As alterações no regulamento do Festival de Dança de Joinville estão visíveis antes mesmo de a programação começar. Neste ano, o evento recebeu 400 inscrições a menos se comparado à edição de 2012, que chegou à marca de 2.600. O instituto ainda não avaliou os motivos da redução, mas afirma ter sido este o objetivo das mudanças discutidas desde o ano passado com a curadoria artística do Festival.

— Estávamos com um volume muito grande de inscrições, que só cresciam a cada ano, e isso dificulta a avaliação — justifica o presidente do instituto, Ely Diniz, que garante que as mudanças atendem aos padrões internacionais de competições da área.

Segundo a organização, as alterações não excluem nenhum bailarino do evento, apenas reorganiza as categorias. Na Mostra Competitiva, a faixa etária do nível júnior, para bailarinos de 13 a 14 anos, foi ampliada para 13 a 16 anos. Com isso, o nível sênior passa a abranger o restante dos bailarinos que têm mais de 16 anos. O termo avançado desaparece do Festival de Joinville.

Algumas nomenclaturas também foram deixadas de lado na competição. A partir deste ano, as coreografias interpretadas por três bailarinos serão consideradas como conjunto. Nas coreografias grand pas de deux, não haverá partner acompanhante, ambos os bailarinos serão avaliados. Nos anos anteriores, havia a possibilidade de somente a bailarina ser avaliada.

Para os competidores de balé clássico de repertório, a diferença também está na escolha das coreografias. Os inscritos nas categorias de variação feminina e masculina e grand pas de deux da Mostra Competitiva precisaram escolher um trecho entre uma lista de pré-indicações.

A medida foi uma sugestão da curadora Cecília Kerche e impede que sejam escolhidas obras que não são condizentes com a faixa etária dos competidores. Esta predefinição existia somente para a competição Meia Ponta.

O impacto que as mudanças no regulamento trarão para as premiações dos grupos de dança só deve ser discutido com mais envergadura a partir do dia 27 de julho, quando a 31ª edição do Festival fechar as cortinas. Por enquanto, as companhias sentiram os efeitos na hora de selecionar e inscrever seus bailarinos.

Guilherme Darzi de Lemos, da Cia. Petite Danse, grupo do Rio de Janeiro que vem a Joinville desde 2004 e já conquistou importantes destaques, como os prêmios de melhor grupo e melhor bailarina, acredita que a ampliação da categoria júnior pode não ser uma forma justa de avaliação.

— Penso que um aluno nascido em 2000 competindo com outro nascido em 1997 é uma diferença de idade muito grande. Dois anos de balé fazem muita diferença no aprendizado de um aluno, imagina três anos — aponta o professor.

Já Dina Stanghini, do Sheila's Ballet, de Piedade (SP), vê benefícios na formação de elenco dos conjuntos, que passam a poder conter bailarinos de mais idade.

As novas exigências em relação ao pas de deux fizeram com que a Petite Danse deixasse de inscrever cinco coreografias neste ano.

— Aqui no Brasil não temos muitos rapazes dançando balé, e quando temos normalmente começam com 15, 16 anos. Com isso, temos muita dificuldade em trabalhá-los para dançarem pas de deux. Os repertórios e os duos livres requerem experiência por parte dos partners para realizarem as pegadas, os lifts, e etc. As meninas começam o balé super cedo, e quando estão com 13, 14 anos, já precisam ter experiência de pas de deux — explica Guilherme.

A mesma preocupação ocorre com a Especial Academia de Ballet, de São Paulo. O coreógrafo Guivalde de Almeida conta que deixou de inscrever uma excelente bailarina na categoria júnior por não dispor de um partner no mesmo nível técnico.

— Também sou contra as limitações nas coreografias de clássico de repertório. Sou um pesquisador e gosto de buscar balés antigos — aponta Guivalde.