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Itapema FM  | 04/07/2013 10h56min

A histórica Paraty volta a respirar letras

Direto da Flip, jornalista catarinense narra a mistura de distintos personagens na cidade

Carlos Stegemann*  |  reportagem@diario.com.br

A pequena Paraty, cuja história remonta ao início do século XVII, volta a reunir milhares de pessoas que gravitam em torno da literatura nos próximos cinco dias. Em um dos pedaços mais belos do litoral brasileiro e colada nas montanhas da Serra da Bocaina, no norte do Rio de Janeiro, a cidade de pouco mais de 33 mil habitantes sedia a 11ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). O alagoano Graciliano Ramos, célebre pela obra Vidas Secas, é o homenageado deste ano, e a abertura foi marcada pela concorrida conferência Aspereza do mundo e concisão da linguagem, liderada por Milton Hatoum, seguida de um show do ex-Ministro da Cultura Gilberto Gil.

Em 27 de outubro do ano passado completaram 120 anos do nascimento do escritor, que também foi jornalista e político — e em 20 de março último foi a passagem dos 60 anos de sua morte. De acordo com Mauro Munhoz, diretor-geral da Flip, a escolha de Graciliano Ramos como homenageado se traduz não apenas nas atividades durante o evento mas, também, na estreita aproximação do autor e de sua produção literária com a comunidade local durante todo o ano.

— Os alunos das escolas de Paraty vão estudar a vida e a obra do autor desde janeiro do ano que vem e serão realizadas ações permanentes para que moradores e visitantes de Paraty possam ter uma proximidade ainda maior com esse importante escritor — explica Munhoz.

O evento, uma sucessão de debates (chamados de mesas) e oficinas literárias, é também uma grande confraternização entre escritores de prosa e verso, artistas, empresários do meio editorial ou, simplesmente, quem gosta de ler e conviver criticamente com o mundo das letras. Nas ruas de calçamento irregular do centro histórico misturam-se personagens tão distintos como autores de cordel, turistas chiques nacionais e estrangeiros, ativistas sociais e ambientalistas, produtores culturais e músicos, além de muitos jornalistas e críticos.

São 20 mil pessoas, segundo estimativa da prefeitura local, que lotam cafés e restaurantes, quase todos pequenos e muitos charmosos e com a atmosfera peculiar da festa e da cidade. A Flip já rivaliza com o Réveillon e o Carnaval no calendário turístico local. Os ingressos, vendidos pela internet, esgotaram em três dias.

As principais referências do evento são a Tenda dos Autores, a Tenda do Telão — na primeira ocorrem as mesas e na segunda são transmitidas, em tempo real, aos que não garantiram ingressos para assistir os debates ao vivo e a Casa da Cultura, que inclui projeção de filmes e vídeos e outros debates com escritores, críticos e músicos.

Irlandes cotado ao Nobel é destaque

A programação paralela da festa aumenta a cada ano: o instituto Moreira Salles e o Sesc promovem conversas com autores que participam de eventos na Tenda dos Autores; foi criada, por iniciativa de dois profissionais do meio (Newton Cannito e Thelma Guedes) a Casa do Autor Roteirista, que terá  a participação de nomes como Luiz Fernando Guimarães, Mariana Ximenes e José Wilker.

O evento traz vários estrangeiros e um destaque é o premiadíssimo irlandês John Banville, cotado ao Nobel de Literatura, que lançará pela Globo Livros seu 16º trabalho _ Luz Antiga (Ancient Light), durante sua visita à Festa. O francês Lauren Binet traz a elogiada obra 'HHhH', uma combinação de ficção e realidade que relata o atentado contra o nazista Reinhard Heydrich na 2ª Guerra Mundial. Ontem a organização da Festa anunciou a desistência do escritor norueguês Karl Ove Knausgård, "por motivos pessoais". Em maio Knausgård lançou no Brasil seu romance autobiográfico A Morte do Pai (Companhia das Letras), best-seller na Noruega, em que retrata de forma depreciativa seus familiares. 

*O jornalista catarinense está em Paraty e publicará diariamente suas impressões da feira no Variedades do DC. Carlos chegou à cidade na terça-feira, recebido por uma chuva torrencial que derrubou os sinais de telefone naquele dia. Carlos conta que a cidade estava vazia. Mas na terça-feira o público começou a lotar Paraty.
Email: diretor@palavracom.com.br

Mais informações em www.flip.org.br

Gabriel de Paiva / Agência Globo

Na praça, bonecos de personagens de Graciliano Ramos, o homenageado nesta edição
Foto:  Gabriel de Paiva  /  Agência Globo


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