A nostalgia costuma renovar o fôlego em ciclos de 20 anos, e agora parece ser a vez do culto ao arquivo pop da década de 1990. Moda, música, televisão, comportamento e cinema reavivam e reciclam sucessos para conquistar o consumidor que cresceu na época ou se identifica fortemente com seus grandes nomes.

Depois de uma intensa e prolongada reedição dos anos 1980, indícios recentes reforçam a sensação de que o calendário das lembranças, no Brasil e no Exterior, passou à etapa seguinte. Pearl Jam e Planet Hemp empolgaram o Lollapalooza em março, Raça Negra e Só Pra Contrariar resgatam o pagode romântico, a nova versão de Carrossel encanta as crianças, o skate volta a circular, a estética de Quentin Tarantino segue influenciando diretores.

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Os 90 se aproveitaram do excesso de informação e referências, permitido a partir da popularização dos computadores pessoais e da internet. 

— O revival contém questões existenciais: o que somos, para onde vamos, o que éramos, como seremos. Tentamos nos livrar do que não serve e celebrar o que valeu a pena — diz Priscilla Guimarães, professora do curso de Publicidade da PUCRS e mestre em Cultura e Comunicação Digital. — Não se recuperam os anos 1990, mas se significam coisas dos anos 2010 a partir daquela visão. Busca-se energia em outra década para viver a nossa — completa.

Na área de análise de comportamento do consumidor, André Oliveira, do núcleo de tendências do escritório Box 1824, de São Paulo, costuma se orientar pela chamada regra das três vezes para localizar manifestações típicas em diferentes esferas e legitimar movimentos. O revival dos 90, segundo ele, é perceptível em canções, filmes, seriados e vestuário há cerca de três anos.

— Essa histeria por reciclar o passado é facilitada pela tecnologia. Vivemos vários presentes ao mesmo tempo e voltamos ao passado com frequência — avalia Oliveira.— A cultura dos remakes está atingindo a massa só agora. Ainda tem muita capa de revista, muita festa, muita inspiração para sair.

Para a jornalista e consultora de moda Patrícia Pontalti, o olhar para o passado é muito característico deste século. Os anos 2000 são uma colagem de memórias, muitas vezes sobrepondo épocas. Ao observar as criações que vêm tomando as passarelas e as ruas, Patrícia acredita que o movimento anos 90 deve ser um dos mais fortes em 2014. Destacam-se, principalmente, o minimalismo, com a sobriedade de formas, cores e modelagens, e o grunge, com xadrezes e sobreposições. Grife das mais influentes, a Saint Laurent investiu no grunge em seu desfile mais recente — a cantora Courtney Love, viúva de Kurt Cobain (1967-1994), vocalista do Nirvana, participou da campanha.

— Os 90 são a nova aposta da moda. Como em todas as releituras, o retorno não é muito caricato, tem traços contemporâneos. Se, por exemplo, antes o grunge era despojado, agora surge com sofisticação — comenta a consultora.