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 | 20/05/2013 15h18min

Alessandra Negrini brilha em "O Abismo Prateado", que estreia nesta terça-feira

Filme que Karim Aïnouz dirigiu inspirado em Chico Buarque chega com atraso a Porto Alegre

Daniel Feix  |  daniel.feix@zerohora.com.br

Dramaturgia mínima, emoção máxima. São assim os filmes do cineasta cearense Karim Aïnouz, entre os quais está O Abismo Prateado. Exibido pela primeira vez há exatos dois anos, no Festival de Cannes de 2011, o longa só agora chega a Porto Alegre. Entra em cartaz nesta terça-feira, apenas na Sala Eduardo Hirtz da Cinemateca Paulo Amorim, em duas sessões diárias, às 14h30min e às 18h.

A estreia discreta é inexplicável não apenas pela demora, mas por se tratar de um filme com apelo de público. O Abismo Prateado traz Alessandra Negrini em sua melhor performance no cinema – e isso que ela vem de uma sequência com o diretor Júlio Bressane (em Cleópatra e A Erva do Rato) – e é bem menos ousado formalmente do que Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo (2009), o longa anterior de Aïnouz (codirigido com Marcelo Gomes), que ficou quase cinco meses ininterruptos em cartaz em um shopping porto-alegrense.

O tema é o mesmo de Viajo... e também de O Céu de Suely (2005): o abandono. A trama de O Abismo... se passa em um dia, quando Violeta (papel de Alessandra), uma dentista de 40 anos da Zona Sul do Rio, casada e com um filho adolescente, recebe um recado na secretária eletrônica. É o marido (Otto Jr.), com quem ela vinha mantendo uma relação aparentemente estável, do ponto de vista sexual inclusive, dizendo que não a ama mais e que vai embora para Porto Alegre.

Aïnouz, então, passa a acompanhar o desespero da mulher, ora em busca dos rastros do homem, ora andando sem rumo pelas ruas do Rio ou batendo cabeça na pista de dança enquanto ouve – e se identifica com – Maniac, de Michael Sembello, um dos temas de Flashdance (“She’s a maniac, maniac on the floor/ And she’s dancing like she’s never danced before”, lembrou?).

Invariavelmente à mão e às vezes muito próxima do rosto da protagonista, a câmera capta com precisão o nervosismo e a intensidade da jornada de Violeta. Duas sequências impressionam: a que inicia na boate e termina na beira da praia, com belíssimas imagens das ondas do mar simbolizando a ideia de vislumbrar luz mesmo no abismo, e a do aeroporto, para onde ela vai de carona com um pai (Thiago Martins) e sua filha pequena (Gabi Pereira), um tantinho mais calma mas ainda pensando em pegar um avião rumo à capital gaúcha.

O inferno de Violeta é o céu de Alessandra: diante de uma história pequena, com dramaturgia moldada a partir de um único conflito, a expressividade da atriz multiplica o potencial dramático de O Abismo Prateado. É um erro considerá-lo um filme menor – apesar da estratégia de lançamento. Sua alta voltagem emocional e sua elevada carga poética garantem, além de amplo alcance, a complexidade digna do grande cinema.

A inspiração
O Abismo Prateado é um daqueles filmes originados da letra de uma música, como Veludo Azul, de David Lynch (inspirada em Blue Velvet, do The Clovers), Uma Linda Mulher, de Garry Marshall (em Oh, Pretty Woman, de Roy Orbinson), e Faroeste Caboclo, que René Sampaio dirigiu a partir da canção homônima da Legião Urbana
(e que estreia no dia 30).
No caso de O Abismo Prateado, a trama sobre o pé na bunda sofrido por uma dentista pode lembrar as canções de dor-de-cotovelo de Lupicínio Rodrigues. Na verdade, no entanto, foi toda ela moldada a partir da canção Olhos nos Olhos, que Chico Buarque compôs e gravou pela primeira vez em 1976. Confira a íntegra da letra:

Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
E que venho até remoçando
Me pego cantando, sem mais, nem por quê
Tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você
Quando talvez precisar de mim
Você sabe que a casa é sempre sua, venha, sim
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz

O Abismo Prateado
De Karim Aïnouz. Com Alessandra Negrini, Otto Jr., Thiago Martins, Gabi Pereira e Carla Ribas.
Drama, Brasil, 2011. Duração: 83 minutos. Classificação: 14 anos.
Em cartaz em duas sessões diárias, a partir desta terça-feira, na Sala Eduardo Hirtz da Cinemateca Paulo Amorim, em Porto Alegre (veja os horários de exibição no roteiro de cinema).
Coração: 4 de 5 estrelas.

Vitrine Filmes / Divulgação

Alessandra Negrini é Violeta, dentista que acaba de ser abandonada pelo marido
Foto:  Vitrine Filmes  /  Divulgação


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