Roberta Ávila  |  roberta.avila@diario.com.br

De alguns anos para cá é cada vez mais difícil definir o que é um filme para criança. As animações geralmente têm como alvo o público infantil, mas como dizer que filmes como Toy Story ou Shrek sejam para crianças? São filmes que tratam de questões universais capazes de sensibilizar qualquer pessoa. São essas características que marcam a safra de animações indicadas ao Oscar em 2013. Filmes que não parecem ter como foco apenas o público infantil.

Vez por outra, aparece uma piada mais bobinha, um momento de humor pastelão, mas os enredos são complexos e as soluções das narrativas mais complexas ainda. Além disso, são filmes que têm a morbidez no centro de suas histórias. A morte sempre fez parte de contos de fadas e filmes da Disney, mas dessa vez ela é tema central em filmes como Paranorman e Frankenweenie, que concorrem ao prêmio ao lado de Piratas Pirados!, Valente e Detona Ralph, único da lista que ainda não chegou às locadoras, mas segue em cartaz nos cinemas do Estado.

Aproveite e escolha um dos filmes da seleção do Oscar para entreter crianças e adultos neste fim de semana. A cerimônia de premiação será realizada no domingo, dia 24.

Os indicados a Melhor Curta de Animação estão disponíveis para serem assistidos na internet. Clique aqui para assistir.

 

Valente

Já levou o Globo de Ouro e o Bafta (premiação britânica) de melhor animação em 2013, e é um dos favoritos ao Oscar. Alguns críticos encararam o filme como um retrocesso na história da Pixar, estúdio responsável por Toy Story, Wall-E e Ratatouille, entre muitos outros sucessos. É a primeira vez que o estúdio fez um filme com uma princesa como protagonista, isso depois de ter sido incorporado pela Disney, com suas tantas princesas.

Implicância à parte, é um filme divertido que tem como centro de sua história os desentendimentos entre a princesa Merida e sua mãe. O assunto é tão atual que é um dos temas principais em seriados como I Hate My Teenage Daughter (Odeio Minha Filha Adolescente, em tradução literal) e o aclamado Girls (Garotas).

Merida é uma princesa da Escócia com maravilhosos cabelos ruivos esvoaçantes. O único problema é que ela é feminista. Sim, ela é feminista, só isso já é uma baita diferença com relação a todas as princesas da Disney. Ela quer ser dona de seu nariz e não se faz de vítima da situação, como a Yasmin de Aladim, a Bela Adormecida ou a Cinderela, esperando que um príncipe a salve de um casamento sem amor, de uma maldição terrível ou de uma vida miserável. Pelo contrário, ela entra no concurso que definiria o dono de sua mão e manda muito bem no arco e flecha, mostrando-se dona dos mesmos talentos atléticos pelos quais são valorizados os príncipes.

A fotografia do filme é lindíssima, com paisagens maravilhosas da Escócia e o 3D criado para o filme é um dos melhores já vistos.

Além disso, os trigêmeos irmãos de Merida e o pai da jovem rebelde são muito engraçados. A solução do filme é um pouco simplista, apelando para o bom e velho truque da magia do amor, mas o conjunto vale a pena demais. Filme disponível nas locadoras.

Paranorman

É o filme mais original entre os indicados. Apesar de fazer uso da tecnologia stop-motion o filme inova tanto em tema quanto no tipo de humor e no enredo. Norman é um garoto que adora assistir televisão com a avó em casa, o que seria super normal se não fosse pelo fato da avó estar morta. É que Norman vê espíritos. Ele cruza com eles todos os dias a caminho da escola, os vê por todos os lados e ainda por cima busca ser gentil com eles, para desespero de seus pais. Além de colocar a espiritualidade em questão, o filme esbanja crítica social. O bullying é uma das atitudes questionadas. Quem são os valentões? Somos todos valentões em potencial? O filme ironiza a dificuldade de comunicação entre pais e filhos e tem piadas para adultos e crianças, mas sem buscar o riso fácil.

Com o desenrolar da história, o suspense vai tomando a animação e Norman se vê diante de seu maior dilema no filme: dizer a verdade ou resolver o problema da forma mais rápida possível? A escolha do protagonista, assim como a música que toca no final do filme, uma versão do country Little Ghost, do White Stripes, deixam ainda mais clara a pegada alternativa da produção. Com fotografia arrojada, movimentos de câmera e mudanças de foco, o filme é uma animação, mas não é só para criança, não.

Infelizmente, só leva o Oscar se der uma zebra na votação e a Academia de Hollywood resolver que 2013 é um ano para se voltar para a estética. Os desenhos de Paranorman são muito bonitos. Disponível nas locadoras.

Piratas Pirados!

Produto dos estúdios Aardman, responsáveis por animações como Wallace & Gromit, o filme também foi feito em stop-motion e as vozes originais incluíam Hugh Grant fazendo o Capitão Pirata e Salma Hayek dando voz a Cutlass Liz. O texto é uma adaptação de Gideon Defoe para os seus próprios livros, inéditos por aqui. A mensagem é batida, a importância da amizade e do companheirismo. Apesar dos lindos bonecos em stop-motion e de algumas piadas interessantes sobre a vida de pirata, não é uma história tão cativante assim.

O filme retrata figuras históricas como a Rainha Vitória, Charles Darwin e Jane Austen. Apesar de ter várias piadas mais adultas, é o filme mais infantil da seleção que concorre ao Oscar. O personagem mais interessante é o chimpanzé Sr. Bobo, que rouba a atenção nas cenas das quais participa. Disponível nas locadoras.

Frankenweenie

O nome do protagonista é Victor Frankenstein. Assim como o médico da história de Mary Shelley, ele resolve um dia trazer de volta os mortos. Só que como garoto típico do subúrbio dos EUA, ele não consegue manter sua descoberta em segredo. Quando os colegas resolvem usar a sua descoberta científica sem nenhum critério, o mundo dos Frankenstein fica fora de controle.

Victor é um personagem adorável e sua relação com o cachorro Sparky com certeza serve de paralelo para muitas crianças e adultos.

O filme tem referências ao cinema B dos anos 1930 e 1940. É em preto e branco com citações estéticas que remetem ao Drácula, à Noiva de Frankenstein, Múmia e por aí vai. O uso do stop-motion reforça o caráter nostálgico da produção.

A história não é tão interessante assim, mas a beleza da animação é inquestionável. Em 2010, Tim Burton já levou multidões ao cinema para ver uma adaptação de Alice no País das Maravilhas em que os grandes destaques eram a beleza dos figurinos e cenários e o uso do 3D, muito mais interessantes do que a adaptação da história de Lewis Carroll feita pelo diretor. Tudo bem que, em ambos, o foco seja a questão estética, mas será que não dava para caprichar um pouco mais na história?

Mesmo assim, Frankenweenie foi indicado ao Oscar, Bafta e ao Globo de Ouro. Como um de seus primeiros sucessos, Edward Mãos de Tesoura, Tim Burton transforma tudo o que toca em obras artísticas, que despertam o interesse de todos. Disponível nas locadoras.

Detona Ralph

O enredo lembra um pouco Toy Story. A intenção é mostrar como é a vida real dos personagens de videogame e o que eles fazem depois que a loja de fliperama fecha. Ralph é o vilão do jogo chamado Conserta-Tudo-Felix Jr. Quando o videogame completa 30 anos, Ralph entra em crise. Cansado de ser menosprezado pelos outros personagens, resolve que quer ser herói. Ele até frequenta a reunião dos Vilões Anônimos, mas não adianta, a crise de identidade que o aflige o leva a conhecer outros jogos, inclusive um de corrida chamado Sugar Rush. É lá que ele conhece Vanellope Von Schweetz. Que mais um animador pode querer do que um jogo onde tudo, dos personagens às arvores, são feitos de doce? A fotografia esbanja cor, com direito a uma montanha com lago de refrigerante e estalactites de balas, que estouram quando caem na água.

O tema não é original, mas é bem trabalhado e coerente. A mensagem de aceitação da diversidade e de busca dos sonhos é sempre bacana para as crianças. Em cartaz nos cinemas.

DIÁRIO CATARINENSE