Não é a primeira vez que o ator Thiago Mendonça dá vida, nos cinemas, a um músico popular e querido no Brasil: ele interpretou Luciano no filme 2 Filhos de Francisco. Agora, no filme Somos Tão Jovens, que estreia em todo o país no dia 3 de maio - a pré-estreia acontece nesta quarta-feira, dia 24 de abril -, Thiago assumiu a responsabilidade de interpretar Renato Russo, um dos maiores ícones da história do rock brasileiro. Em entrevista exclusiva à Itapema, o ator comentou esta experiência.

Itapema: Quase todo brasileiro que nasceu depois do sucesso do Legião Urbana teve ao menos uma fase de ouvir a banda, conhecer Renato Russo, aprender as letras das músicas; mesmo não sendo fã. Como era a sua relação com as músicas do Renato e da Legião, antes de se envolver no Somos Tão Jovens?
Thiago: Eu conhecia a Legião Urbana, é claro, mas não era um fã - um "legionário", como eles se chamam. Acho que eu ainda não sou exatamente um fã; não tenho essa veneração, essa paixão que os fãs mesmo têm. Mas eu respeitava. Afinal de contas, essas músicas fazem parte da história do rock brasileiro. Eu acabei conhecendo mais e melhor por causa do filme, e também tem o fato de que hoje eu sou um adulto: eu tenho maturidade para entender coisas que o Renato escreveu e que não entendia quando era criança. Assim a gente acaba admirando mais.

Itapema: E como é a sua relação com a música, de forma geral? Quais estilos e bandas você gosta de ouvir?
Thiago: De tudo! Eu sou muito eclético. Não consigo me classificar como roqueiro, ou forrozeiro, ou o que for. Tem músicas que me conquistam pelo ritmo, por serem dançantes, por exemplo; já outras me chamam a atenção pela poesia, pela mensagem. Eu ouço Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Mutantes, Adele, Coldplay, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, The Black Keys... Também acho música clássica linda. Fazer 2 Filhos [o filme 2 Filhos de Francisco, em que Thiago interpreta o cantor Luciano] me aproximou da música sertaneja também. Tudo depende do momento.

Itapema: Como aconteceu de você se envolver neste filme?
Thiago: Olha, nessas horas eu penso naquela frase do Caetano Veloso, que diz: "É impressionante a força que as coisas parecem ter quando elas precisam acontecer". Eu acho que foi isso. Eu já ouvia falar deste filme desde muito antes de 2007, que foi quando eu fui convidado para fazer os testes, e nós acabamos gravando só em 2011. E no caminho teve muita incerteza, muita conversa... No fim eu acho que aconteceu porque tinha que acontecer.

Itapema: No filme, além de atuar, você canta, e toca violão, guitarra e contrabaixo. Como você se preparou para o papel?
Thiago: Eu tive que aprender tudo isso. Eu não sabia tocar nada. E, mais do que aprender a cantar, eu tive que desenvolver a coragem para cantar. Mas eu acho que a principal preparação foi estar junto de gente que realmente conviveu com o Renato, que conhecia ele muito bem. O Trilha [Carlos Trilha, produtor musical do filme, que tocou com Renato], a Carmem Tereza Manfredini, irmã do Renato, que me ajudou até com as pronúncias em inglês... Até mesmo os fãs. Eu respeito muito os fãs, esse envolvimento que eles têm com a música da Legião. Acho que o meu trabalho é o conjunto da contribuição afetuosa de todo mundo que, de um jeito ou de outro, conheceu o Renato, e queria ver esse filme sair bem feito.

Itapema: Interpretar um músico que é um verdadeiro mito e um ídolo para tanta gente não parece uma grande responsabilidade?
Thiago: Eu já fiz isso uma vez, quando interpretei o Luciano. Talvez o Renato tenha essa mística maior porque ele não está mais aqui, né? Ou melhor, ele está, claro, através das músicas, da obra dele. Mas não está presente da mesma maneira que o Luciano ainda está. Então eu acho que tem essa responsabilidade de corresponder a uma imagem que os fãs já têm, porque com certeza eles vão comparar. Mas isso também torna as coisas mais divertidas. E enriquece o período de pesquisa, de preparação para o personagem. O bom é que a obra do Renato está aí, disponível para todo mundo, então eu tive bastante material para me basear.

Itapema: Você consegue imaginar o impacto que Somos Tão Jovens vai ter em sua carreira?
Thiago: Eu não gosto de ficar criando expectativas. O que importa pra mim é o presente. Eu já me sinto muito privilegiado por ter participado deste projeto, por ter tido um contato mais íntimo com a arte e a poesia de uma pessoa maravilhosa como o Renato, um cara que cantava coisas lindas e ao mesmo tempo protestava, denunciava as ruins. O que eu vivi no set já me enriqueceu muito.