Notícias

Itapema FM  | 19/08/2013 16h01min

Em elogiado disco de estreia, Matthew E. White homenageia Jorge Ben Jor

Música que encerra "Big Inner" traz refrão da faixa "Brother", lançada pelo brasileiro em 1974

Francisco Dalcol  |  francisco.dalcol@zerohora.com.br

Ao final da sua jornada soul-gospel-psicodélica, Matthew E. White canta com entrega total, acompanhado por metais e um coro: "Jesus Christ is our Lord / Jesus Christ, he is your friend". Será que a faixa Brazos, que encerra o elogiado álbum Big Inner, repete um refrão de Jorge Ben Jor?

Sim, explica White, vem da música Brother, lançada pelo brasileiro em 1974, antes de colar o "Jor" ao fim do nome:

– Jorge Ben é como um ídolo, e a faixa final do álbum é uma espécie de tributo a ele e ao que me ensinou – diz em entrevista por telefone, de Nova York.

Às voltas com a repercussão internacional de seu disco, o cantor e compositor americano não esconde que é fã de música brasileira, como conta abaixo, e que Big Inner traz outras citações explícitas, como Jimmy Cliff, Washington Phillips, Allen Toussaint e Randy Newman.

O disco foi lançado em agosto de 2012 com uma pequena tiragem. Vieram os elogios, e Big Inner ganhou um contrato com a Domino (gravadora de Franz Ferdinand e Arctic Monkeys), que lançou o álbum na Europa em janeiro. Jornais ingleses como Guardian, Independent e Observer deram nota máxima. Assim, o CD ganhou distribuição mundial, incluindo o Brasil, que acaba de receber o lançamento pelo selo Vigilante, da DeckDisc.

Nascido em Virginia Beach (EUA) e filho de missionários cristãos, White, 31 anos, já colaborou como arranjador, guitarrista e produtor com gente como Justin Vernon, do Bon Iver, e montou a big band de jazz Fight the Big Bull. Mas resolveu que queria cantar suas canções e, em 2011, criou o Spacebomb Records, misto de estúdio e casa em Richmond que reúne um elenco de talentos. Foi ao lado de mais de 10 instrumentistas e vocalistas que White deu vida, em sete dias, às sete faixas de Big Inner.

Em seu disco de estreia, ele mistura folk com música negra. Há ecos aqui e ali de Cat Power, Bon Iver, Lambchop e Spiritualized. Nas letras, ele fala de amor, buscas, encontros, esperança e, claro, Jesus.

A abertura, One of These Days, já apresenta uma constante do disco – arranjos sofisticados para corais e orquestrações de cordas e metais que acompanham a voz grave, murmurada e intimista de White. E ele canta: "And i don't want to live / A minute longer than you / So let's meet the Lord together" (E eu não quero viver / Um minuto a mais do que você / Então, vamos encontrar o Senhor juntos).

 

Big Love traz um andamento mais psicodélico e fala na crença do amor. O culto espiritual e apaixonado segue com Will You Love me, em que White canta baixinho: "Darkness can't drive out darkness / Only love can do that, baby" (A escuridão não pode expulsar a escuridão / Só o amor pode fazer isso, baby). Em Hot Toddies, ele parece dividir com o ouvinte sua conversa com o Senhor: "Lord, we'll have the best time" (Senhor, teremos tempos melhores). Até que Brazos fecha o disco de forma épica, com sua louvação a Jorge Ben Jor. Um samba-rock que se transforma em hino gospel.

 

Entrevista – Mattthew E. White, cantor e compositor americano

Zero Hora – O que você conhece da música brasileira?
Matthew E. White –
Sou um grande fã. A Tropicália é o casamento da música folk com a música tradicional brasileira, com técnicas de vanguarda e um tipo de pensamento muito "para frente". E isso, para mim, é o que define a música e o tipo de música que eu procuro. É pegar os costumes do lugar onde crescemos e elevá-los, com muita coragem. Não há nenhuma música no mundo que faça isso tão bem quanto a brasileira, que também é uma música orgulhosa de ser como é e de vir de onde veio. Por isso, faço música americana e tenho orgulho disso. É onde cresci e me sinto conectado.

ZH – Como foram as gravações do disco Big Inner?
White –
O álbum foi feito no (estúdio) Spacebomb, em Richmond (capital da Virgínia), com a ideia de que tínhamos muitos bons músicos lá e que poderíamos fazer algo especial juntos se concentrássemos nossas energias. O Spacebomb tem a ver com casa e envolve muito afeto para mim, gosto muito de meus músicos. (O Spacebomb) É um esforço coletivo, é uma coisa grande e, quando se tenta fazer algo grande, fica maior feito em grupo do que se você tentar fazer sozinho. Todas as pessoas que tocam no álbum são de Richmond, é uma comunidade muito vibrante e especial.

ZH – De que modo a espiritualidade influencia sua música? E Jorge Ben Jor?
White –
Cresci em um lar muito espiritual. Houve um ponto em que entendi quem eu era, por isso escrevo a partir das minhas experiências, do meu passado. É sempre daí que eu parto para amarrar uma narrativa, uma história ou algo assim. O álbum se inspira muito em Jorge Ben, no Brasil e no lado mais espiritual. Em todos os outros lugares, me perguntam sobre essa música, Brazos, que traz refrão de Brother, de Jorge Ben, porque eles não entendem o contexto. E por isso é ótimo poder falar com brasileiros sobre o álbum. A espiritualidade é uma grande parcela do álbum, é a mais importante.

Big Inner
> Matthew E. White
> DeckDisc, sete faixas, R$ 28 (em média)
> Cotação: 4 de 5

 

SEGUNDO CADERNO
DeckDisc / Divulgação

O norte-americano Matthew E. White é filho de missionários cristãos
Foto:  DeckDisc  /  Divulgação


Comente esta matéria
Sintonize a Itapema em Florianópolis 98.7, em Joinville, sintonize 95.3

Grupo RBS Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2009
clicRBS.com.br • Todos os direitos reservados.