Itapema FM | 10/04/2013 22h22min
A história da Feira do Livro de Joinville é composta por dois ingredientes fundamentais: parceria e persistência. Neste ano, na 10º edição, o evento homenageia seu criador, o advogado aposentado e escritor Carlos Adauto Vieira. Quando recebeu o convite, a resposta foi imediata.
— A feira é como uma filha pra mim, como não iria aceitar?.
Na noite desta quinta-feira, ele será homenageado às 19 horas, com uma solenidade especial.
— Encontrei a Sueli Brandão, que na época era vizinha de escritório e perguntei a ela, que organizava eventos, como poderia organizar uma feira do livro e ela disse tô contigo —, lembra o advogado e escritor Carlos Adauto Vieira.
Na época, ele e seu amigo, o atual senador Luiz Henrique da Silveira conversavam sobre a ideia de criar uma feira na cidade.
O advogado conta que a batalha foi penosa, já que quando conseguia reunir escritores dispostos a participar, não encontrava editoras. Foi então que a parceria com a Sueli formou uma engrenagem e levou a ideia adiante. Na primeira edição, além de livros, havia expositores de roupas de couro, sabonetes e até perfumes. Se você também achou confusa a relação, Adauto explica.
— Eu conversava com os vendedores. O homem do couro perguntava o que a loja tinha a ver com o livro, e então eu apresentava o livro “Os sertões”, de Euclides da Cunha, onde o homem atravessa o sertão usando roupas de couro, e contava a história. No vendedor de perfumes também, e assim foi —, recordou a estratégia que deu certo.
Natural de Lages, Adauto morou em Florianópolis, onde iniciou sua carreira como escritor. Sempre envolvido com cultura, colaborou com o livro “Contistas Novos de Santa Catarina”, em 1952, onde teve um conto selecionado e publicado no “Jornal de Letras”, que lhe deu certa projeção. Depois disso, participou de concursos de textos, conquistou prêmios. Hoje, faz parte da Academia de Artes e Letras de São Francisco do Sul, entidade que também ajudou a fundar.
Adauto possui quatro livros publicados: “Contos e Crônicas”, “Aos Domingos Crônicas”, “Europa sem Programa” e “Saborosas Histórias Curtas do Charles d’Olangér”, este último nomeado com seu pseudônimo utilizado na época da ditatura militar brasileira. Adauto foi o primeiro preso em Joinville pelos militares. Ao todo, foram três prisões.
A primeira durou 91 dias, mas a terceira foi a mais traumática, em 1967. Ele foi mantido preso em um banheiro, com uma cama embaixo do chuveiro. Ficou 27 dias e foi encontrado por amigos e advogados.
Como sempre escreveu crônicas para o jornal, foi proibido de utilizar seu nome para publicação de textos. “O editor chefe do jornal recebeu o ofício com a proibição e veio conversar comigo, para saber o que faríamos, já que os textos eram muito lidos. Disse a ele que continuaria escrevendo, só que sob o pseudônimo de Charles d’Olangér, o Charlô”. Ousado, continuava escrevendo crônicas, inclusive com textos ironizando e criticando a ditadura militar.
Até hoje, Adauto guarda o primeiro livro que ganhou, “Beau Geste”, de Percival Christopher Wren, com quase 70 anos de companhia do escritor. O cronista é entusiasta da leitura, porque segundo ele, quem não lê é cego.
— A leitura alarga os horizontes, abre a cabeça. A gente aprende a ler e aprende a escrever —, disparou.
Sueli Brandão, organizadora da 10ª Feira do Livro, acredita que o este ano foi o momento propício para homenagear Adauto, uma figura importante na idealização da feira na cidade.
— Ele foi meu grande parceiro na feira, ajudou a construir o estatuto e sempre defendeu que Joinville merecia uma feira. É um grande apoiador.
Adauto sempre participou das edições da feira, seja prestigiando ou colaborando, segundo Sueli.
Desde 2001, Carlos Adauto mora em São Francisco do Sul, acompanhado de sua esposa, mas em breve voltará para Joinville, para ficar ainda mais próximo da família e, principalmente, dos netos.
Confira a programação completa da 10ª Feira do Livro de Joinville
Carlos Adauto Vieira será homenageado nesta quinta, na 10º Feira do Livro
Foto:
arquivo pessoal
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