Terapia de Risco começa como um drama sobre a depressão de uma garota cujo jovem marido está na cadeia. Conforme se desenvolve o seu tratamento médico, parece que vai se tornar um daqueles títulos sobre a sanha inescrupulosa da indústria (de medicamentos, no caso). Ao fim, no entanto, revela-se um suspense intrincado, cheio de mistérios e quebras de expectativas.

O que importa é que se trata de um bom filme, o melhor de seu prolífico e diretor desde o díptico Che (2008).

Falo de Steven Soderbergh. O cineasta norte-americano, 50 anos recém-completados, chegou a afirmar que este seu 27º longa, que estreia hoje, seria seu último. Não cumpriu a promessa, visto que prepara uma cinebiografia do pianista e showman Liberace (1919 – 1987), estrelada por Matt Damon. Terapia de Risco ensaia o retorno às tramas sobre os labirintos da consciência, como Kafka (1991), e sobre os labirintos de interesses escusos, ao estilo de Traffic (2000). Na verdade, tem mais a ver com Onze Homens e um Segredo (2001), talvez o tipo de filme que o diretor consiga mostrar maior desenvoltura.

Rooney Mara (a atriz de Os Homens que Não Amavam as Mulheres) é a citada jovem depressiva, Emily Taylor. Channing Tatum interpreta Martin, o seu marido, que passou os últimos quatro anos detido. Mas o principal conflito se dá com o terapeuta da garota, Jonathan Banks, papel que traz Jude Law de volta à condição de protagonista depois da surpreendente performance como o marido traído de Anna Karenina (2012).

Há uma quarta figura-chave no quebra-cabeça: a ex-psiquiatra de Emily, Victoria Siebert (Catherine Zeta-Jones). Quando a garota aparece no hospital em que Banks trabalha após uma tentativa de suicídio, e se torna sua paciente, é à doutora Siebert que o médico recorre para saber mais de seu passado.

A partir de sugestão de Siebert e da própria Emily, que possui intimidade com antidepressivos, por assim dizer, Banks receita uma droga nova e pouco experimentada, a Ablixa. Seus efeitos colaterais, citados no título original (Side Effects), vão desencadear uma série de acontecimentos, entre eles uma tragédia, que o espectador é desafiado a descobrir driblando pistas falsas que em certos momentos podem levá-lo a questionar, com boa dose de razão, a verossimilhança da trama.

É engenhoso o roteiro de Scott Z. Burns (de O Ultimato Bourne, que antes trabalhara com Soderbergh em Contágio e O Desinformante). Funciona plenamente em suas pretensões de envolver o público até as revelações de sua metade final, tornando a fruição prazerosa. Os personagens, convém ressaltar, carecem de nuanças, profundidade. De certo modo, estão ali cumprindo um papel na engrenagem – armadilha comum nesse tipo de produção.

Outro problema é a articulação de certas sugestões. Uma delas tem a ver com a crise financeira de Banx, cuja mulher (Vinessa Shaw) está desempregada, o que leva o médico a se envolver com o experimento de medicamentos não consolidados no mercado.

O quanto isso é determinante na história de Emily Taylor o espectador também precisa descobrir por si só ao longo da sessão. Ainda que o início deste texto já deixe claro: vá ao cinema, o filme vale a pena, mas espere menos um tratado social sobre a (falta de) ética no capitalismo de interesses e mais um suspense sobre a incrível jornada de uma garota doente, seus terapeutas e, aí sim, os interesses pessoais de cada um deles.

Terapia de Risco
(Side Effects)
De Steven Soderbergh. Com Jude Law, Rooney Mara, Catherine Zeta-Jones, Channing Tatum e Vinessa Shaw.
Suspense, EUA, 2013. Duração: 114 minutos. Classificação: 12 anos.
Estreia hoje no circuito (veja as salas no roteiro de cinema da Agenda).
Cotação: 3 de 5 estrelas.