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Itapema FM  | 08/04/2013 15h01min

Eric Clapton se divide entre inéditas e reinterpretações em novo disco

Álbum conta com novas versões de clássicos do cancioneiro norte-americano

Robson de Freitas Pereira  |  Psicanalista

Advertência ao leitor: sabe aquele amigo com quem podemos ficar um tempo sem falar, mas, quando reencontramos, a conversa flui fácil, independentemente do assunto, porque importa o prazer de estar juntos?

Assim é, para mim, a audição de um novo álbum de Eric Clapton. Tem essa boa expectativa, a mesma de um disco novo de Caetano, Gil, Marcelo Camelo ou Vitor Ramil. Certo, guardadas as devidas diferenças.

Mas tenho que reconhecer minha formação musical, e Slowhand faz parte dela mesmo antes de receber o apelido. O que não significa adesão incondicional ao artista. Assumo o dissenso e a parcialidade. A começar pelo título: Old Sock viria emprestada de Kate Bush, da canção Moments of Pleasure, em que conta que sua mãe dizia "Every old sock meets an old shoe". Em termos de tradução, literalmente poderíamos dizer meia velha, usada. Mas a expressão pode ser sinônimo de old punch – velha pegada, soco, de quem ainda é capaz de um bom golpe. Sendo fã, posso buscar justificativa para as duas, desde aquela meia que calça bem o pé, algo confortável de usar, no sentido atribuído aos ingleses de que algo denota uso, tem as marcas do tempo e da experiência que se viveu. Ou mesmo quando no esporte vemos um atleta veterano, mas ainda com uma pegada forte.

Fazia essas associações enquanto escutava as primeiras músicas do total de 12. Duas composições inéditas. As outras, covers. Dizer covers é pouco para novas interpretações de clássicos do cancioneiro norte-americano – Our Love Is Here to Stay, dos irmãos Gershwin; The Folks Who Live on the Hill, de Oscar Hammerstein II e Jerome Kern, e ainda All of Me, com participação de Paul McCartney no baixo e nos vocais – devolvendo o auxílio luxuoso de Clapton no disco de Paul Kisses from the Bottom (2012).

Arranjos novos para canções de velhos conhecidos que o influenciaram, como Taj Mahal – tocando harmônica e banjo – em Further on Down the Road, que abre o disco transformada num reggae. Till Your Well Runs Dry, de Peter Tosh, foi transcriada numa mescla de balada groovy e reggae. Sem falar em J.J.Cale, tocando guitarra e fazendo os vocais em Angel, composição sua de 1981.

Neste leque de influências revisitadas, não faltam bluesman, como Leadbelly (Goodnight Irene) e Gary Moore (Still Got the Blues). O soul de Otis Redding numa pouco conhecida Your One and Only Man, e o ritmo country de Born to Lose, gravada por Ray Charles (de quem Clapton já havia registrado Hard Times em 1989).

Participam também do disco Chaka Kan, fazendo vocais em Gotta Get Over, uma das inéditas, e, na outra, Every Little Thing, Doyle Bramhall II compôs e também faz as guitarras – sem contar que as filhas de Clapton fazem o backing vocal. Além deles, Steve Winwood, Steve Gadd, Chris Stanton, Jim Keltner, Simon Climie, Henry Spinetti garantem a qualidade sonora ao longo do álbum.

Se você não estiver procurando escutar o "deus" da guitarra dos anos 1960, ou não se preocupar mais com fundamentalismo roqueiro, jazzístico ou funkeiro, vai poder experienciar que toda essa gama de referências musicais não tem nada de nostálgica. São recriações de quem rende homenagem ao que gosta e consegue cantar bem melhor do que há 40 anos. Evolução vocal e musical que podemos acompanhar desde os discos 461 Ocean Boulevard (1974), There's One in Every Crowd (1975), No Reason to Cry (1976), Another Ticket (1981), Journeyman (1989) e Clapton (2010), entre outros. Como o próprio Clapton afirmou recentemente: está chegando aos 70 anos (fez 68 em 30 de março), quer parar com as grandes turnês, mas não de gravar; então podemos esperar novas canções de sua autoria ou mesmo um "From the Craddle II".

Por agora, Old Sock: quando a expectativa é atendida, prazer maior, a vida fica melhor com uma boa trilha sonora.

Old Sock
> Eric Clapton
> Blues, Universal Music, 12 faixas, R$ 27,90 (em média)

 

 

SEGUNDO CADERNO
Ricardo Duarte / Agencia RBS

O guitarrista Eric Clapton no show que apresentou em Porto Alegre em 2011
Foto:  Ricardo Duarte  /  Agencia RBS


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