O clima, a gastronomia e o astral do inverno, que já está entre nós, pedem música que aqueça não só o corpo, mas também a alma. American Soul, trabalho de Mick Hucknall desde o anunciado fim do Simply Red, em 2010, parece feito sob medida para a estação.

As 12 faixas são resultado de pesquisa cuidadosa e perfeita para o estilo do intérprete, um dos grandes de sua geração no ato de cantar e na escolha de repertório. Frente ao Simply Red, ele ajudou a apresentar às novas audiências gente importante da música negra americana como Harold Melvin & The Bluenotes e The Valentine Brothers.

O mesmo propósito e dedicação aparecem nessa homenagem aos mestres do gênero.
A clássica That's How Strong My Love Is abre os trabalhos numa homenagem a Otis Redding. Turn Back The Hands Of Time destaca a capacidade de Hucknall em transformar uma música menos conhecida e torná-la mais acessível para quem pretende iniciar-se no soul. Don't Let Me Be Misunderstood, segundo o cantor, foi seu grande desafio: dar uma interpretação original e criativa a uma obra já regravada por muita gente, incluindo aí, o registro mais conhecido com o Animals.

Surpreendente é a inclusão de It's Impossible, hit do cantor Perry Como, nos anos 1970, que Mick descobriu aos 13 anos, quando trabalhava de garçom num clube na Inglaterra. Para aqueles que já passam dos 50, é uma daquelas músicas que — de tão batidas — ninguém mais quer ouvir outra vez. Mas na voz dele ganha notoriedade de bela canção atemporal. A minha preferida é I'd Rather Go Blind, eternizada na voz de Etta James, uma das tantas que fazem os 38 minutos de American Soul exigirem uma segunda audição.