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Itapema FM  | 11/02/2013 18h36min

'Dias de Luta', retrato do rock oitentista no Brasil, será relançado em abril

Lançado pelo jornalista Ricardo Alexandre há uma década, livro referencial ganhou uma lista com 50 músicas representativas do 'BRoc'

Carlos André Moreira  |  carlos.moreira@zerohora.com.br

Dias de Luta, do jornalista Ricardo Alexandre lançado há uma década, é, até hoje, a mais abrangente crônica da geração que ensinou o Brasil a fazer (e a gostar de) rock.
O livro, esgotado há anos, será republicado neste semestre pela gaúcha Arquipélago Editorial. Para a reedição, com publicação prevista para o início de abril, Alexandre realizou revisões e incluiu uma novidade ao gosto do tempo: uma lista, no fim do livro, de 50 músicas representativas do chamado "BRock" oitentista.

— É um apêndice que tem mais a ver com o mundo de 2013 do que com o mundo de 2002. Talvez alguém reclame que falta uma ou outra música, mas vai fazer sentido com a leitura do livro — diz o autor.

Embora fale de experiências seminais do rock nacional dos anos 1970, como o Vímana, banda que reuniu no mesmo grupo Ritchie, Lulu Santos e Lobão, Dias de Luta concentra sua narrativa temporalmente ao longo da década de 1980. É em termos geográficos que o livro ganha amplitude, recuperando a explosão do rock em várias frentes. Estão lá a Brasília da Turma da Colina, cujo principal expoente foi a Legião Urbana; o Rio de Janeiro de uma geração que se reunia no Circo Voador, palco do primeiro show de sucesso do Paralamas; a São Paulo de um rock experimental e intelectualizado, como o de Júlio Ribeiro e a Gang 90. E, claro, a Porto Alegre de Os Replicantes e da banda tida pelos seus próprios contemporâneos como seu exato oposto, o superpopular Engenheiros do Hawaii.

A primeira edição de Dias de Luta foi lançada no fim de 2002 pela editora DBA. Naquele momento, apenas se desenhava o cenário visto hoje, com o declínio das grandes gravadoras diante da prática dos compartilhamentos na rede. Hoje, o cenário mudou de tal modo que a relação de músicos, público e críticos é completamente outra.

– O Pepe Escobar (crítico musical) de hoje é um menino nerd que senta no fundão e tem um blog. Ainda há os formadores de opinião, mas não na imprensa tradicional – analisa Ricardo Alexandre.

Entrevista

Jornalista musical com 20 anos de carreira, Ricardo Alexandre é hoje diretor de redação da Revista Trip. Por telefone, de São Paulo, ele conversou com ZH sobre a nova edição de Dias de Luta e sobre o cenário musical de hoje.

Zero Hora — Já foram publicadas obras sobre personagens ou grupos específicos da geração roqueira dos anos 1980, mas seu livro ainda é o único a lançar um olhar de conjunto sobre o movimento. Por quê?
Alexandre —
Eu estou muito presente dentro desse cenário para conseguir ter uma avaliação mais distanciada. Acho que o livro se distingue dessas outras obras todas porque sou um observador à distância. Eu não era sequer jornalista na época retratada pelo livro, então consigo ter um olhar de escala muito semelhante ao do leitor comum, pelo menos foi o que pretendi fazer, o que é diferente de todas as biografias e autobiografias publicadas depois do livro. Nesse sentido, ele preserva o interesse do leitor médio, do ouvinte comum, do fã ocasional do rock dos anos 1980.

ZH Hoje, com a multiplicidade dos gêneros, vê-se que alguns integrantes daquela geração roqueira compartilham até mesmo um discurso algo retrógrado de crítica e depreciação do que é feito na contemporaneidade. O rock Brasil envelheceu?
Alexandre
— Acho que aquela geração dos anos 1980, bem como o público, acostumou-se com a música como uma grande comunidade que partilhava uma série de valores, de discursos, de ideias. Essa noção de que a música pop poderia ser uma grande comunidade de centenas de milhares de pessoas foi se esvaziando desde então. O que se tem hoje são pequeníssimas comunidades, muito específicas, e que dificilmente se reúnem. E acho que essa dispersão é que inviabiliza, por exemplo, editar uma revista de música, que precisa de um certo número de leitores congregados com um mínimo de coesão para funcionar. Acredito que venha daí parte desse discurso: "Pô, legal era na minha época". Sim, era legal na sua época porque você conseguia tocar toda noite, conseguia ir nas TVs abertas e vender centenas de milhares de discos. E é um cenário muito diferente.

ZH — Durante anos, houve uma reclamação unânime dos artistas contra as gravadoras. Só que, com a implosão da indústria musical, muitos ainda parecem tatear em busca de um caminho neste momento. É também a sua impressão?
Alexandre —
Acho que sim, e acho que a questão é mais grave. A ideia de que você possa vender seu talento para que um grande empresário pague seu salário é cada vez menos provável, não apenas na música. Acho que não é uma questão dos artistas, mas de todos os profissionais que trabalham com criação, comunicação e entretenimento. E muitos desses artistas já têm mais de 50 anos. Acho pouco provável que esses caras estejam interessados em desbravar tudo outra vez, em inventar uma nova maneira de trabalhar, em botar a música em alguma rede para poder chegar ao seu público e fazer shows menores. Alguns tentam: Lobão, Leoni, mas são exceções. A tendência é de que seja como o Kid Abelha: que se reúna a cada seis anos, faça mais uma turnê comemorativa de data redonda, grave um disco ao vivo, um DVD, um especial para algum canal, lance duas músicas novas e se recolha novamente.

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