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Itapema FM  | 06/05/2013 15h45min

Entrevista: uruguaio Jorge Drexler fala sobre a relação cultural da América do Latina com o Brasil

O músico se apresenta em Florianópolis nesta sexta, 10 de maio, no Teatro do CIC

Roberta Ávila  |  roberta.avila@diario.com.br

O uruguaio Jorge Drexler nem sabe porque fala português. Nunca fez aulas e quando veio ao Brasil pela primeira vez, para um mochilão que marcou sua vida, no verão de 1984, já falava nossa língua. Acredita que aprendeu com a música brasileira, que adora.

Fã de Ary Barroso, já tocou muito João Gilberto e aqueles que considera seguidores de João - Caetano e Gil. Amigo de Paulinho Moska e Lenine, gosta de Chico César, acha Roberta Sá "maravilhosa" e adora Beto Vilares, Rodrigo Amarante e Marcelo Camelo. Um dos mais célebres uruguaios, único vencedor do Oscar nascido no menor país da América do Sul, volta ao Brasil com o show Mundo Abisal.

Abissal — que pode significar tanto assombroso quanto fazer referência ao abismo e às grandes profundezas marítimas — é classificado por ele como um show minimalista e teatral, com muita importância nas luzes e na cenografia.

Em Florianópolis, a apresentação será na sexta, às 21h, com ingressos entre R$ 170 e R$ 190 (confira o serviço completo na Agenda). Por telefone, direto do México, onde se apresentou em abril, Drexler conversou com o DC sobre a relação do Brasil com a América do Sul e sobre a experiência de ter feito a música Al Otro Lado Del Río para o filme Diários de Motocicleta, de Walter Salles.

Al Otro Lado del Río lembra muito um conto de Guimarães Rosa, A Terceira Margem do Rio. Existe alguma ligação?

Sim, conheço. Caetano Veloso fez uma música sobre esse conto. Não tinha pensado nisso. Mas já conhecia a canção do Caetano quando escrevi a música, ele fez com o Milton (Nascimento), acho. Nunca tinha feito essa conexão, olha que interessante. Não li a história do Guimarães original, mas acredito que pode ter uma relação inconsciente. Sou um grande fã de Caetano e Milton e li muitas coisas de Guimarães.

Como foi seu contato com o Walter Salles quando você fez a música para a trilha sonora do filme Diários de Motocicleta (vencedora do Oscar de Melhor Canção em 2005)?

Ele me ligou. Acho que algum amigo dele, que também é diretor, deu meu disco para ele e ele me ligou e deixou um recado na minha "máquina de contestadora". Ele me pediu para escrever uma canção especialmente para o filme e me mandou o roteiro. Eu li de noite, fui dormir e acordei com a música na cabeça, já sonhada. Sonhei essa canção. Escrevi de pijama sentado na cama (risos).

Tem uma música do Raul Seixas em que ele fala sobre compor sentado na cama de pijama. Você conhece?

Seixas, si, si, si. É um momento muito especial esse em que você acabou de acordar. O único momento inteligente do meu dia é a primeira meia hora (risos). Depois eu já entro no cotidiano... (risos)

Falando sobre essa referência ao Guimarães Rosa, a literatura influencia sua música?

Muito. Nos últimos anos li muita poesia métrica espanhola, baseada nas décimas, no soneto. Eu gosto muito do verso clássico. Isso entrou muito na minha cabeça. Também gosto bastante de prosa, mas isso é mais comum. Encontro pouca gente que compartilhe meu gosto por poesia métrica... (risos).

Em entrevista com o Paulinho Moska em 2012, conversamos um pouco sobre a amizade e a parceria de vocês (ele disse que acredita que existe uma dificuldade do Brasil de se relacionar com a América do Sul, tanto na música quanto na literatura. Você concorda?

Acho que isso está mudando no Brasil e começou a mudar já há alguns anos. A língua espanhola é agora um vetor importantíssimo nos Estados Unidos. Talvez tenha sido decisiva a presença latina para a eleição do presidente Barack Obama. E o Brasil tem um referente muito importante nos Estados Unidos. Se espelha muito lá. A miscigenação cultural, relação com a raiz africana misturada com a cultura europeia e nativa, tem uma relação muito forte com a cultura deles e com a do Brasil. E agora os EUA estão se tornando hispano parlante. Então, o espanhol entrou no Brasil por um desvio, fez uma volta nos EUA para chegar aí. É certo que nos anos 1980 e 1990 o Brasil ficou muito fechado na sua própria cultura, mas agora está se abrindo. Tenho essa percepção.

Em entrevista para um site de Montevidéu você disse que acreditava que os diretores de cinema hispânicos estavam abrindo caminho em relação à estética norte-americana e que os músicos hispânicos estavam atrasados em relação a eles.

Mesmo isso também está mudando agora também. Tem grupos incríveis como Calle 13, Ana Tijoux em Chile, gente muito jovem fazendo coisas maravilhosas. Eu pensava isso mesmo faz uns cinco anos, mas estou mudando minha opinião.

Já que você citou esses grupos, você poderia indicar para a gente o que ouvir na música uruguaia?

Ah, perfeito! Martin Buscaglia, Daniel Drexler, meu irmão, está fazendo um trabalho muito interessante com a regionalidade do Rio Grande do Sul e do Uruguai. Está o tempo todo fazendo pontes em Montevidéu e Porto Alegre e conhece muito bem a música gaúcha. Você tem que ouvir Bajofondo, uma banda de tango eletrônico argentina e uruguaia, muito conhecida na Europa, fazem turnês enormes. Dentro de Bajofondo está Campo, Juan Campodónico, que é maravilhoso também e Luciano Supervielle. O mundo do rock uruguaio está num momento muito especial. Tem uma banda que No Te Va Gustar. No Te Va Gustar é o nome da banda. El Cuarteto de Nos, La Vela Puerca que são muito boas. 

Para compor junto

Jorge Drexler acaba de lançar o aplicativo N. O nome é uma referência ao símbolo matemático que indica os números naturais e também às muitas combinações que o aplicativo possibilita. São  três canções compostas por Drexler e que podem, como ele diz, ser "intervenidas" pelo ouvinte. As 40 opções de versos gravados com a voz do uruguaio podem ser montadas na sequência que o internauta desejar. Cada um monta sua música nova, em parceria com Drexler. Confira no site oficial do cantor.

Agende-se
O quê
: Jorge Drexler no show Mundo Abisal
Quando: sexta, 10 de maio, às 21h
Onde: Teatro Ademir Rosa (Av. Gov. Irineu Bornhausen, 5600, Bairro Agronômica)
Quanto: de R$ 170 a R$ 190, meia entrada R$ 85 e R$ 95. Ingressos à venda na bilheteria do CIC e do Teatro Pedro Ivo, site www.blueticket.com.br e quiosque Blueticket do Beiramar Shopping. Meia entrada à venda somente nos pontos de venda físicos. Desconto para Clube do Assinante DC.
Mais informações: (48) 3222-9292 e (48) 4062-0065

DIÁRIO CATARINENSE
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