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Itapema FM  | 15/03/2013 20h41min

"Lá é um personagem. Não sou eu", diz Ney Matogrosso em show de turnê que chega a Florianópolis na próxima semana

Turnê irá originar um novo álbum do cantor, e já passou por São Paulo e Juiz de Fora

Viviane Bevilacqua  |  viviane.bevilacqua@diario.com.br

Aos 71 anos — com disposição e corpinho de 40 — Ney está novamente na estrada. A turnê, que iniciou com pré-estreia em Juiz de Fora (MG), passou por São Paulo e chega a Florianópolis na próxima terça-feira, dará origem a um novo álbum. O cantor inverteu a ordem de gravar CD e depois sair pelo Brasil para divulgá-lo. Mas tudo o que Ney Matogrosso não quer é ser tradicional.

Entrevista marcada para as 17h de domingo, na casa de eventos HSBC-Brasil, em São Paulo. O show começaria às 20h. Pouco antes, o produtor avisa que houve um atraso. Ney Matogrosso só poderia falar comigo após a passagem de som com os músicos, no palco.

— Se você quiser, pode vir para cá agora e assistir ao ensaio — disse o produtor.

Em 15 minutos eu estava lá. Primeiro, só os músicos no palco, para consertar pequenos "probleminhas" que só eles perceberam durante os espetáculos de sexta e sábado.

Repassaram várias músicas. Aí, entra Ney Matogrosso. Tão quietinho, tão na dele, que demorei um pouco para perceber que ele estava no palco — e eu estava sentada à mesa bem na frente, observando tudo. Cumprimentou os músicos e escolheu uma das canções do show para repassar.

— Vamos passar esta, que já me ajuda a ir esquentando a voz para logo mais — disse Ney.

De calças jeans, camiseta e tênis, cantando num tom bem mais baixo do que o que costumamos ouvir, Ney parecia outra pessoa. A mão não saiu do bolso. Sem rebolados, sem pintura, sem ousadia. Apenas um artista — e dos melhores — preocupado em estar pronto. Cantou uma, duas músicas, conversou com músicos e produtores e pronto. Voltou para o camarim para começar sua concentração. Antes, conforme acordado, concedeu uma breve entrevista ao Diário Catarinense.

Ele me recebeu sentado em um dos sofás brancos do camarim, onde duas particularidades chamavam a atenção: o calor e o cheiro de flores. Ney ama flores brancas. O perfume vinha dos lírios, que enfeitavam um vaso colocado ao lado do sofá. Percebi que o cantor também suava — não era só eu. Mas o ar-condicionado, se fosse ligado, prejudicaria a voz. E isso ninguém queria. O camarim era amplo, claro e sem qualquer extravagância. Espelhos, o figurino do show pendurado em araras, botas pretas e prateadas, de cano alto, colocadas num canto, maquiagem na bancada, água mineral, frutas e pães. Conversamos por alguns minutos e a timidez de Ney me surpreendeu. Como pode alguém ser tão diferente no palco e fora dele?

— Lá é um personagem. Não sou eu — justificou.

Contou, inclusive, que pintava o rosto, ainda no tempo do Secos & Molhados, porque não tinha coragem de enfrentar o palco e o público de cara limpa. Mais alguns minutos e um dos assessores chega na porta. Ok, entendi o recado. Agradeço pela atenção, me despeço e saio. Vou para a plateia esperar o show. Quando Ney entra no palco, custo a acreditar que aquele cara ali, todo montado no couro e nos brilhos, de olhos pintados de preto e rebolando sensualmente para centenas de pessoas é o mesmo que entrevistei uma hora antes. Definitivamente, mais que um cantor, Ney Matogrosso é um ator maravilhoso. Ou, então, é um daqueles casos raros de dupla personalidade.

Diário Catarinense - O repertório de Atento aos Sinais traz várias músicas de novos compositores. Foi uma forma de renovar o seu público?

Ney Matogrosso - Eu não tenho a pretensão de conquistar novos públicos, mas notei que os jovens estão gostando deste novo espetáculo. Isso me deixa muito feliz.

DC - Cantar as músicas que o público já conhece e curte é garantia de sucesso do show. Por que, então, você preferiu um repertório quase desconhecido?

Ney - Seria, sim, mais cômodo cantar sucessos. Mas eu não estou procurando comodidade. Quero fazer projetos que me desafiem, que exijam mais de mim. E o Atento aos Sinais é exatamente isso.

DC - Você está completando 40 anos de estrada como intérprete. Este show é uma comemoração?

Ney — Não. Calhou de o espetáculo ficar pronto justamente quando completo 40 anos de carreira, mas não foi proposital. É apenas mais um show, no qual venho trabalhando desde 2009. Não estou fazendo nada comemorativo.

DC - O que este show tem de especial?

Ney - Juntei no Atento aos Sinais tudo o que estou gostando de ouvir neste momento. Tem várias músicas de compositores consagrados, mas tem muita gente nova também, como o rapper Criolo, o Dani Black, a Banda Tono e Dan Nakagawa, por exemplo. Alguns me mandaram suas músicas, eu gostei e quis cantar. Outros, ouvi na internet e fui atrás.

DC - O Atento aos Sinais é completamente diferente de seu último show, Beijo Bandido, que era bem intimista. Por que a mudança?

Ney — É como você diz. Acabei de fazer um trabalho mais introvertido, agora queria algo com mais guitarra, mais pop mesmo. E a banda que me acompanha é maravilhosa.

DC - Pela primeira vez você está sendo patrocinado para fazer o show e, depois, gravar o disco. O que isso muda para você?

Ney - Conto com o patrocínio da Natura Musical, que tem feito coisas muito interessantes no ramo da arte pelo Brasil. Eu tocaria o projeto de qualquer jeito, se não tivesse patrocínio, mas é claro que é confortável para mim contar com esta ajuda.

DC - Toda a parte visual do show foi escolhida por você, que assina como diretor artístico do espetáculo. Não é muito cansativo acumular tantas funções?

Ney - Cansativo é, mas há muito tempo penso nos detalhes deste show, na iluminação, no palco, no cenário, no jeito que quero cada coisa. Então, é muito mais fácil eu ir lá e fazer do que ter que dizer tudo detalhadamente para um diretor.

DC - Qual o seu segredo para manter a boa forma e a vitalidade aos 71 anos?

Ney - Disciplina. Como pouco por opção e faço ginástica todo dia para aguentar a maratona das turnês.

DC - Por que este nome, Atento aos Sinais?

Ney - É um trecho de uma música que canto no show, chamada Oração, que eu gosto muito. E eu sou atento aos sinais, à vida, às pessoas, eu presto atenção. Tinha isso na música e eu achei que era interessante.

DC - O que o público catarinense pode esperar dos shows em Florianópolis, na terça e na quarta-feira?

Ney - A receptividade em São Paulo foi muito boa, e espero que em Floripa também seja. De minha parte, vou fazer o possível. Foram 29 dias diretos de ensaios, sem descanso, para tudo ficar do jeito que eu queria. Agora, é torcer para que o público goste do resultado. Eu gosto muito de me apresentar em Florianópolis, sempre a incluo nas minhas turnês. Gosto da cidade e já fiquei aí várias vezes, hospedado na casa de amigos.

::Agende-se

O quê: show Atento aos Sinais, de Ney Matogrosso
Quando: dias 19 e 20 de março, às 21h
Onde: Teatro Ademir Rosa — CIC (Av. Governador Irineu Bornhausen,5600, em Florianópolis)
Ingressos: à venda nas bilheterias do TAC (Teatro Álvaro de Carvalho) e CIC, quiosque Blueticket no Shopping Beiramar, site www.blueticket.com.br (não é possível comprar meia-entrada pela venda online)

::Provável setlist do show

1- Rua da Passagem (Arnaldo Antunes/Lenine)
2 - Incêndio (Pedro Luis)
3 - Vida Louca Vida (Lobão/Bernardo Vilhena)
4 - Roendo as Unhas (Paulinho da Viola)
5 - Noite Torta (Itamar Assumpção)
6 - A Ilusão da Casa (Vitor Ramil)
7 - Oração (Dani Black)
8 - Two Naira Fifty Kobo (Caetano Veloso)
9 - Freguês da Meia-Noite (Criolo)
10 - Isso Não Vai Ficar Assim (Itamar Assumpção)
11 - Pronomes (Beto Boing/Paulo Passos)
12 - Beijos de Imã (Jerry Espíndola/Alzira e Arruda)
13 - Não Consigo (Rafael Rocha, Tono)
14 - Fico Louco (Itamar Assumpção)
15 - Samba do Blackberry (Rafael Rocha e Alberto Continentino, Banda Tono)
16 - Tupi fusão (Vitor Pirralho)

DIÁRIO CATARINENSE
Sintonize a Itapema em Florianópolis 98.7, em Joinville, sintonize 95.3

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