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Itapema FM  | 15/08/2013 08h01min

Sofia Coppola muda de tom, mas não de tema, em "Bling Ring"

Filme inspirado em gangue de bem-nascidos obcecada pela fama estreia nesta sexta-feira

Daniel Feix  |  daniel.feix@zerohora.com.br

Por um lado, Bling Ring – A Gangue de Hollywood radicaliza a abordagem de um tema recorrente na filmografia de Sofia Cop­pola: o vazio existencial de uma geração que podia ter tudo e, em consequência disso, convive com a sensação de não ter nada. Por outro, o filme que estreia nesta sexta-feira no país representa uma mudança na carreira da diretora de 42 anos.

Sua adaptação da história real da quadrilha de jovens bem-nascidos da periferia rica de Los Angeles é mais realista e menos intimista, na comparação com seus quatro longas anteriores. Tem rostos pouco conhecidos do público (a exceção é Emma Watson) e deixa um tantinho de lado a pegada existencialista de Encontros e Desencontros (2003) e Um Lugar Qualquer (2010), seus dois melhores filmes.

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No rumoroso caso de Calabasas (entre 2008 e 2009, meninos e meninas invadiram casas de celebridades como Paris Hilton e Lindsey Lohan e roubaram seus pertences para ostentá-los na escola, no shopping e na boate), o que interessou à cineasta foi o mesmo que moveu a jornalista Nancy Jo Sales a escrever o livro-reportagem homônimo recém-lançado no país pela editora Intrínseca: o exame de uma sociedade que se deixou dominar pelo culto da fama.

Se a troca de informações entre a diretora e a escritora aparece no livro, o filme segue o mesmo princípio. Como um falso documentário, é pontuado por depoimentos representativos das entrevistas feitas pela própria Nancy Sales. Essas falas compõem uma espécie de eixo narrativo: enquanto Rachel (que na trama, por questões legais, virou Rebecca e é interpretada por Katie Chang), Nick (ou Marc, vivido por Israel Broussard) e companhia comentam seu envolvimento no escândalo, Sofia Coppola vai encenando o crescimento de sua obsessão pelo estrelato – até que se percam completamente os limites.

Algumas imagens descritas por Sales representam à perfeição este estado de coisas. Muitas delas, não por coincidência, envolvem os atos (ou a ausência) dos pais dos jovens delinquentes. E estão todas em Bling Ring, o filme. Em um único plano, por exemplo (o da prisão de Courtney, ou Chloe, interpretada por Claire Julien), a diretora exercita sua apurada capacidade de síntese usando uma câmera imóvel a observar os movimentos de toda a família na cozinha. Melhor ainda é acompanhar a relação das amigas Alexis e Tess, dupla que virou celebridade na cobertura da mídia (e no longa se transformou em Nicki e Sam, respectivamente Emma Watson e Taissa Farmiga) com a mãe da primeira (Leslie Mann), mulher dedicada a doutrinar as garotas com os ensinamentos da filosofia de autoajuda de O Segredo.

A impressão é de que Sofia Coppola, agora, está dedicada a questões mais palpáveis. A desglamourização de seus anti-heróis e a opção pelo painel abrangente de envolvidos, compondo uma narrativa focada em múltiplos pontos de vista, no entanto, acabam por tornar a aventura mais fria, menos emocionante. Em todos os sentidos, Bling Ring está mais para Os Bons Companheiros (de Martin Scorsese, 1990) do que para Bonnie & Clyde (Arthur Penn, 1967). Com a sensível diferença de que a filha de Francis Ford Coppola não é Scorsese.

De todo o modo, fica claro que a conquista do Leão de Ouro no Festival de Veneza com o longa anterior não significou, para ela, a acomodação. Ao contrário. Bling Ring, por isso, pelas reflexões que suscita e pelos lampejos de grande cinema, é um filme a ser visto.

Bling Ring – A Gangue de Hollywood
(The Bling Ring)
De Sofia Coppola. Com Katie Chang, Israel Broussard, Emma Watson, Taissa Farmiga, Claire Julien e Leslie Mann.
Drama, EUA, 2013. Duração: 90 minutos. Classificação: 14 anos.
Estreia nesta sexta-feira no circuito.
Cotação: 3 de 5 estrelas.

SEGUNDO CADERNO
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