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Itapema FM  | 09/04/2013 15h09min

Nova lei poderá destravar o mercado das cinebiografias no Brasil

Filmes como o do diretor Hugo Prata, que conta a história de Elis Regina, devem finalmente sair do papel

Marcelo Perrone  |  marcelo.perrone@zerohora.com.br

Tão recorrente no cinema americano, que reverencia seus ídolos e personalidades do presente e do passado a todo o momento, a cinebiografia ainda representa uma parcela tímida da produção nacional.

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A sucessos recentes como Gonzaga – De Pai pra Filho e filmes pouco vistos que tiraram da sombra personagens fascinantes como o jogador Heleno de Freitas, em Heleno, poderiam se somar outros tantos, não fossem os impeditivos legais.

— A tramitação desse projeto no Congresso é muito importante, pois essa barreira, que, efetivamente, é uma forma de censura, é muito danosa à memória do Brasil — diz João Jardim, que em junho começa a filmar a cinebiografia que vai destacar os últimos dias de vida do presidente Getúlio Vargas (1882 –1954), vivido por Tony Ramos.

— Não se conseguiria, hoje, fazer um filme sobre o"mensalão"ou sobre o massacre de Eldorado de Carajás, nem um documentário, pois, para isso, seria preciso pedir autorização de uso de imagem de todos os envolvidos.

Para uma produção independente, sobretudo, essa burocracia legal torna o projeto inviável. Os herdeiros do Getúlio compreenderam a dimensão histórica dele e autorizaram o projeto.
Codiretor de Cazuza – O Tempo Não Para e autor do recente documentário Raul – O Início, o Fim e o Meio, Walter Carvalho concorda que essa burocracia é danosa:

— Estamos muito atrasados em relação a isso. Prejudica muito, sim, a memória nacional. O leitor e o espectador têm o direito de saber mais sobre pessoas que tiveram vida pública.
Carvalho explica que não teve nenhum problema legal na realização dos filmes citados:

— No caso do Raul, por ser um documentário, todos os depoimentos tiveram de ser formalmente autorizados por seus autores. Foi um processo que envolveu também direito de uso das imagens de arquivo e das músicas. Sempre trabalho com todas as autorizações. Já estive envolvido, como diretor de fotografia, em um projeto sobre Elis Regina para a TV que acabou não saindo, acredito que por razões legais.

A vida de Elis Regina, aliás, finalmente vir à luz na cinebiografia que tem à frente o diretor Hugo Prata. O projeto ainda está em fase de captação de recursos, mas o principal, o sinal verde dos familiares da cantora, está dado. O longa-metragem já tem uma primeira versão do roteiro escrita pelo jornalista Nelson Motta e por Patrícia Andrade, roteirista de longas como Gonzaga – De Pai pra Filho.

— Sabe por que não fizeram um longa- metragem sobre a Elis antes? Porque ninguém havia procurado a família dela apresentando um projeto desse porte, pode acreditar — afirma Prata.

— Tive a sorte de ser o primeiro e já conhecia a Maria Rita, o João Marcelo e o Pedro Mariano (filhos da cantora) pelos projetos que já fiz na área musical. Eles foram muito receptivos e não tiveram ingerência alguma no roteiro. A etapa mais complexa vai ser negociar o uso das músicas cantadas por ela, pois a Elis não era autora das canções. Isso terá de ser feito mais adiante com gravadoras e compositores.


Para chegar às telas

> Se cinebiografias no Brasil precisam cumprir uma via-crúcis burocrática para alçarem voo, o processo costuma ser menos penoso quando o biografado está vivo, por envolver, na maioria das vezes, uma negociação direta entre as partes. Isso deve acelerar projetos como os que pretendem contar as histórias de personalidades como Paulo Coelho (O Peregrino, de Daniel Augusto) e a dupla sertaneja Leandro e Leonardo (Não Aprendi Dizer Adeus, de Diogo Boni).

> Sandra Werneck, codiretora de Cazuza – O Tempo Não Para, anunciou um projeto sobre a trajetória de Marina Silva, que, no entanto, não depende só do aval da senadora. A diretora negocia também com os herdeiros do ambientalista Chico Mendes, assassinado em 1988.

– Os caminhos da Marina e do Chico se cruzaram no passado e, mesmo que ele apareça em apenas duas cenas, terei que ter a autorização da família dele para tê-lo em meu filme – disse Sandra em entrevista ao jornal O Globo.

SEGUNDO CADERNO
Olívio Lamas / Agencia RBS

Diretor Hugo Prata comemora autorização da família de Elis Regina para realização de filme sobre a cantora
Foto:  Olívio Lamas  /  Agencia RBS


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