Referência do rock eletrônico há três décadas, o Depeche Mode definiu um ciclo de produção de músicas inéditas em intervalos regulares de quatro anos. Com Delta Machine, 13º álbum de estúdio do trio inglês, fica evidente que, desta vez, a pausa foi bem aproveitada, e a máquina sonora da banda volta totalmente azeitada.

À primeira vista, o mundo do trio formado por Dave Gahan (vocal), Martin Gore (teclados e guitarra) e Andy Fletcher (teclados e programações) parece ter mudado pouco, mas as aparências, é claro, enganam. Delta Machine mergulha mais fundo no blues, estilo já explorado pelo trio em músicas como Personal Jesus e I Feel You. Já o resgate da sonoridade oitentista remete ao clima de alguns dos melhores álbuns do grupo, especialmente Violator (1990) e Songs of Faith and Devotion (1993).

Produzidas por Ben Hillier (de Think Tank, do Blur) e Flood (Nine Inch Nails), as 13 faixas de Delta Machine acentuam o clima sombrio das composições do Depeche, desta vez com um acréscimo: o sofrimento pelo qual passou o vocalista, que foi operado para a retirada de um tumor na bexiga há quatro anos, durante a turnê anterior, e que motivou o cancelamento de dois shows no Brasil na época.

O ritmo arrastado e marcante do blues encontra uma base perfeita nos riffs criados por Gore e pela interpretação visceral de Gahan. A trinca de integrantes mostra que o blues eletrônico da banda voltou para ficar e é um caminho que pode direcionar futuros trabalhos. Os temas recorrentes nas letras – amor, compaixão, fé e amizade – continuam. Porém, existe uma coesão não encontrada no trabalho anterior, Sounds of the Universe (2009).

Delta Machine é um álbum que merece mais do que uma primeira audição. A cada nova experiência, as nuances eletrônicas vão parecendo menos estranhas e se encaixam perfeitamente. Como no primeiro single, Heaven, no qual a guitarra e uma batida minimalista conduzem uma letra de purificação, redenção e lirismo.

Além das faixas blueseiras, a voz inconfundível de Gahan está em ótima forma em músicas como Broken – o ponto alto do álbum –, The Child Inside e no refrão de Should Be Higher.

Já a retomada do som característico do Depeche está em faixas como Soft Touch-Raw Nerve e Soothe My Soul, que bem poderiam integrar a primeira fase do grupo e devem fazer bonito na nova turnê, que começa neste mês e promete ser ainda melhor sucedida do que a anterior. Após tanto tempo de estrada, o Depeche Mode mostra que ainda tem muito (bom) combustível para queimar.

Delta Machine
Depeche Mode
> Rock eletrônico, Sony Music, 13 faixas, R$ 27,90 (em média)
> Cotação: 3 de 5