Fabio Gadotti  |  fabio.gadotti@diario.com.br

Um longa-metragem independente que custou só R$ 40 mil e tem no DNA o pioneirismo de ter sido produzido originalmente para a internet. Lançado pelo Instituto Kreatori, Eu te amo Renato já superou 100 mil acessos desde que foi lançado em abril (assista em www.canalocubo.com), boa parte deles impulsionados pela velocidade dos compartilhamentos das redes sociais.

O filme começou a ser idealizado há um ano pelo diretor fluminense Fabiano Cafure, 34 anos, e faz parte de um projeto mais amplo que discute a produção audiovisual brasileira e a questão dos direitos autorais. Disponível gratuitamente numa plataforma Web, criada no ano passado para abrigar produções feitas com baixo orçamento e que ficam fora do circuitão comercial, Eu te amo Renato captou recursos por financiamento coletivo — conhecido como crowndfunding — e adota a licença Creative Commons, que permite visualizações e downloads gratuitos desde que sem interesse comercial. 

— É a grande revolução digital e que vai matar a pirataria — acredita Cafure, que aposta na webtv para veiculação de trabalhos com licença aberta, gratuita e livre. 

— A internet tem milhões de acessos diários e produzir um filme que possa ser acessado gratuitamente, em qualquer canto do país, é maravilhoso — reforça o ator Felippe Vaz, 22 anos, estudante de artes cênicas no Rio e que vive um dos protagonistas da história.

O título remete a Renato Russo, cujas composições embalam o triângulo amoroso entre Beto — personagem de Felippe — Adriana e André, interpretados por Ingrid Conte e Vinícius Moulin Allemand na histórica cidade de Valença, interior do Estado do Rio, em 1996. 

— A década de 1990 é uma época muito apagada da nossa história — acredita Cafure, que destaca o valor histórico do líder do Legião Urbana para a geração que está hoje na faixa dos 30 aos 50 anos e diz ser coincidência o lançamento simultâneo de seu projeto com Faroeste Caboclo e Somos tão jovens, também homenagens ao músico brasiliense.

Confira o trailer do filme

No caso de Eu te amo Renato, canções conhecidas do público como Tempo Perdido, Monte Castelo e Eduardo e Mônica não conduzem o enredo, mas servem como referência importante de um período que, como o próprio diretor salienta, marca o fim da geração Coca-Cola, da máquina de escrever e das cartas escritas à mão.

Com uma sensível direção de fotografia de Marcio Thees, interpretações seguras do iniciante trio principal e locações privilegiadas, o longa foge de clichês ao mostrar o relacionamento e conflitos dos três jovens universitários. E, se depender da vontade do diretor estreante, também pode ser divisor de águas no mercado independente.

DIÁRIO CATARINENSE