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Itapema FM  | 02/06/2013 17h04min

Bajofondo lança seu trabalho mais conceitual

Gustavo Santaolalla fala sobre "Presente", novo álbum do grupo argentino

Daniel Feix  |  daniel.feix@zerohora.com.br

Seis anos depois de Mar Dulce (2007) e mais de uma década após o estouro com Bajofondo Tango Club (2002), o octeto liderado por Gustavo Santaolalla e Juan Campodónico lança seu terceiro disco de inéditas.

Terceiro, mais arriscado e pretensioso entre todos os trabalhos do Bajofondo.

O álbum se chama Presente e carrega a mesma identidade visual dos demais discos da banda, aí incluídos, além dos já citados, as edições de remixes como Pa’ Bailar (2007). Só que, para além da fotografia que flagra (em outro ângulo) a meia arrastão característica do figurino das dançarinas de tango, tudo parece diferente. Falando a ZH por telefone, o argentino Santaolalla usa frases ambiciosas para definir Presente (“Bajofondo faz música Bajofondo”, sobre gêneros e estilos) e referências ousadas (“É o Pet Sounds, o Sgt. Peppers da banda”, sobre a aposta em algo conceitual).

– A banda começou a partir do propósito de fazer samples e formar um “tango club”, mesmo – ele lembra. – O desenvolvimento dos shows e a entrada de Adrián (Sosa, baterista) foram fatores que nos levaram a algo mais orgânico. Daí surgiu o Mar Dulce. Com a sucessão de apresentações ao vivo, foi naturalmente se construindo algo diferente, que transcende os rótulos pré-existentes e aquele tipo de música que começamos fazendo. O novo disco emerge daí.

Maestro, produtor e um dos melhores compositores de trilhas de cinema (venceu dois Oscar, por Babel e O Segredo de Brokeback Mountain), Santaolalla diz que o octeto se impôs certas premissas para guiar a concepção e a produção de Presente. Uma delas, em oposição ao que se verificou no álbum anterior, foi a de não contar com convidados especiais. Outra: criar algo cinematográfico, que surgisse a partir de imagens e lembrasse uma narrativa, ainda que não exatamente linear.

– É correto dizer que se trata do nosso disco de estúdio mais parecido com os shows, porque foi a partir da dinâmica de palco que o Bajofondo se construiu. Eu diria que começamos fazendo canções. Agora chegamos ao ponto em que formatamos um conceito musical para além das nossas canções – explica.

Sem parceiros como Elvis Costello e Nelly Furtado (que participaram de Mar Dulce), os próprios integrantes do Bajofondo cantam em Presente. Incluindo Santaolalla, de quem se ouve a voz, por exemplo, em Circular e Así Es (Propergol). Ainda há muitos elementos eletrônicos e melodias de pista de dança.

– Mas também há mais orquestra – aponta o músico –,  o que nos permitiu avançar na impressão de que Presente é um disco bastante visual, que te leva às sensações mais diversas”.

Se você procura uma definição mais objetiva, pé no chão, este é o conceito: Santaolalla e companhia querem pegar você pela mão e conduzi-lo a uma viagem de percepções surpreendentes, de tão diferentes entre si. Para tanto, apostam no encontro de universos paralelos que usualmente não se cruzam. Algumas dessas combinações são bastante felizes, como o coro “de estádio de futebol” com percussão de candombe ouvido em Olvidáte. Ou como a inusitada mistura de tango com rock’n’roll em La Trufa y el Sifón.

Sim, há estranhamento, que para alguns pode soar como indecisão – sensação ruim reforçada pela constatação de que as melhores faixas são, no fim das contas, aquelas que apostam em formatos e melodias mais pop, notadamente Lluvia e Pena en Mi Corazón. Contudo, isso é inegável, o Bajofondo conseguiu se afastar de rótulos limitadores como o tango eletrônico.

Julho em Porto Alegre?

A turnê de lançamento de Presente começou com concertos entre a América Central e os Estados Unidos em abril e, desde então, desce rumo ao Sul. Quando falou a Zero Hora, dias atrás, Gustavo Santaolalla contabilizava 20 shows realizados. Na semana passada, as paradas foram na Colômbia, em Bogotá, Cáli e Medellín.

E quanto a Porto Alegre? Santaolalla lembra do concerto na cidade em 2008, em que, mesmo em meio às cadeiras da plateia do Teatro do Bourbon Country, o público se pôs a dançar.

– Recordo perfeitamente, embora isso (o público se pondo a dançar) aconteça frequentemente nos nossos shows – responde o músico. – A identificação do pessoal aí do sul do Brasil com a música argentina e uruguaia faz a apresentação daí parecer diferente das de outras cidades brasileiras. Espero que depois de um disco assim diferente, como Presente, isso não se perca.

Ainda que Santaolalla insista na ideia de álbum conceitual e que haja canções instrumentais e misturas diversas, faixas como Pide Piso parecem feitas na medida para as pistas. Por enquanto, não há shows marcados para o Brasil, mas Santaolalla revela o momento que o Bajofondo reservou para vir ao país:

– Julho seria perfeito. Vamos ver se dá certo.

ZERO HORA
Picky Talarico / Divulgação

Santaolalla (sentado, ao centro, de preto) e o Bajofondo
Foto:  Picky Talarico  /  Divulgação


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