Itapema FM | 25/03/2013 16h56min
À venda nas lojas a partir desta terça-feira, mas já disponível para audição na internet desde a semana passada, Comedown Machine é o quinto disco dos Strokes e um dos lançamentos mais aguardados do ano. A seguir, ZH apresenta duas opiniões bem diferentes sobre o álbum (e você também pode dar sua opinião clicando aqui):
Disco é confuso e apático
Por Gustavo Brigatti (gustavo.brigatti@zerohora.com.br)
Parecia difícil os Strokes descerem mais fundo do que haviam feito em Angles, o inaudível álbum lançado em 2011. Mas, como a música virou terra de ninguém, eis que surge Comedown Machine. E qual não foi a minha surpresa ao notar que a bolacha é um excelente retrato do seu tempo. Um tempo em que vale tudo, as fronteiras entre gêneros foram apagadas e pouca gente se responsabiliza por (ou se importa com) coisa alguma. A tendência é chamar de experimentação, mas o correto parece ser “não sei o que estou fazendo” ou “ai, que preguiça de pensar”. Porém, experimentar é um expediente perigoso – e, por isso mesmo, louvável e necessário – dentro da música, e perigo é tudo o que os Strokes menos correm com seu quinto disco de estúdio.
Em Comedown..., o quinteto atira para todo lado sem fazer mira: arrisca com música de discoteca (Welcome to Japan), bebe sem pudor do pós-punk oitentista (Tap Out, 80’s Comedown Machine, Happy Ending), tenta um roquinho rasteiro (All the Time), cria vinhetas sorumbáticas (50 50), manda uma baladinha sessentista (Call It Fate, Call It Karma) e, sim, One Way Trigger é o tecnobrega que todos estão dizendo, o que não significa que seja bom. Ao contrário, é irritante como tal.
O trabalho é confuso, mas talvez não seja o caso de atentar para uma possível falta de orientação artística. Falta é razão de existir, mesmo. Nulo em propósito e apático na execução, Comedown... parece não ter elementos suficientes para sequer justificar sua existência. Se ele jamais fosse feito, ninguém sentiria falta – diferentemente de Is This It (2001), o primeiro disco da banda, responsável por reorientar o indie e ditar o que seria rock a partir dali.
E não se trata de cobrar uma revolução ou algo do tipo, mas é cada vez mais nítida a piada (ou farsa, dá no mesmo hoje em dia) que Julian Casablancas, Albert Hammond Jr., Nikolai Fraiture, Fabrizio Moretti e Nick Valensi sempre foram. Com Comedown Machine, os Strokes sapateiam na cara da sociedade e chancelam a nova realidade da música pop. Azar o nosso.
Um dos melhores discos da banda
Por Daniel Feix (daniel.feix@zerohora.com.br)
Há duas maneiras de reprovar Comedown Machine, ambas reveladoras da incapacidade de compreensão deste que é um dos melhores discos dos Strokes: a expectativa por algo que remeta ao impacto de Is This It (2001) ou um desajuste, para usar uma palavra moderada, com a música pop atual como um todo.
Ainda que se constate o abuso (já passamos do estágio do uso) dos sintetizadores, é preciso reconhecer a qualidade de Chances e 80’s Comedown Machine, duas das mais belas melodias do pop rock recente. São dois pontos altos do álbum. Lembram o trabalho solo do vocalista Julian Casablancas, o que não significa que os melhores exemplos da porção mais guitarreira do disco – 50 50 sobretudo – não funcionem.
Comedown Machine confirma o movimento que se desenhava em Angles (2011). Entretanto, é limitador associá-lo a Cut Copy, Two Door Cinema Club ou outro expoente do synthpop em voga, em geral divertido, mas desprovido de sentido de permanência. A versão 2013 dos Strokes tem menos chance de fazer história, se comparada à de 10 anos atrás, mas emula o pop oitentista (Welcome to Japan, Slow Animals, Happy Ending) em nome de composições esteticamente consistentes e de beleza mais significativa do que a audição apressada, usualmente destinada a esse tipo de trabalho menos orgânico, pode sugerir.
Esta reinvenção do quinteto nova-iorquino lembra a do Radiohead – a partir de Kid A (2000). Tem a ver menos com a maturação de algo buscado inicialmente e mais com uma necessidade de experimentar aquilo que se oferece como novas possibilidades estéticas. Não se espera algo diferente das bandas que, de alguma forma, servem de farol da cultura pop em seu tempo.
E não é difícil gostar. Basta acalmar os hormônios adolescentes despertados por Is This It e Room on Fire (2003), ou pelo rock ainda mais cru, e admitir que a música também pode ser interessante quando não muda o estado das coisas. Tem sido assim ultimamente. Bons discos, como Comedown Machine, só confirmam essa premissa.
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