Batidas dispersas, ritmos ondulantes e um vocal sinuoso e lamuriante. Não, não é o novo disco do Radiohead, embora a voz e um dos cérebros por traz sejam de Thom Yorke.

Em sua carreira solo, o vocalista lança Amok, o disco de estreia do Atoms for Peace, candidato favorito a supergrupo de rock eletrônico _ mais precisamente, de post-rock. Ao lado de Yorke, estão o produtor e multi-instrumentista Nigel Godrich e o baixista Flea (Red Hot Chili Peppers), além do baterista Joey Waronker (R.E.M. e Beck) e do percussionista brasileiro Mauro Refosco (David Byrne).

A banda se reuniu pela primeira vez em 2009 para interpretar ao vivo as faixas de The Eraser (2006), o disco que marcou a estreia da carreira solo de Yorke. Os músicos fizeram uma breve turnê pelos Estados Unidos e uma aparição no festival Coachella. E, em algumas das apresentações, ainda apresentaram material inédito.

No ano passado, foram dados os primeiros sinais do reencontro. Em setembro, o grupo lançou a música Default no iTunes e, no mesmo mês, Yorke e Godrich apresentaram um DJ-set em uma das festas de verão que tradicionalmente ocorrem no quintal do Museu de Nova York (MoMA), mas na filial do Queens.

Divulgado para audição em streaming na Internet no dia 18 de fevereiro e lançado fisicamente nas semanas seguintes, Amok traz nove faixas que parecem partir exatamente de onde Yorke parou em The Eraser. É um rock eletrônico experimental, marcado por paisagens sonoras estranhas, ritmos hipnóticos e vocais espectrais em letras poéticas e enigmáticas. Um ar de abstração envolvente atravessa todo o álbum, sendo mecânico como um Kraftwerk e melodioso como um... Radiohead. E, nisso tudo, onde poderia entrar Flea, do pegado Chili Peppers? Imprimindo linhas de baixo que tornam o álbum ainda mais pulsante.

Amok não é um disco de eletrônica para pistas, mas em sua introspectividade tem ingredientes capazes de levar o corpo a se manifestar, como nas dancinhas estranhas pelas quais o desengonçado Yorke é conhecido. Indicação disso é o vídeo da música Ingenue, em que o vocalista reaparece fazendo suas coreografias esquisitas, interagindo e até sensualizando com a dançarina japonesa Fukiko Takase em coreografia de Wayne McGregor e direção de Garth Jennings.

O trabalho de estreia do Atoms for Peace foi gravado em três dias na casa de Flea, na Califórnia, onde Yorke diz terem passado alguns dias curtindo na piscina e ouvindo Fela Kuti. De tamanha despretensão, nasceu um trabalho que ocupará o grupo durante o ano com shows e turnê. Assim como The Eraser antecipou o lançamento de In Rainbows (2007), do Radiohead, Amok deverá fazer o mesmo ao preencher o tempo até o sucessor de The King of Limbs (2011), o mais recente trabalho do grupo que, desde 1989, vem alargando as fronteiras e conceitos do rock a cada novo álbum.

Amok
Atoms for Peace
Rock experimental, XL, 9 faixas, R$ 30 (em média, importado)
Cotação: 4 de 5