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Itapema FM  | 01/07/2013 13h28min

Ator catarinense Ivo Müller conta sua experiência com um dos diretores mais promissores do cinema autoral

O filme 'Tabu' venceu dois prêmios no Festival de Berlim e ainda não tem data para estreia em SC

Roberta Ávila  |  roberta.avila@diario.com.br

Nas palavras de Walter Salles, Tabu foi o melhor filme da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2012. É assim que o ator catarinense Ivo Müller apresenta o filme feito numa coprodução Portugal, Alemanha, Brasil e França pelo diretor Miguel Gomes.

Apesar dos esforços de Ivo, o filme que estreou ontem em São Paulo e Rio de Janeiro e que entra em cartaz também em Porto Alegre, Belo Horizonte e Salvador, não deve chegar aos cinemas de Florianópolis. É uma pena que a cidade não esteja no mapa da distribuição para conferir a performance de Ivo no filme do diretor português de cinema autoral considerado entre os mais promissores.

Em entrevista ao DC por telefone concedida em São Paulo, Ivo contou sobre o universo quase surreal que cercou a produção do filme em Moçambique. Nada mais apropriado para uma produção que teve o nome da protagonista, Aurora, e do próprio filme escolhidos em referência a um filme do expressionista alemão Murnau que filmou o seu Tabu em 1931.

O que você achou do Tabu ter vencido o Prêmio Alfred Bauer de inovação no Festival de Berlim, e não o Urso de Ouro, que é o prêmio principal?

O vencedores em 2012 foram os irmãos Taviani, cineastas que já fizeram muita coisa, tem um histórico muito grande, eram um concorrente de peso. Vi o filme deles, César deve morrer, da última vez que estive em Florianópolis, e é uma obra muito bonita e importante. Eles colocam o teatro dentro da prisão no filme, tem uma questão social muito grande. Eles terem vencido denota uma postura um pouco mais conservadora do júri, até porque nós vencemos o Prêmio Alfred Bauer de inovação.

Como foi o trabalho de criação dos atores no filme? O fato de ter sido filmado em Moçambique influenciou a atuação?

Olha, quando eu li o roteiro do Tabu eu já percebi que seria um mergulho de cabeça porque não tinha um roteiro definido com diálogos. Antes de aceitar fazer parte, ainda na conversa com os produtores, eles deixaram claro que o roteiro poderia ser jogado fora durante as filmagens, dependendo das circunstâncias. Depois trabalhando com o diretor, Miguel Gomes, eu percebi que ele usa muito o que está acontecendo durante as filmagens. Se está chovendo a gente faz na chuva mesmo, é tudo feito de uma maneira muito artesanal. Primeiro que o filme foi filmado em película, a segunda parte dele em 16mm, que é mais granulada, antiga. Hoje todo mundo filme em digital. Em Moçambique a equipe era muito reduzida, Portugal, que foi o país que mais investiu na produção estava passando por uma crise econômica na época e nós tivemos que lidar com tudo isso.

Na segunda parte do Tabu não diálogos, ou melhor tem, mas o público não escuta esse áudio, então era uma incógnita o efeito que teria no público e exigiu uma entrega muito grande. É o tipo de coisa que chamamos de cinema de guerrilha no Brasil, e que eu, particularmente, adoro fazer e que envolve ir para um lugar muito longe, estar em um ambiente inóspito.

Na África isso foi potencializado porque ninguém ficou em hotel cinco estrelas, ficamos hospedados no que em Portugal eles chamam de noviciado, nós chamamos de convento. Tinha um conforto bom, mas tinha dias em que o banho era de água fria, por exemplo. Apesar de ser na África tinha um friozinho de noite, e eu até que levo isso numa boa. 

Às vezes eu me correspondia com os amigos daqui que fazem teatro comigo e eles comentavam "meu deus, você é maluco, só você para se meter nessas" (risos). Foi uma grande aventura.

Como é Moçambique?

A cidade em que filmamos chama Gurúè. Fiz muitas fotos lá, algumas delas estão expostas aqui em São Paulo. A equipe de produção pesquisou Angola e Moçambique, esses dois países de língua portuguesa e acabou escolhendo essa região de Moçambique pela geografia.

Tem muita névoa de manhã e no final da tarde, isso fica muito lindo na fotografia do filme, e tem o chá, que move a economia da região desde que era uma colônia portuguesa. Foi uma coisa muito diferente de ver as plantações de chá porque a gente não tem isso no Brasil.

E além de tudo isso tem o Monte Namuli lá, que é um monte mítico. Para subir lá é preciso da autorização dos líderes religiosos locais. Então não tem um monte de turista, é local de acesso difícil. Imagina que a gente foi de São Paulo para Johanesburgo, de lá para Maputo. De Maputo eu peguei outro voo até Kilimani e de lá foram cinco horas para Gurúè! (risos) E ainda as vezes a gente levava uma ou duas horas para chegar nos locais de gravação. Tô bem rodado... (Risos).

O Miguel Gomes é considerado um dos diretores autorais mais promissores atualmente?

Sem dúvida. Ele vem de uma linhagem de diretores portugueses como o Manuel de Oliveira e o Pedro Costa. O filme está fazendo muito sucesso pelo mundo, é uma surpresa. Saíram agora os números da Austrália, que é um mercado que ninguém conhece muito bem no meio, e mesmo sendo um filme que a gente pode chamar de cult ou alternativo, ele fez muito sucesso lá e na Argentina também.

Agora, eu espero que o Tabu fiquei mais tempo em cartaz porque César Deve Morrer, realmente o Brasil não viu o filme. É uma pena.

DIÁRIO CATARINENSE
Patrick Mendes / Blau Produções

Ivo Müller em cena do filme Tabu
Foto:  Patrick Mendes  /  Blau Produções


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