é o único nessa situação. Sem conseguir contato com responsáveis pelo site (confira o texto abaixo), outras pessoas que se consideram prejudicadas vêm publicando reclamações em sites como o Reclame Aqui. "Estão usando a marca Rock In Rio para enganar os consumidores", lamentou o usuário Leandro Mendes.

Procurado pela reportagem, o Rock in Rio, por intermédio de sua assessoria de imprensa, informou que o departamento jurídico do festival já acionou o site www.rockinrioingresso.com.br. Ainda assim, até ontem o site de oferta de bilhetes seguia aceitando pagamentos via cartão ou boleto bancário: informava que os ingressos estavam esgotados, mas seguia "comercializando os kits de compradores que desistiram de seus pedidos", oferecendo entradas para quatro dos sete dias do evento.

Dificuldades para contatar o serviço

O site que promete ingressos para o Rock In Rio está registrado em nome da empresa Visachek Promotora de Vendas Ltda, mas entrar em contato com algum responsável é tão difícil como receber o bilhete pelo qual se pagou. Uma busca na internet por esse nome apresenta pelo menos quatro números de telefones fixos e dois de celular diferentes, no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas ou estão inativos ou não têm relação com a companhia. Um número de celular foi atendido por uma pessoa que afirmou desconhecer a empresa, e outro caiu em um salão de cabeleireiro.

Uma outra página virtual, em nome de Visachek Gateway e dedicada a "soluções em comércio eletrônico", está registrada em nome da mesma empresa responsável pela oferta de ingressos e apresenta como endereço físico uma sala localizada no 14º andar do prédio número 726 da Avenida Paulista. Por telefone, uma representante do condomínio afirmou desconhecer a companhia.

A Visachek está cadastrada na Receita Federal, mas em outro endereço – na Rua Saguairu, 1.082. É o local onde, há pelo menos um ano e meio, funciona o salão de cabeleireiro para o qual ZH havia ligado. E-mails enviados para o endereço eletrônico com o qual as páginas foram registradas e para outros informados na homepage da Visachek não foram respondidos.

Um número de telefone destinado a oferecer mais informações se limitava a apresentar uma gravação explicando que as vendas são realizadas somente pelo site. Dizia, ainda, que "todos os operadores estão ocupados" e recomendava ao interessado recorrer ao serviço de chat devido ao fato de o sistema estar "sobrecarregado". O chat, porém, oferecia apenas a possibilidade de envio de mensagem para posterior resposta. ZH enviou um pedido de explicações sobre a falta de entrega dos bilhetes prometidos, mas também não obteve retorno.

FUJA DOS GOLPES

Confira dicas para fazer compras online em segurança:

> Procure comprar em lojas com referências positivas de amigos ou parentes.

> Pesquise sobre a loja em órgãos de defesa do consumidor e em sites de avaliação e comparação de preços nos quais outros usuários analisam os serviços das lojas e fazem seus comentários sobre a empresa.

> Confira se a loja tem certificações como o selo de qualidade da E-Bit.

> Verifique se a loja divulga razão social, CNPJ e confirme esses dados em www.receita.fazenda.gov.br. Telefone e pesquise o endereço físico da loja.

> Desconfie de preços muito convidativos e ofertas milagrosas.

> Prefira empresas que aceitem plataformas de pagamento via Internet, onde o consumidor tem em média 14 dias para cancelar o pagamento. Evite pagamentos em boleto ou depósitos. 

> Leia a política de privacidade da empresa. Fique atento às formas de pagamento, ao prazo de entrega e à política de troca e devolução de produtos.

> Verifique se a loja possui conexão de segurança nas páginas em que são informados dados pessoais do cliente. Geralmente essas páginas são iniciadas por https:// e o cadeado ativado (ícone amarelo em uma das extremidades da página). Clique no cadeado e observe se a informação do certificado corresponde ao endereço na barra de navegação do computador.

Fonte: Pedro Guasti, vice-presidente de marketing da Buscapé Company e diretor geral da E-bit.

 

 

SEGUNDO CADERNO