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Itapema FM  | 11/06/2013 15h10min

O Primeiro Festival de Dança de Joinville

Como perseverança e talento levaram o Festival a emergir de um amargo mês de julho, chegar a 30 edições e se tornar o maior do mundo

Os corredores da Casa da Cultura Fausto Rocha Júnior fervilhavam naqueles dias de calor na primavera de novembro de 1982, quando o diretor da Escola Municipal de Ballet, Carlos Tafur, entrou na sala da diretora-geral da Casa da Cultura extasiado por uma nova ideia. Atrás dele, ao ar livre, estavam artistas do Brasil inteiro que participavam do Encontro Latinoamericano de Arte Cerâmica.

À frente, estavam a diretora-geral da Casa da Cultura, Albertina Tuma, e a diretora da Galeria de Artes Victor Kursancew, Margit Olsen, organizadoras daquele evento que colocava Joinville no mapa das artes plásticas.

Toda aquela movimentação havia inspirado Tafur, que visualizou um novo projeto: um encontro de dança amadora com grupos de todo o País.

— Tafur queria aquele encontro de dança para acontecer logo (estávamos em novembro e ele queria organizar para janeiro) e que fosse na Casa da Cultura. Eu pensei um pouco e disse: vamos mais alto. Vamos fazer um festival —  conta Albertina.

O bailarino colombiano, que, além de dirigir a principal escola de balé de Joinville, era proprietário do Instituto Colômbia, tinha o conhecimento sobre as técnicas de dança, os contatos com as companhias de outros Estados e as atualizações sobre a história do gênero artístico. Albertina, que era artista plástica, já tinha a experiência de produzir o Encontro Latino-americano de Arte Cerâmica, o Encontro Nacional de Flauta Doce e o Salão Nacional de Porcelana, além de eventos de artes infantis. Eles uniram conhecimentos e experiências para, nos seis meses que se seguiram, organizar o 1º Festival de Dança de Joinville.

A expectativa de Tafur e Albertina era alta: esperavam que até 150 bailarinos se inscrevessem naquele festival que ninguém conhecia, em uma cidade que estava longe do eixo Rio-São Paulo. Entre março e junho, enviaram cartas com convites para os outros Estados, divulgaram nas escolas de dança da região e em eventos de dança que ocorriam no Rio de Janeiro e em São Paulo e esperaram as respostas.

Quando chegou o prazo final para as inscrições, as respostas contavam 660 inscritos de 47 companhias interessados em viajar para Joinville no mês de julho para se apresentar naquele festival que, se não era o único no Brasil em 1983, era um oásis no meio do desértico cenário da dança brasileira.

Nascido sob o signo da sorte

Quando a data prevista para o Festival de Dança finalmente chegou, Joinville vivia, provavelmente, o momento menos propício para um evento cultural de sucesso. Pelo segundo ano consecutivo, Santa Catarina passava por fortes tempestades que causaram enchentes, desbarrancamentos e destruição.

No dia 10 de julho de 1983, o Estado contabilizava quase 100 mil desabrigados, mais de mil casas destruídas, 14 mortes e dez municípios em estado de calamidade pública ou de emergência, muitos deles isolados, sem comunicação e sem água potável.

— O Festival nasceu sob o signo da sorte. Ele tinha tudo para nunca ter acontecido —  lembra Albertina.

Mas o show não podia parar e as companhias chegavam à cidade para o primeiro Festival. Ironicamente, naqueles dias, chovia em Joinville e algumas ruas ficaram alagadas, como a Blumenau e a Itajaí, mas a rua Quinze de Novembro, onde fica a Sociedade Harmonia-Lyra, permanecia sem cheias. Era lá que começava o encontro daqueles que viam nos movimentos e no ritmo um motivo a mais para existir – um encontro que continuaria existindo todos os anos, sem falhar, sempre na mesma época, e se tornaria o maior festival de dança do mundo. 

O 1º Festival de Dança de Joinville

Foram seis dias de Festival, com quatro noites competitivas. 

As modalidades disputadas eram clássico, neoclássico, jazz e danças folclóricas. 

Houve dois espetáculos extras na programação nas tardes de 14 e 15 de julho, pelos quais foram cobrados 100 cruzeiros, junto com a contribuição espontânea de quem pudesse pagar mais. O dinheiro recolhido nestes dois dias foi doado para as campanhas pelas vítimas das enchentes em Santa Catarina. 

Os grupos e bailarinos que receberam prêmios em dinheiro também doaram o valor às vítimas das enchentes. 

No total, 47 grupos se inscreveram e 40 vieram para o Festival. Quem morava no Sul não conseguiu chegar porque as estradas estavam fechadas.

Os grupos participantes de fora do Estado vieram de 15 cidades. Eles eram de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Paraná. 

O Festival era organizado pela Casa da Cultura em parceria com a Fundação Cultural de Joinville, na época presidida por Miraci Deretti, e patrocinada por empresas da região.

Para dar conta de todas as funções, no entanto, pais e mães de alunos da Casa da Cultura ( fossem eles bailarinos ou não) foram convidados a ajudar. Muitos deles continuariam atuando como voluntários por muitos anos. 

O orçamento do 1 º Festival de Dança de Joinville foi de cerca de 4 milhões de cruzeiros. Este valor corrigido signifi caria, em valores de hoje, R$ 53.110,19.

Festival de Dança / Divulgação

Nos anos 1980, os grupos folclóricos eram destaque no Festival de Dança, que tinha apenas quatro modalidades
Foto:  Festival de Dança  /  Divulgação


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