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Itapema FM  | 08/06/2013 08h21min

Marcelo Bonfá: "É a história da maior banda de rock do país"

Baterista da banda fala sobre a Legião Urbana e seu personagem no filme Somos tão Jovens

Layse Ventura  |  layse.amaral@kzuka.com.br

Trinta e um anos de banda, 15 sem Renato Russo, a veiculação de um clipe que nunca existiu, dois filmes em cartaz no cinema e um curta exibido no Festival de Cannes. Os dois últimos anos foram intensos para a Legião Urbana. Nem parece que a banda não toca mais junta.

Este é um ciclo de releituras de uma das bandas mais importantes para o Brasil e que já levou 1,5 milhão de espectadores ao cinema só no filme Somos tão Jovens. Fã assumido de Renato Russo e companheiro de banda, Marcelo Bonfá fala sobre a Legião, seu personagem no filme e da importância da maior banda de rock do Brasil.

Cultura DC — Podemos chamar 2013 de o ano da Legião Urbana?
Marcelo Bonfá — Essa coisa dos filmes já está rolando há muitos anos. Coincidentemente eles ficaram prontos agora, tanto Somos tão Jovens quanto o Faroeste Caboclo. Na verdade, o único filme que a gente tem mais ligação é o Somos, em que fomos consultados para ajudar a construir a ideia. O filho do Dado trabalhou no filme, o meu não trabalhou porque não pôde na época. Desde o momento que nós vimos o roteiro, gostamos, achamos legal, bem leve e que poderia servir como uma ponte entre essa nova galera que realmente não sabe muito bem o que aconteceu.

Cultura — E com o Faroeste?
Bonfá — Então, Faroeste Caboclo eu não tenho nada a ver com isso. Na verdade, Faroeste é uma música que conheci junto com Renato tocando violão para mim lá embaixo do prédio dele, que a gente ficava lá conversando. E ele me mostrou essa música que tinha 12 minutos e que conta uma história maravilhosa que é a história do Brasil, especialmente falando de Brasília. É um filme que já está pronto na minha cabeça há mais de 20 anos e na cabeça de todo mundo que já ouviu essa música. Então assim o filme é muito bem-vindo. Se não for fiel à letra, ele está dando um tiro no pé. Mas espero que ele seja fiel, porque se não for a galera não vai gostar não. É um filme pronto né?

Cultura — Como que é mostrar um Bonfá que sua família não conheceu?
Bonfá — Com relação aos meus filhos conhecerem esse momento eu acho que é interessante, eu coloco ele como garoto da faixa etária dos meus filhos mais ou menos. O filme é leve e abre portas para essa geração conhecer uma época que não tinha internet, telefone celular, e para a gente buscar informações era mais complicado, mas a gente tinha tanta paixão por isso. Eu acho que nessa época as coisas eram mais valorizadas, havia mais paixão. Então o filme torna essa questão do que aconteceu na nossa época de uma forma leve e que é uma abertura para essa geração nova para mostrar que pode ser diferente do que está acontecendo hoje. Tipo a galera sair para montar uma banda, juntar um grupo. E eu tenho percebido que isso está acontecendo.

Cultura — O que você acha que mudou talvez nestes 30 anos? O que favoreceu a criação da Legião, Plebe Rude, Capital Inicial naquela época?
Bonfá — Todo um contexto. Um contexto relacionado ao fato de a gente estar finalizando um período de ditadura, de a classe média estar sendo explorada pela indústria fonográfica; pelo fato de ter uma letra e música com conteúdo falando sobre essas coisas. Tinha uma galera da nossa faixa etária que estava muito a fim de dizer alguma coisa, e a música e a arte do jeito que a gente colocou ali, aquela letra e música vigorosa, chamaram a atenção dessas pessoas. Tinha um porta-voz e tinha pessoas a fim de ouvir. E a indústria fonográfica aproveitou esse momento para gravar. Você tinha um controle, ia fazer um LP, não tinha pirataria, internet, ou seja, a coisa se diluiu. Hoje em dia, a informação está na internet, você não precisa ter um porta-voz da música para expressar o que você quer. Você vai no Twitter, no Facebook, você encontra sua turma, você encontra a sua música na internet.

Cultura — Somos Tão Jovens acaba justamente na hora que a Legião se junta. Você sentiu falta de retratarem o que se tornou a banda a partir daquele encontro?
Bonfá — Não, cara. O que vem depois todo mundo já sabe. São shows, shows, trabalhos... Eu gosto de deixar um pouco isso para lá. Vai dar tanto trabalho fazer essas coisas dos shows. Até porque um show da Legião tinha 20, 30 mil pessoas que foram para ver a gente. Não acredito que eles consigam reunir tanta gente para filmar. A força da Legião estava também nas apresentações. A gente fazia poucos shows, mas shows muito grandes.

Cultura — Estamos vivendo um momento de cinebiografias, mas a do Cazuza não teve a mesma recepção do que a do Renato considerando os números do primeiro fim de semana de exibição. O que você acha que justifica essa disparidade?
Bonfá — O que eu posso dizer é que do filme do Cazuza para cá tem mais gente do que tinha naquela época; então a proporção tem que ser o dobro.

Cultura — Mesmo assim não justificaria ser o dobro.
Bonfá — Eu sei, estou brincando. A verdade é essa, que hoje em dia as estatísticas sempre saem no jornal. O Brasil cresceu muito, duplicou, triplicou. Em todas as cidades que eu vou o trânsito é caótico. Agora, eu sei que você não queria ouvir isso de mim.

Cultura — Queria saber se existe um apelo nas letras diferente.
Bonfá — Você quer que eu diga que Legião Urbana é bem melhor do que o Cazuza? Eu acho infinitamente melhor. O trabalho da Legião é... Eu não quero usar a palavra melhor, mas muito mais abrangente, tem muito mais conteúdo do que o Barão Vermelho, né? Modéstia à parte, o Cazuza era um cara mimado, né?

Cultura — A minha dúvida é mais cultural, porque ele era do Rio e vocês de Brasília.
Bonfá — Eu estou falando de conteúdo. É isso que eu quero dizer. O conteúdo da Legião Urbana é muito mais forte do que o conteúdo do Barão. Até a música que eles usavam para canalizar a mensagem do Cazuza vem do blues, que é um rock mais típico do Rio de Janeiro. Ou seja, não tem a força e a vitalidade do punk rock, que é uma coisa muito mais energética. Tá no som uma coisa de protesto, de irreverência muito maior. No blues nem tem isso. Então, acho que tem essa diferença.

Cultura — Isso explica o sucesso do filme?
Bonfá — As pessoas estão indo lá para ver a história da maior banda de rock do Brasil. E a diferença entre a maior banda de rock do Brasil está longe das outras, distante. Eu sei que você deve estar me achando o maior pedante, mas eu sempre fui fã do Renato Russo também. Foi por isso que a gente fez a banda. E foi por isso que me entreguei totalmente durante os anos que a gente existiu.

Cultura — Como foi isso de trabalhar com uma pessoa de quem eras fã?
Bonfá — Era ótimo. Eu sei que o Renato também era meu fã. Era uma química que funcionava. Banda é que nem casamento, cara. Tá junto é porque um gosta do outro e gosta de fazer tudo junto um com outro. Quando não se dão bem, acaba.

Cultura — E qual música você escolheria para transformar em filme?
Bonfá — Todas as músicas da Legião são cinematográficas, desde Ainda é Cedo, Eduardo e Mônica, Soldados. Todas as músicas dão o filme que você quiser.

DIÁRIO CATARINENSE
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Fã assumido de Renato Russo, Marcelo Bonfá comparada banda a casamento
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