Pelo menos nos últimos cinco anos, a rotina da professora Elisiane Wiggers tem sido percorrer o Brasil em busca de matéria-prima para suas coreografias. Ela viaja, se inspira, entra em sala de aula e digere para as alunas, que durante o Festival de Dança de Joinville se transformam em bailarinas.

Tal comprometimento com a cultura popular tem rendido frutos. Um grupo de dança do Recife chegou a elogiar a performance de maracatu da Escola Municipal Pedro Ivo Campos. O fato chamou a atenção também dos jurados de danças populares e rendeu vitória para Elisiane em duas categorias de grupos diferentes de Joinville.

"Maracatu", dançado por integrantes da Pedro Ivo, e "Caboclinhos", do grupo de dança da Posiville, garantiram o nome da cidade sede do evento na Noite dos Campeões da edição comemorativa aos 30 anos do Festival. Elisiane também foi indicada ao prêmio de revelação.

— Ainda não caiu a ficha. Não temos um clima de academia como os outros concorrentes, somos escolas, onde não há bailarinos, mas alunos — afirma a professora de educação física que desde 2000, quando Joinville implantou o Programa Dançando na Escola, dedica-se exclusivamente à modalidade.

Elisiane trabalha no programa em outras duas escolas do município e ainda ensaia pesado com os alunos da Pedro Ivo e da instituição particular Posiville. São duas horas e meia, em quatro vezes por semana, repassando a coreografia com as candidatas de danças populares do 31º Festival — as únicas da cidade que obtiveram vaga garantida neste ano.

— Vejo-me como uma pesquisadora de danças populares. Talvez o público não entenda o que está sendo dançado, mas sei que os jurados saberão — garante a coreógrafa, que vive em Joinville desde os oito anos.

Inspiração no Brasil

A equipe da Pedro Ivo conta com um histórico de vitórias ao seu favor. Além do ano passado, a escola tirou primeiro lugar na categoria júnior nos anos 2008, 2009 e 2010. Para conquistar o título de pentacampeão, Elisiane buscou na cidade de Olinda a tradição do Cavalo Marinho, folguedo folclórico tradicional da zona da mata de Pernambuco que mistura canto, dança e dramatização. "Galantes" disputa no conjunto júnior de danças populares.

A Posiville, que compete no Festival desde 2010 e garantiu vaga neste ano com "Caboclinhos", vem nesta edição com "Maculelê". A coreografia é inspirada na luta tribal que utiliza bastões como armas, com os quais os participantes desferem e aparam golpes no ritmo da música.

— A dança envolve um pouco de frevo e capoeira — adianta Elisiane.

O desafio da Posiville é ainda maior. A equipe compete com grupos que nos anos anteriores concorriam no gênero avançado, já que a mudança no regulamento exclui esta modalidade e reorganiza os candidatos acima de 16 anos para o sênior. Com a alteração, Posiville terá que se sobressair entre grupos como o Polonês de Erechim, considerado o melhor de 2012.