A jornalista Viviane Bevilacqua assistiu ao show do cantor Ney Matogrosso, em São Paulo, no último domingo. A turnê Atento aos Sinais chega a Florianópolis na terça e na quarta-feira da semana que vem para duas apresentações no Teatro do CIC

Uau! Durante os 10 primeiros minutos do show, a plateia perde o fôlego. A iluminação é frenética, a banda, com sua pegada pop rock calcada nos metais, dá o tom do que virá. No meio do palco, de costas para um espelho, ele surge.

Performático, quente e camaleônico, Ney, 71 anos, usa justíssimas calças de couro, botas de cano e saltos altos, colete de penas e um lenço na cabeça. Tudo preto, mas com muito brilho. Colares, braceletes, anéis e cintos enriquecem o visual transgressor. Ele dança, rebola, requebra, provoca e seduz.

Rua da Passagem, parceria de Lenine com Arnaldo Antunes, abre o espetáculo. "Todo mundo tem direito à vida/todo mundo tem direito igual", canta, enquanto no cenário são exibidos flashes de congestionamentos.

A apresentação chega ao auge com o rock Vida Louca Vida, de Lobão e Bernardo Vilhena. Imagens de Ney Matogrosso, de várias épocas, desde o início do Secos & Molhados, na década de 1970, rememoram seus grandes momentos — uma trajetória que está completando 40 anos em 2013. Uma pausa. Com um olhar matador, ele diz:

— Vou ali tirar uma roupinha e já volto.

A mulherada delira, grita, assovia. Ele volta "sensualizando", vestindo uma camisetinha preta transparente justíssima, deixando seu corpo — esguio e bem cuidado com malhação diária — cada vez mais descoberto.

Ney decidiu ousar desta vez, costurando um repertório praticamente desconhecido do grande público. Gravou compositores conhecidos, como Arnaldo Antunes, Lenine, Itamar Assumpção, Lobão, Paulinho da Viola, Caetano Veloso e Vitor Ramil, mas levou para o palco compositores novos e emergentes, como o rapper Criolo, Dani Black, Beto Boing, Paulo Passos, Banda Tono, Vitor Pirralho e Dan Nakagawa.

O nome do show, Atento aos Sinais, foi pinçado da letra de Oração, música composta por Dani Black e que encerra o segundo bloco da apresentação.

Um respiro, para o Ney e para a plateia, quando ele vai até o meio do palco e, na frente do espelho, faz mais uma troca de roupa. Volta todo em tons de prata, da cabeça aos pés. No terceiro bloco, chega romântico, fazendo as fãs gritarem com o bolerão Freguês da Meia-noite, de Criolo.

O roteiro surpreendente segue até o final do show, que termina com a interpretação de Ney para a atualíssima letra de Todo Mundo o Tempo Todo, criação do jovem Dan Nakagawa.

Ney e a competentíssima banda que o acompanha (cujos nomes só aparecem no telão, no palco) voltam para o bis. Quem queria ouvir músicas antigas, se deleita com a roupagem moderna de Amor, dos Secos & Molhados. Astronauta Lírico, do gaúcho Vitor Ramil, fecha o setlist. No palco, luzes de LED desenham foguetes, enquanto bolinhas de sabão descem suavemente sobre a plateia e o público.

::Agende-se

O quê: show Atento aos Sinais, de Ney Matogrosso
Quando: dias 19 e 20 de março, às 21h
Onde: Teatro Ademir Rosa — CIC (Av. Governador Irineu Bornhausen,5600, em Florianópolis)
Ingressos: à venda nas bilheterias do TAC (Teatro Álvaro de Carvalho) e CIC, quiosque Blueticket no Shopping Beiramar, site www.blueticket.com.br (não é possível comprar meia-entrada pela venda online)

::Provável setlist do show

1- Rua da Passagem (Arnaldo Antunes/Lenine)
2 - Incêndio (Pedro Luis)
3 - Vida Louca Vida (Lobão/Bernardo Vilhena)
4 - Roendo as Unhas (Paulinho da Viola)
5 - Noite Torta (Itamar Assumpção)
6 - A Ilusão da Casa (Vitor Ramil)
7 - Oração (Dani Black)
8 - Two Naira Fifty Kobo (Caetano Veloso)
9 - Freguês da Meia-Noite (Criolo)
10 - Isso Não Vai Ficar Assim (Itamar Assumpção)
11 - Pronomes (Beto Boing/Paulo Passos)
12 - Beijos de Imã (Jerry Espíndola/Alzira e Arruda)
13 - Não Consigo (Rafael Rocha, Tono)
14 - Fico Louco (Itamar Assumpção)
15 - Samba do Blackberry (Rafael Rocha e Alberto Continentino, Banda Tono)
16 - Tupi fusão (Vitor Pirralho)