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Itapema FM  | 10/04/2013 14h48min

Obra de Paulo Leminski é reunida em volume único pela 1ª vez e vira best-seller

O poeta curitibano morreu em 1989 e seus livros são disputados nos sebos como raridades

Roberta Ávila  |  roberta.avila@diario.com.br

Paulo Leminski (1944-1989) fez parte da geração mimeógrafo, que usava o aparelho à base de papel estêncil e álcool para fazer cópias de sua produção. Mal sabia ele que a sua obra completa um dia estaria na lista de mais vendidos da Livraria Cultura, desbancando o sucesso da trilogia erótica 50 Tons de Cinza.

No ranking da revista Veja, ele ocupa o quinto lugar. No Publishnews, publicação dedicada a analisar o mercado editorial, está em oitavo lugar. Logo ele, que, apesar de ter vendido bem enquanto vivo, dizia que poesia não é feita para vender.

Ao longo de sua vida, Leminski publicou livros alternando entre editoras independentes e a Brasiliense. O acaso (e a morte do editor Caio Graco Prado, dono da Brasiliense) fez com que, ainda na década de 1990, novas edições deixassem de ser publicadas. Seus livros tornaram-se raridades disputadas em sebos e vendidas a valores que alcançam os três dígitos.

A demanda reprimida pela obra fez com que Toda Poesia, coletânea da Companhia da Letras lançada em fevereiro reunindo tudo já publicado pelo poeta de descendência polonesa, já esteja na quarta edição, somando 25 mil exemplares. Mesmo assim, o preço dos originais não cai. Em sebos virtuais, Polonaises é vendido a R$ 500 e uma cópia autografada de Não Fosse Isso e Era Menos Não Fosse Tanto e Era Quase chega a R$ 800.

A edição da Companhia das Letras é daqueles livros feitos com carinho. Os 600 poemas foram organizados pela viúva de Leminski, Alice Ruiz, num livro com um prólogo escrito por ela, um posfácio inédito do crítico e compositor José Miguel Wisnik e um apêndice que reúne textos de, entre outros, Caetano Veloso, Haroldo de Campos e a ensaísta Leyla Perrone-Moisés.

São atrativos, sem dúvida, mas o maior deles, com certeza, é a facilidade de ler os poemas de Leminski, muitos deles certeiros e com aquela característica comum aos grandes artistas de fazer com que a gente reconheça a verdade expressa ali como uma verdade pessoal.

Como explica Alice Ruiz em seu prólogo, Leminski se equilibrou entre as duas tendências da poesia na época: a dos construtivistas, com seu rigor formal, e o lirismo da geração mimeógrafo. O poeta coloca as palavras em sequência e cria outras palavras com o som que se forma na leitura. Estrutura o poema em linhas irregulares, geométricas. Faz poesia para ler, ver e ouvir.

A essa combinação ele misturou um grande coloquialismo e uma variedade de assuntos imensa. Seus poemas em português, inglês e espanhol tratam de temas opostos, complementares e excludentes. Refletem sobre o que é ser poeta, a fragilidade do homem, a descrença na vida e a fé no destino. Sobre amor e desamor, dor e alegria, a natureza, as contradições da vida, a existência daquilo em que não se acredita. Leminski não faz só o poema-piada, popularizado por Oswald de Andrade, ele faz também poemas-autopiada. Tira sarro de si e do louco do bairro, que todo bairro costumava ter.

As referências vão de Aristóteles a Federico García Lorca, de poetas poloneses ao russo Dostoiévski, da mutante Rita Lee ao tropicalismo de Gil e Caetano. Além disso, Alice é uma presença constante nos textos. Em contraponto à agressividade violenta de alguns poemas, surge a ternura do apaixonado: “Alice, alívio, para enfrentar o naufrágio da vida”.

Com tamanha diversidade de temas e referências, Leminski ainda era um grande fã dos poemas pequenos, em particular o haikai, poema oriental com três linhas e 17 sílabas. São pílulas poéticas de leitura fluída reunidas em um livro que reflete duas tendências do mundo fashion: o neon da cor laranja e um bigode, logo na capa.

Pop e erudito o suficiente para levar o leitor a um diálogo com It’s Only Rock and Roll, dos Rolling Stones, na página 110, e, ao mesmo tempo, refletir questões gramaticais como o neologismo, criação de novas palavras. Como disse a ensaísta Leyla Perrone-Moisés, em 1983: “Suas gotas de poesia são colírio para nossos olhos poluídos”.  

Por que ler Leminski?

  • É uma leitura fácil e prazerosa
  • Os poemas, em geral, são curtos e tratam de assuntos variados. Muitos deles caberiam em um tweet (postagem no microblog Twitter, com limite de 140 caracteres)
  • Se um não agradar ao leitor, em três linhas haverá outro totalmente diferente
  • É um dos poetas mais respeitados e queridos das últimas décadas
  • Leminski é como Drummond, há quem não goste de poesia e goste de Leminski

Toda Poesia, de Paulo Leminski.

Editora Companhia das Letras, com 424 páginas.

DIÁRIO CATARINENSE
Dulce Helfer / Agencia RBS

Em sebos virtuais, Polonaises é vendido a R$ 500
Foto:  Dulce Helfer  /  Agencia RBS


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