A recepção foi calorosa. Foram tantos os desejos de "bom dia", que transmitiam aos visitantes a alegria e a satisfação do primeiro dia de aula na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, ontem. Ao todo, 255 alunos bolsistas começaram as atividades e, destes, há um grupo especial, composto de 62 jovens, que colocaram os pés pela primeira vez como membros da filial russa.

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Na ponta dos dedos, Allison Christian Pereira Lima, de 11 anos, e Daniel Vinícius Machado, de dez, espiavam pela janela de uma das salas, onde algumas bailarinas ensaiavam. Olhares embebidos de curiosidade, observavam com cautela cada nova instalação.

Orientados por um professor, eles, na companhia de outros dez novos alunos da 1ª série, conheceram a estrutura física da escola. No núcleo de saúde, ouviram atentos as orientações sobre as dores que terão nas próximas semanas e informações sobre o cuidado com a saúde muscular.

— A gente fica nervoso. Às vezes, o coração bate bem acelerado — comenta Allison.

Com o sorriso tímido, aos poucos, Allison revela a ansiedade do primeiro dia de aula. Isso porque também será o primeiro na escola de ensino regular, onde ele cursará a quinta série. Serão dois turnos de intensas atividades, tanto para ele, quanto para Daniel e o restante dos alunos.

Allison, que mora com os pais e um irmão, não imaginava que teria a oportunidade de aprender balé. Ele se inscreveu para os testes com o incentivo de uma professora. De início, houve resistência da mãe em aceitar a ideia, mas com muita conversa, ela cedeu. E para a alegria de todos, Allison foi aprovado para o Bolshoi com incentivo da família.

Os olhos fitavam a estreita sala, rodeada de armários brancos, que destacavam a pequenice do estudante. A inquietação se tornava visível, afinal, era o primeiro contato com o uniforme e, claro, com a primeira sapatilha. Como dois estranhos, um se adaptou ao outro, ainda sem jeito, mas desenhando determinação.

Aos dez anos, Daniel transmite uma maturidade incomum. Ele, que não sabia da existência do Bolshoi, decidiu fazer o teste após o aviso do professor de educação física. E para a surpresa, foi aprovado. A sala do ateliê foi uma das que mais lhe chamavam a atenção, repleta de figurinos, tecidos e cores.

— Ah, é muito melhor do que eu imaginava! E o melhor é que aqui, ao mesmo tempo que a gente aprende dança, conhece muitas coisas!.

Adaptação

Allison, que mora no Rio Bonito, região Norte da cidade, nunca teve contato com a dança, mas tem disposição e vontade de aprender. Ele já planejou os horários de estudos para conciliar todas as atividades, desde as aulas de dança às tarefas do ensino regular. E o que lhe desperta mais atenção? Os pianos!

— Eu vou me dedicar, mas, se não der certo a carreira como bailarino, vou ser empresário comercial — promete.

A coordenadora do núcleo educacional, Marileia Cani, esclarece que a primeira semana de aula é de descobertas. O objetivo é que os alunos conheçam a escola de maneira global para que se adaptem aos poucos.

— Introduzimos tudo de forma lúdica, para que eles tenham algumas concepções da anatomia, cuidados com sapatilhas, uniforme e saúde. Tudo para que eles se encaixem aos métodos de ensino de maneira agradável — ensina.

Todos os alunos têm horários mais restritos, com contraturno de aulas e desgastes, podendo apresentar queixas de cansaço nas primeiras semanas, o que será normal, de acordo com Marileia. É aí que os pais e as famílias precisam desempenhar um papel fundamental, incentivando e demonstrando a necessidade do processo de disciplina. Isso irá refletir na escola e em casa.

— Eles já estão se preparando para o futuro profissional e muitos ainda não possuem essa noção — afirma Marileia, que ressalta que um dos objetivos é fortalecer as possibilidades culturais destes jovens.